31.12.04

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See Ya

29.12.04

O estranho mundo de Giulia

Taí uma coisa que nunca imaginei ver no Quando Isso Virar um Blog: alguém falando bem de (e chamando de gracinha) uma criança. Enfim, dividir a casa tem dessas. Faz parte abrir a mente e deixar novos e variados assuntos surgirem, mostrando que mesmo coisas patéticas como uma criança podem fazer a vida parecer menos pesada e mais alegre. Também tenho de deixar um pouco de lado estes brios adolescentes e entender que nem tudo o que é considerado péssimo por mim significa o mesmo para os outros.

Quem engoliu isso até aqui e não estranhou nada, pode ir embora. Apague o blog do seus Favoritos e adeus.

Giulia, bem-vinda. Em primeiro lugar você não tem culpa se seus pais não foram capazes de perceber que este não é um mundo onde se deve criar uma criança. Seus pais e padrinhos são, com certeza, pessoas maravilhosas, por quem guardo muito respeito e carinho e certamente são muito mais do que apenas bem intencionados em relação a você. Mas acredite no tio Fabricio: isso não vai fazer da sua vida um inferno menor do que a vida de ninguém. Sua vida serve mais de acalento às vidas vazias dos que já estão por aqui do que a sua própria. Pra acalentar sua vida você provavelmente terá filhos.

O fato de eu não gostar de crianças (na verdade hoje acho que gosto menos de quem decide tê-las, do que delas, propriamente) poderia me fazer ser um pouco rude com você, que mal nasceu e já carrega tantas coisas. Mas não é o caso. Não vou ser rude ou tratá-la mal. Na verdade eu apenas gostaria que você nos perdoasse a todos por sermos tão cegos e burros a ponto de termos de fazer de você, uma inocente e bem-vinda criatura, uma esperança num mundo melhor, numa vida melhor. Fazermos de você uma nova chance de fazer as coisas certas, de tentar dar algum sentido pra um existência vazia e apática. Fazer você nascer pra termos a impressão que vivemos, que mudamos, que crescemos e que de alguma forma, somos especiais.

Supra nossos vazios, Giulia. Seja melhor do que nós, elimine nossas frustrações, cumpra nossas vontades, deixe-nos orgulhosos. Somos tão feios e imperfeitos e egoístas e você é tão "linda, linda, linda, linda" que merece dançar e brincar e pular e muitos presentes. Seja nosso maior presente.

E quando tudo isso falhar, torne-se uma de nós. Seria muito rude dizer que senti uma dor gigantesca no peito quando soube que você viria ao mundo? Talvez seja, mas não peço que me perdoe. Guarde este perdão para seus pais. E espero que você seja muito feliz (da mesma forma que eu sou mesmo muito feliz por viver), pois isso vai facilitar as coisas quando você tiver de perdoá-los, como eu já perdoei os meus.

E quando, um dia, você for jogada contra a parede, o suor na testa, o gosto de sangue na boca e toda a inocência for uma imagem envelhecida no fundo da sua mente, pode contar com meu apoio e minhas palavras, que às vezes são duras, mas que insistem em se esquivar das máscaras que volta e meia caem sobre nossos rostos esperançosos e retorcidos.

See Ya

PS: Má, por favor não pense que o texto foi uma reprimenda. Você sempre foi e sempre será livre pra escrever no nosso blog o que bem entender. O fato de às vezes pensarmos de forma tão igual e às vezes de forma tão diferente é que dá graça pra isso tudo.

28.12.04

Bem-vinda, Giulia!!!


Post rapidinho para contar que a Giulia, minha afilhada de que falei no texto "Epifanias", nasceu ontem, dia 27/12/2004, às 06h58 (Capricórnio com ascendente em Capricórnio!), pesando 3,270 kg.

Ela é uma gracinha e está muito bem e saudável. A "tchurma" tá toda muito feliz!

PS: Como não podia deixar de ser, toda a história do meu relacionamento com essa menina tem sido um símbolo atrás do outro -- Giulia nasceu no mesmo dia do aniversário da minha avó Áurea, uma das mulheres mais especiais que já cruzaram a minha existência. Ah: e Feliz Ano Novo pra todo mundo!!!

21.12.04

Legítimas, só Havaianas (mesmo?)

Vamos expandir um aspecto do post de ontem? Depois de escrevê-lo, fiquei pensando nas relações entre pais e filhos e similares. Algo ficou me incomodando lá no fundo, mas eu não localizava o que era.

Então lembrei-me que, há algum tempo, li um trecho de uma carta enviada à colunista da Folha Rosely Sayão que começava assim: "Somos dois adolescentes de 20 e 23 anos...".

Em seguida, me vieram à memória algumas matérias que li, dizendo que os filhos estão demorando cada vez mais para sair da casa dos pais. E, às vezes, não só não saem como ainda trazem o(a) namorado(a) para morar junto -- inclusive com criança na história!

Vamos guardar essas duas informações e acrescentar mais uma. Ontem mesmo, li uma mensagem de um cara que dizia: "neste final de semana eu estava lá na minha chácara no interior...". Pois bem, neste caso sei que a rigor não é sequer uma chácara; e, ainda mais a rigor, o lugar não pertence a ele, e sim, ironicamente, ao padrasto que o sustenta.

E foi aí que caiu a ficha e consegui nomear o que estava me incomodando: a falta de LEGITIMIDADE que parece estar cada vez mais comum e "natural".

Bom, com esses ingredientes, acho que podemos começar nossa alquimia. Afinal, o que é que leva esses marmanjos e marmanjas a ficarem cada vez mais sob as saias dos adultos "consolidados"?

Na minha opinião muito pessoal, acho que é uma combinação de vários fatores -- e dois se destacam especialmente. Um é a necessidade que esses dependentes têm de mostrar status a qualquer custo (vide post anterior), e isso custa dinheiro. E, na maioria dos casos, não sobra tanto dinheiro quando você tem que dar conta da comida, do condomínio e da conta de luz, por exemplo. O outro fator é a frustração que seus pais têm com as próprias vidas, e agora querem "terceirizar" seus desejos para a geração seguinte. Mesmo que, paradoxalmente, morrendo de inveja dela. (Alguém da galera psi falou em projeção?)

Resultado: filhos sem conteúdos próprios e que têm que buscá-los em algum outro lugar. Pais que terceirizam sua felicidade em nome do "sacrifício pelos filhos". E a soma é um bando de gente faltando pedaço e usando coisas que o dinheiro compra para tentar diminuir um pouco sua fome existencial de coisas que o dinheiro não compra. Sabe aqueles anjos do Aleijadinho em Congonhas do Campo? Como o Aleijadinho já estava muito mal naquela época, ele fez os rostos dos anjos, mas os corpos são bolas disformes cobertas com as roupas. Faça as analogias que achar apropriadas...

Portanto, se você é um dos parasitas que estão muito confortáveis vivendo a vida por procuração, um conselho: faça um favor para você próprio, aproveite que é fim de ano, tire já essa bunda da cadeira e descubra que é muito mais gostosa e gratificante a liberdade -- mesmo que seja para fazer as mesmas coisas que você já faz, mas com o sabor incomparável da legitimidade.

Se você está planejando isso, ou pelo menos tem essa intenção, legal. É uma evolução do estágio "orelha-de-pau" (um fungo parasita bem comum na minha terra) para o desenvolvimento e a apropriação de si por si mesmo.

E se você já está aí no mundo dando a cara para bater, ótimo. Muitas vezes é dolorido; tem gente/coisas que enchem o saco; mas a sensação da conquista legítima é inigualável e faz a gente querer cada vez mais. E, no fim das contas, alguém tem que tocar esse mundo adiante, nénão?

PS: Antes que eu seja apedrejado pelos que estão nessa situação por não ter escolha, estou me referindo àqueles que OPTAM pelo caminho mais fácil e oportunista. Eu também fiquei muito tempo sem ter escolha; mas quando você tem um norte na sua vida, as coisas acabam acontecendo. Ou não -- afinal eu não sou o dono da verdade e essas são só minhas opiniões ;-)

20.12.04

1984 (com vinte anos de atraso)

... e o que é pior: voluntário! Acho que nem nos piores sonhos o George Orwell pensaria nisso. Vocês viram a história dos celulares com GPS? Resumidamente, os pais vêm comprando celulares com rastreador para saber com exatidão onde seus filhos estão. E não só os pais: namorados, namoradas, maridos e congêneres também estão nessa. No dia 12 de dezembro rolou uma matéria na Folha de S. Paulo sobre isso.

Bom, vamos ouvir os caras um pouco. O que eles argumentam? Que assim podem "ter mais segurança" ao saber onde os filhos/parceiros estão. Detalhe: se o celular for desligado, ou jogado fora pelos bandidos, não adianta nada. Fica só a ilusão do controle. E tem gente que ainda acha que é bonitinho. A matéria traz o depoimento de uma menina que diz se sentir melhor porque sabe que a mãe está velando por ela o tempo todo. Faça-me o favor!!!

Pensem um pouquinho: do que é que abrimos mão para termos as propaladas benesses da tecnologia? E-mail já virou festa. Sala de bate-papo, então, nem se fala. Orkut tá aí, virando a febre daqueles que estão eternamente "em busca da próxima paquera/ficada". As câmeras digitais daqui a pouco vão ser vendidas em lojas de 1,99. E o Photoshop custa 8 reais em qualquer camelô da Santa Ifigênia.
Vejam, eu seria o último a defender a volta à idade da pedra. Minha área não é tecnologia, mas tenho isso tudo aí em cima e mais um pouco (câmera digital, e-mail, Orkut, MSN Messenger... até ICQ de número baixo), mas onde será que a gente determina que ali é o limite para "abrir as pernas"? Será que sequer determina? Será que a necessidade de status, de ser hype, não custa caro demais? Será que "privacidade" vai logo ser um conceito ultrapassado?

Meu companheiro neste cafofo digital optou por não ter celular. Apesar de eu sempre chamá-lo de índio (heheh), começo a achar que ele está é certíssimo -- e é até por isso que eu vou passar parte das minhas férias longe de computador, celular, televisão e carro. Vamos brincar de dar um tempo? ;-)

Quando eu dependia do dinheiro da minha família para viver, não havia celulares. Mas, olhando em retrospecto, acho que dificilmente eu teria um aparelho moderno ao preço de ser vigiado todo o tempo. Naquela época, celular não tinha. Mas eu já tinha lido 1984. E a perspectiva da tal da Teletela me dava um medo absurdo!

PS: Para quem quiser saber mais sobre o livro 1984, este site é legal -- e, no mínimo, serve para saber que a expressão "Big Brother" não foi invenção da Rede Globo...


15.12.04

Sempre existirá Terraplana

Voava por sobre as matas. Circundava as serras. A uns causava espanto, pois aos olhos trazia folhas em dança frenética. A outros mostrava esperança, pois distraía o sol e deixava a pele descansar de tamanho calor. Ainda a outros levava a liberdade, pois as roupas balançava, os cabelos esvoaçava e o pensamento alimentava.

Pensamentos estes que ela mesma nutria, ela mesma criava e espalhava. Em viagens sem fim por Terraplana, que conhecia como conhecia os rios e cachoeiras, como conhecia os parques e bosques, os aflitos e os enamorados, que conhecia como suas próprias palmas. E ali, naquele dia, fez-se ainda mais forte, fez-se ainda mais alta e ninguém diria que não a viu e que não a percebeu naquele dia. E todos a saudaram, e todos foram às janelas para vê-la passar e rodopiar e dançar e levar tudo a sua volta a dançar com ela.

E crianças na rua brincaram com seus cabelos e braços dançantes. E cachorros nas casas, pois em Terraplana não há cachorros nas ruas, correram atrás de sacolas que ela atirou para eles. E homens deixaram que suas mãos os acariciassem, como num caso de amor que alivia e refresca. E mulheres dançaram ao léu quando ela passou, pois ali viam a mais bonita e empolgante força do dia.

E ninguém sabia explicar, mas todos sabiam que o dia fora único quando a noite caiu. Todos poderiam contar isso gerações adiante, enquanto ela subia, se afastando e se deixando arrefecer depois de tanto comemorar. Numa praia graciosa foi descansar e sobre as pedras e sob pontes foi correr, lembrando o porque daquilo tudo. E lembrou-se de quando nasceu e de quanto havia passado até ali. Há muito havia escolhido Terraplana como sua casa e santuário. E ali plantou tantas maravilhas e carregou tantas palavras e tantos orvalhos e tantas outras coisas, que até mesmo seu nome esqueceram. E até esqueceram de onde ela viera e que era um Anjo. E então a chamaram de brisa. E brisa foi. E brisa continuou sendo, e sendo brisa comemorava.

Pois era aniversário da Brisa.

See Ya

PS: parabéns Hérica. Parabéns pra você que é rocha, mas que também é brisa. E obrigado por me dar a certeza de que grandes amizades nada tem a ver com distância ou tempo.

9.12.04

Interferência

O mundo foi feito para ser provado em seu estado real? O Princípio da Incerteza de Heisenberg previu na física quântica o que a vida põe a frente de nossos olhos todos os dias: quando mais informação se obtem de um fato, de um momento, de um estado, maior é a incerteza dos dados ou, trocando em miudos, quanto mais sabemos de uma coisa, mais interferimos nela, e por isso sabemos de forma mais imprecisa, incerta.

Uma vez que tenhamos lançado um simples olhar sobre a realidade, mesmo que de forma introspectiva e pessoal, já a modificamos, ainda que no espectro introspectivo e pessoal (obviamente). E quando geramos conhecimento a partir da realidade observada (e modificada) geramos apenas uma máscara da realidade moldada por nossas percepções e vontades, que também será modificada pelo outro quando este observar a ersão da realidade criada por você. Extrapole isso para um grupo maior de pessoas, digamos 6 bilhões, e inclua nisso mecanismos de comunicação em massa, padronização e rotulação da opinião e acúmulo cultural e conceitual de uma civilização que já dura pelo menos 10 mil anos, e duvido que algum computador atual ou futuro possa definir a quantidade de mundos que habitam nossa auto-entitulada realidade.

E procurando aumentar ainda mais esse número, eu questiono vocês e a mim mesmo: é possível observar, medir, enxergar, inferir ou determinar o que é a Primeira Realidade, ou a realidade original. Ou melhor, é possível saber o que é a Segunda realidade (ou seja, a Primeira Realidade modificada) e dessa forma conseguir determinar o que é a Primeira Realidade?

See Ya

PS: o texto acima é o início da discussão Interferência que comecei no Orkut, dentro de uma nova e promissora comunidade. Criada por um grande amigo para gerar paradoxos reais e irreais e tentar sustentar que o que chamamos de realidade não passa de um amontoado de ilusões, a comunidade Illusions promete ser um bom centro de discussões filosóficas e viajantes. Participem.

7.12.04

Impercílio
(da série "O Surreal da Vida Real")

Você sabe o que é a palavra aí em cima? Não? Pois é, eu também não sabia.

Acontece que o site do lugar em que trabalho recebe uma quantidade razoável de pedidos de informação todo dia. Chegam as coisas mais estranhas, mas esse eu achei que valia a pena compartilhar. A única edição foi para preservar nomes de pessoas e instituições; e os grifos são meus. O resto está ipsis litteris. Vejam só:

Bom dia. Sou estudante de jornalismo da Universidade Nonono e gostaria de fazer o curso de inglês no exterior atravéz da Nonono. Tenho familiares nos Estados Unidos, portando a hospedagem não seria o impercílio.Gostaria de saber se a escola tem este tipo de serviço aoferecer.Se tiver porfavor enviem-me um E-mail dizendo sobre os planos, forma de pagamento e o que mais for necessário.Necessito com urgência,portanto aguardo anciosamente. Desde já muito obrigada.

Sacou agora o que é impercílio? Muito beeeeem, Pequeno Gafanhoto!!! Eu até hoje me espanto com a criatividade de certos erros. Coisa do tipo "atravéz" e "anciosamente" já perderam a graça -- mas o tal do "impercílio" foi campeão!

Ironia final: a pessoa é estudante de Jornalismo, senhoras e senhores!!! No limite, de onde é mesmo que vêm as notícias/informações que a gente recebe?

6.12.04

Nada

Talvez o nada te descreva, ou seja só uma forma de ficar bêbado sem sentir o gosto do álcool na boca. É difícil brincar de polícia e ladrão com armas de verdade.

Você não sente mais, mas não se importa. Porque se importar seria sentir demais, e você não sente mais nada. Lembra da sensação, lembra do ritmo e de como era fácil apontar para o culpado e atirar. Mas agora o culpado é você e não há balas na agulha.

Culpe o sistema e culpe seu chefe. Culpe sua mãe e culpe seus filhos. Culpe sua esposa e culpe aquela vagabunda do escritório que você gostaria de comer. Culpe o dinheiro e culpe o governo Lula. Culpe Deus e culpe a sua idade. Mas você alimenta o inimigo quando almoça. Olha-o nos olhos quando se encontra no espelho.

Ser você mesmo ficou caro demais, e se vender ficou muito mais barato. É um mercado em ascensão e você tem budgets otimistas. Você valoriza sua alma vendida porque esqueceu o que sua mente pensaria sobre você. A opinião do outro é mais importante agora. Você se anulou e diz que nada mais rende como antes. É matemática: zero vezes qualquer número ainda é zero.

Reaja, seu bosta! Vai acabar, se já não está, com aquela arma sem balas apontada para a própria cabeça. Um gesto tão significativo quanto acenar para um astronauta boiando no espaço. E quando apertar o gatilho e nada acontecer, mais uma vez o nada te definirá. Volte ao topo e recomece a leitura, só pare quando tiver algo no cano e um alvo melhor que sua cabeça vazia para apontar.

See Ya

5.12.04

Samwaad - Rua do Encontro

Em julho deste ano fui ver uma apresentação de dança no SESC Belenzinho. Naquela época "pré-Quando Isso", escrevi um texto sobre a experiência em uma lista de discussão. Agora o trabalho está de volta, desta vez no SESC Pinheiros, então resolvi recuperar o texto, caso vocês se interessem.

***************

No domingo à noite fui ver um espetáculo de dança chamado "Samwaad - Rua do Encontro" no SESC Belenzinho. Como vários de vocês já sabem, não sou exatamente um dos dez maiores entusiastas de dança, especialmente dança moderna. No entanto, essa experiência foi tão rica em símbolos que resolvi compartilhar minhas percepções com vocês.

Resumidamente, são cerca de 50 jovens, provenientes de ONGs e reunidos pelo coreógrafo Ivaldo Bertazzo, que dançam ao som de um "diálogo" entre ritmos brasileiros e indianos. A música tem bastante percussão e é o que dá o tom do espetáculo. O palco é o chão liso com arquibancadas ao fundo. A iluminação é simples e bem-feita. E só. O resto fica por conta da expressividade dos dançarinos.

Quase todas as coreografias (e são várias durante a hora e meia de duração) têm a participação de todos os bailarinos, em movimentos conjuntos em que cada um depende do outro. Além dessa harmonia entre eles, os músicos também têm participação ativa, interagindo com a música mecânica e com os próprios dançarinos. Outra característica que me chamou a atenção foi o sorriso genuíno no rosto de cada um, o visível orgulho que sentiam do seu trabalho e a energia e o suor (literal) dedicados a ele. Foi contagiante.

Bem, feita a descrição, o que quero realmente comentar com vocês é como me senti quando vi todos aqueles jovens fazendo -- pelo menos naquele momento -- exatamente o contrário do que o senso-comum coloca como"veredito" para eles: a permanência à mal-definida "margem da sociedade".

Então fiquei pensando sobre o que me contagiou. Não foram só os movimentos perfeitos (mesmo porque não o eram sempre) ou a música (inclusive porque nãoé meu estilo favorito), mas a simbologia e a importância do coletivo. Não havia "a estrela" ou "o solista", mas grupos de pessoas que tinham um objetivo juntas, em conjunto -- mas sem desrespeito à individualidade. Aliás, como exemplo, durante a ovação final cada um fazia o agradecimento à sua maneira particular e individual, o que também foi muito bonito. Ah, e o Ivaldo Bertazzo nem sequer apareceu no palco, deixando claro que ele também não é "a estrela" (mais uma vez o simbólico...).

Concluo com uma última visão pessoal: acho que, se existe algum caminho para melhorarmos um pouco esse mundo doente, ele está no coletivo. Vejam, não me refiro a massificação ou uniformidade, mas ao coletivo efetivamente; aquele que se faz da interação entre as diversas individualidades com respeito, troca, aprendizagem, afeto e alegria. Pode ser meu lado Polyanna que insiste em emergir, mas são momentos como esse que me fazem recuperar um pouco da --combalida -- fé nessa tal de raça humana...

30.11.04

Guess who's back

Voltei. Não deveria ter voltado, mas voltei. Ainda não era hora de retomar o blog, mas retomei. E que se dane.

Isso aqui tava uma bagunça tremenda, mas melhorou um pouquinho. Pelo menos a mosca voltou. E aguardem novidades: eu e meu blogmate (vulgo, Marcelo) estamos juntando idéias pra modificações no blog. Fiquem atentos.

Fora isso, tenho milhões de coisas pra contar e escrever. Agradeço a paciência de vocês com o desleixo com que eu tava levando o blog e pelos 17 dias sem posts. Faz muito tempo que eu não pedia desculpas por demora e achei que agora, principalmente agora que descobri um pouco do tamanho da diferença que faço nos pensamentos de algumas pessoas, seria um momento adequado.

Pra comemorar o retorno, relato aqui um texto da série: Coisas que eu ouço na hora do almoço.

- Segunda feira deveria ser dia de folga.
- Concordo plenamente. Lembra daquela semana em que tivemos feriado na segunda feira? Então, na terça eu estava mais disposta só por ter ficado a segunda feira em casa. No domingo eu pensei: 'posso assistir o Fantástico inteiro, pois não vou trabalhar amanhã'.

Propenso a uma congestão cerebral, lembrei de um grande amigo meu que diz algo diante de citações como esta: NOSSA, QUE LEGAL!!!!!. Por isso vou transformar minha TV num aquário, e meus domingos em dias fantásticos.

See Ya

PS: Guess who's back. Back again. Fabricio is back. Tell a friend!!

25.11.04

Epifanias

A notícia já não é nova, mas permanece especial: fui convidado para ser padrinho da Giulia, a primeira filha dos meus amigos Dani e Eric que vai chegar logo, logo; inclusive o chá-de-bebê foi no sábado passado. Inicialmente diziam que ela nasceria no começo de janeiro, mas algo me diz que essa menina não vai querer perder o movimento do final de ano...


Em primeiro lugar, fiquei muito honrado com o convite -- e sei que falo também em nome da minha "sócia" na afilhada, a Silvia. Isso porque não há aqui laços de parentesco que tenham que ser contemplados ou "obrigações" que tenham que ser pagas. Ou seja, é por afeto e pronto.

A outra coisa, de um simbolismo acachapante (lá vamos nós...), tem a ver com o tal do gasto, roto, esfarrapado e utópico "para sempre". Recebi o convite pouco tempo depois de escrever aquele post doente de tão amargo chamado "Um Ano". Quem leu deve se lembrar. Pois bem, aquela história toda me deixou meio descrente de que algo pode durar para sempre -- ou, pelo menos, durar muito. Devido inclusive à minha história familiar, sempre fui meio cético com essas coisas longevas, mas aquela me pareceu uma situação em que o imponderável usa de seus meios para nos fazer reconsiderar algo. A princípio achei que fosse o caso, portanto resolvi abdicar do ceticismo e dar uma chance ao tal do para sempre. Com a sujeira toda, dancei (c.q.d.) e ensaiei uma volta ao "skeptical-mode".

Só que aí surgiu esse lance da Giulia, que, convenhamos, é uma responsabilidade e tanto (para quem leva a coisa a sério). E conceitualmente é para sempre. E ainda veio justo de quem veio. Simbólico desde a raiz...

Então tive a -- tardia, mas válida -- epifania de que a gente tem vários "para sempres" a considerar. Uns duram mais, outros duram menos, outros sequer começam. A questão é ter a sensibilidade, ou a complacência, de deixar virem e estabelecer os laços certos. Enfim, estou muito feliz com essa história toda. E, claro, me sentindo mais velho um pouquinho, afinal, isso é muito "adulto", nénão? ;-)


Dani e Eric, meus novos compadres, obrigado mais uma vez pelo convite. E Silvia, ter você como companheira nessa "missão" me deixa muito tranqüilo e satisfeito.

PS 1: Esse post é também dedicado ao Pedro, meu primeiro e lindo afilhado que mês que vem completa dois anos. Pedro e suas irmãs são presentes que ganhei de uma amiga muito especial. Aliás, amiga não: a irmã querida que não nasceu dos meus pais mas o destino garantiu que convivêssemos.


PS 2: E falando em epifanias, em suas férias o meu "blogmate" Fabricio teve uma sobre o alcance que um blog -- ou melhor, este blog -- pode ter na vida das pessoas. Mas não vou sacanear com o rapaz. Deixa ele contar os detalhes ;-). Logo ele estará de volta com seus textos inconfundíveis (ouço alguns "graças a Deus"? heheh).

PS 3: Pronto, Vanessa, tem post novo. Tá feliz agora? Até que o Fabricio me deixou a casa livre para dar umas festinhas, mas andei meio devagar...

PS 4: Daqui a pouco o PS vai ficar ainda mais longo que o texto. Parece o blog de um certo amigo meu (né, Celso? Aproveitando: boa sorte no domingo!)

PS 5: Fim :-)



8.11.04

O Ressurreto

Pois conheci as profundezas e aprendi que eram minhas próprias profundezas que eu visitava.
Pois não há Deus ou Diabo além de você mesmo.
Pois não há vida ou sentido a não ser aqueles que você mesmo constrói.
E posto que tudo que há de sagrado está ligado a Deus ou ao Diabo, não há nada mais sagrado do que conhecer a si próprio e aprender todos os limites que qdeixamos nos vencer simplesmente por acreditarmos que o limite existia.

Morri. E desci ao inferno. De dentro de um corredor escuro, silencioso e vazio, ressuscitei. E ressurreto, entendi enfim o que havia odorrido. Na verdade não me deixaram ficar por lá. O próprio Capeta veio bater um papo comigo: "Filho", ele disse, "tenho duas coisas pra te dizer: você deve ser uma pessoa melhor de agora em diante. Não quero saber de te ver aqui de novo". Eu seria muito arrogante em dizer que ele disse isso com medo... o cara é o Diabo, né?

Aí continuou: "E a segunda coisa é que com a reeleição do Bush isso aqui não tem a mesma graça. Lá na Terra tá bem mais infernal."

Mas depois ele me disse que é Republicano, no fundo. Ainda falou da recente invasão de jogadores de futebol... É cada semana um... o Pazuzu, um demônio gente boa de lá, comentou que vão ampliar o estádio local.

E falando em local, o lugar é lindo. Aquele papo de piras, gente queimando em gordura fervente é intriga da oposição. Infra-estrutura impecável. Já trabalhei em lugares bem piores. A ala para evangélicos é perfeita: distribuem bíblias na porta. Ouvi dizer que nessas bíblias as referências a Deus vem grifadas, que é pra todo mundo lá lembrar como é "bondoso" o Grande Pai. Sei lá, o Capeta nem parece guardar rancor.

Mas aí ele não quis mesmo que eu ficasse. Disse que a praga de mestres e jogadores de RPG também está infernal e eles não tem mesas pra todo mundo.

Morri num domingo chuvoso e acordei sob o sol da segunda feira.

É bom estar de volta.

See Ya All

4.11.04

FABRICIO VAI MORRER NO DOMINGO

Bom, segundo as ultimas previsões e predições eu vou morrer neste domingo, dia 07/11. Não sei a hora, obviamente, mas se você quer garantir uma segunda feira de folga, vai poder ir no velório e posterior cremação. Contudo, já devem anotar que no dia 14 deve ocorrer a missa de sétimo dia, sem meu consentimento, obviamente... hehehehe

Mais detalhes vocês podem obter com a minha família e amigos, depois do ocorrido, ou se tiverem muita pressa, podem me escrever. Se eu ainda estiver vivo, eu respondo. =)

Foi bom conhecer a maioria de vcs. =)

See Ya

PS: ahh se alguém quiser deixar alguma mensagem pra algum falecido que esteja no céu, esquece. Meu caminho passa loooonge de lá. =)

28.10.04

"Enobrece o homem"?


*** ATENÇÃO: Assim como às vezes pinta post pra baixo, de vez em quando também rola texto Polyanna. Este é o caso. Se você não está a fim... bom... you know the drill ;-) ***


Freqüentemente leio certas coisas e fico traçando paralelos com a minha vida. (Grande novidade, todo mundo faz isso. Dããã!) Faz um tempinho, li uma coluna das divertidíssimas meninas do 02 Neurônio no Folhateen em que elas falavam sobre trampo em escritório e o confinamento que isso significa.

Aí fiquei pensando no meu trabalho. Sendo originalmente professor, passei vários anos na sala de aula. E, já há outros tantos, estou durante a maior parte do tempo dentro de um escritório, com mesa, telefone, computador e tudo o mais. Mas a diferença entre a minha percepção e o que elas descrevem é que eu não me sinto confinado (nem freqüento restaurante por quilo em grupinhos falando mal do chefe heheh). Muito pelo contrário: gosto de estar lá.

Essa é uma área da minha vida em que tenho bastante sorte. Faço o que gosto, onde gosto e com quem gosto -- e isso há um booom tempo. Trabalho com educação, com professores, coordenadores, etc, o que é minha opção. Meu escritório não fica em um daqueles prédios sofisticadíssimos da Berrini que parecem cofres, mas da minha janela vejo árvores em três tons de verde e obras de arte para todo lado (em plena Av. Nove de Julho). E, sobretudo, convivo com pessoas com quem compartilho não só um trabalho legal, mas as conquistas, as frustrações, as coisinhas pequenas do cotidiano, o mecânico, o cortineiro, os planos, as idéias, a história e as gargalhadas genuínas. Como diz uma delas: "o trabalho é o esperado, mas a amizade é bônus".

Nosso cotidiano juntos não é só a definição de um projeto. É a escolha do nome do bebê que vem por aí. Não é só a reunião. É o convite para a celebração das Bodas de Prata (!). Não é só uma viagem de negócios, é o almoço regado a risadas e filosofia de boteco entre uma parte e outra do dia. Tenho o prazer de conviver com pessoas que, hoje ou ontem, aqui em S. Paulo ou da Bahia ao Rio Grande do Sul, passando pelo Rio de Janeiro e Santa Catarina (viva a tecnologia!), me desafiam, me fazem exercitar a massa cinzenta, acolhem meu mau-humor, dão risada comigo e comungam de boa parte do meu jeito de estar no mundo.

Agora, calma lá: isso não quer dizer que não haja problemas, chateações, brigas, saco cheio. Tem trabalho demais? Tem. E, meu Deus, como! Tem grana de menos e gente de menos? Tem também. Tem gente que sacaneia? De vez em quando tem -- mas essas acabam indo embora, felizmente. Tem computador que pifa? Impressora que come papel? Tem tudo isso. Mas o saldo é bem positivo. Não só por causa do que mencionei lá em cima, mas também porque acreditamos no que fazemos, em como o fazemos e nos valores que sustentam isso.

Durante algum tempo fiquei pensando se isso não era o "jogo do contente" que eu usava para esconder que eu era bundão e não tinha peito para procurar outras paragens. Mas, depois de passar por vários desafios dentro do mesmo lugar, concluí que é por vontade, mesmo. Primeiro, porque conheço o valor e o potencial do meu trabalho. Depois, e sobretudo, porque há um limite para o quanto você consegue enganar a si mesmo sobre um lugar onde passa mais de um terço dos seus dias durante anos e anos.

Bom, depois dessa ode toda, o contraponto: sei que o meu caso não é um dos mais comuns. Muita gente trabalha sob níveis desumanos de estresse, não faz exatamente o que gosta e lida com situações além do suportável (vide meu companheiro de blog heheh). Mas, se eu puder dar uma dica -- tão óbvia quanto pouco realizada -- é procurar fazer algo que dá prazer. Não só no trabalho, mas também fora dele. Um trabalho voluntário, um blog para escrever, um esporte legal, um filho que encha os olhos e o coração, uma viagem acalentada, sei lá. Invente o seu ;-)

O que não dá é para se deixar consumir pelo trabalho como se ele fosse um daqueles espremedores de laranja que só deixam o bagaço depois. E isso é "facinho, facinho" de acontecer. Mesmo eu, que adoro o que faço, tenho outras atividades para não ficar oco sem ele. Se não, quando você vê, sua vida foi detonada pelo trabalho e não sobrou mais nada. Lembre-se que, cedo ou tarde, ele vai e você fica. Quer ficar como?


25.10.04

Alternativa E: todas as anteriores


Li no dia sete uma coluna do Contardo Calligaris (ele de novo) na Folha de S.Paulo cujo título é "A cura da homossexualidade". Basicamente, o texto fala sobre um projeto de lei que será votado na Assembléia Legislativa do estado do Rio de Janeiro e que autoriza o uso de dinheiro público para financiar quem se dispuser a "converter" homossexuais em heterossexuais.

Mais um ingrediente nessa receita: na semana que vem tem eleições para presidente nos Estados Unidos. Indiretas, a rigor, na autoproclamada "maior democracia do mundo" (mas isso é outra discussão). Lá, depois da guerra do Iraque, as principais discussões são a autorização para abortar e o chamado "casamento gay".

Aí fiquei aqui pensando sobre a questão das escolhas. E a liberdade que temos (ou achamos que temos) para fazê-las.

No caso dos EUA, tenho um casal de amigos que vai "votar" no Bush Jr. exclusivamente porque ele é pro-life (contra o aborto), em oposição ao Kerry, que é pro-choice (a favor da escolha sobre abortar ou não).

No Rio, dizem que o projeto fluminense não é preconceituoso porque é só para aqueles que voluntariamente quiserem "se curar" -- a não ser que sejam menores de idade, porque aí é decisão dos pais. Leiam a coluna que vocês vão saber os detalhes sórdidos.

Mas divago. Vamos voltar à discussão principal. Será que realmente escolhemos o que achamos que escolhemos? Será que diversas opções que nos enchem o peito de orgulho e nos fazem sentir autônomos e únicos não são simplesmente nossa maneira de obedecer ao que nos cerca desde sempre? Será que nossa escolha de sair da casa dos pais (ou ir ficando nela), de casar, de mudar de emprego, disso e daquilo não são só vontades pré-programadas a que nos curvamos sem nem saber?

Quando estamos cercados por qualquer contexto, aquilo que o forma nos parece natural, "normal", não é mesmo? E nossas opções partem dessa base, não é assim? Então, como fica a tão-falada individualidade que tentam nos vender em propaganda de carro? Onde ficam as vontades realmente nossas (como essas que o Fabricio coloca aí embaixo)? Tenho cá minhas dúvidas se sequer existem -- ou resolvem.

Bom, esse post não pretende chegar a lugar nenhum. Mas proponho uma reflexão: Que vontades suas são realmente suas? O que você realmente quer ou, no fundo, querem que você queira? Será que esse seu celular foi desejo seu? Será que aquele consórcio vale o preço que você paga? Será que a música que você gosta, o filme que você está a fim de ver, a "mina" que você quer "pegar", têm realmente a ver com você? Melhor: será que conseguimos saber onde termina a gente/indivíduo e onde começa a gente/coletivo? Sei lá...

Ah, e antes que me acusem de ficar em cima do muro sobre os assuntos lá em cima, tenho minhas opiniões, ou pelo menos acredito que sejam minhas :-). Quanto ao homossexualismo, tenho cá comigo que o que duas ou mais pessoas fazem na cama (ou "nas quatro linhas", como diz uma amiga), desde que consensual, é uma questão delas e pronto. Pessoalmente, no entanto, o lifestyle da parcela maior -- ou mais visível, pelo menos -- da comunidade gay, que se apóia na tríade superficialidade/promiscuidade/futilidade, me incomoda um pouco. Mas não me parece que dinheiro público seja para dar conta disso. E sou, a princípio, contra o aborto, apesar de várias dúvidas.


Agora, em um ou outro caso, adapto para aqui aquela fala já rota e gasta do Voltaire: "mesmo que não concorde com uma palavra sequer do que dizeis, defenderei até a morte o vosso direito de dizê-las". Caso contrário, não teremos escolha a não ser a de permanecer escravos incontestes do senso-comum para o resto de nossas vidinhas meRdíocres!

21.10.04

no fun at all...

sei lá...
quero sair...
arrumar briga...
beber até cair...
tomar água de chuva...
beijar um amigo na boca...
chutar uma porta de ferro...
sentar numa escada rolante...
jogar vinho na sarjeta suja...
comprar dúzias de camisinhas...
contar o tempo de um semáforo...
botar fogo em um lençol branco...
ficar com a mina do cara grandão...
desenhar a noite estampada nos meus olhos...
ficar esperando uma lâmpada de mercúrio piscar pra mim...
gritar com a cabeça dentro de um bueiro...
me cortar e ver o sangue pingar...
cantar Bowie e vender o mundo...
fuçar num saco de lixo cheio...
dar o desenho a um mendigo...
pular numa poça d'água...
quebrar uma garrafa...
correr de madrugada...
rir por quase nada...
dormir ao relento...
e se não resolver...
foda-se...

See Ya

14.10.04

O Louco, a Bruxa e o Príncipe: a parábola da humanidade

Certa vez eu voltava do trabalho, a pé, e ao passar em frente a uma rua sem saída vi um rapaz jovem, acompanhado de uma mulher, saindo da rua, com caras estranhas, olhando para trás. A mulher parecia chorar, ou falar com voz de choro, baixo. E de repente, do fundo da rua, de dentro de uma oficina mecânica, saiu um senhor já de meia idade, com roupas de mecânico. Mas só reparei que era uma pessoa por que tinha compleição física de humano, pois seu rosto de barba mal feita estava deformado e transtornado de forma que a própria mãe não o reconheceria.

"SEU COOOOORNO!!!", gritava ele para o rapaz, numa voz embargada de ódio e choro. Tentando se fazer ouvir em alto volume, tornavam-se quase incompreensíveis as palavras ditas por ele. Urros, na verdade.

O rapaz ameaçou voltar, tomando certa posição de luta, que alguns de vocês já devem ter visto em documentários do Discovery Channel.

"Nãaãooo!!", gritou a mulher. O rapaz retrocedeu. O velho avançou.

"VEM AQUI SEU FILHO DA PUTA... VÂMO SE ATRACAR AQUI NESSA RUA E VÂMO SE ACABAR AGORA MESMO!!!". Era uma súplica. O homem, desesperado seja lá com o que fosse, deixou todo seu sentimento explodir numa ira sem fim, se colocando a disposição da morte, ou de uma boa surra, para tentar solucionar o que o atormentava.

O rapaz e a mulher deixaram a rua, o homem ficou de joelhos, urrando em desespero e chorando.

O louco.

Hoje eu estava indo para o trabalho, na lotação, e uma mulher alta, com seus 40 e poucos anos, entrou. Se vestia com calça jeans e uma blusinha. Tamanco e cinto vermelhos, para combinar. Bateu boca com o cobrador. Nem sei porque. Passou pela catraca.

"Olha, nem vou começar a brigar agora, porque se não vou parar a lotação. Eu já parei muita lotação brigando."

E o cobrador, todo debochado. "Sei."

"Vai todo mundo parar na delegacia!!!! Tá duvidando?"

"É, vai sim."

A mulher não moveu uma linha de expressão. Com a voz baixa, apenas falou, retumbante. "Vocês vão perder essa lotação. Marta vai ganhar e vocês vão ficar sem a lotação. Vão capotar."

Nasceu e cresceu o silêncio na lotação, mas em seguida tudo voltou ao normal. Logo adiante a mulher desceu, silenciosa, como que conhecendo os meandros da maldição que havia rogado.

A bruxa.

"Nasce daí uma questão: se é melhor ser amado que temido ou o contrário. A resposta é de que seria necessário ser uma coisa e outra; mas, como é difícil reuni-las, em tendo que faltar uma das duas é muito mais seguro ser temido do que amado. Isso porque dos homens pode-se dizer, geralmente, que são ingratos, volúveis, simuladores, tementes do perigo, ambiciosos de ganho; e, enquanto lhes fizeres bem, são todos teus, oferecem-te o próprio sangue, os bens, a vida, os filhos, desde que, como se disse acima, a necessidade esteja longe de ti; quando esta se avizinha, porém, revoltam-se."

Nicolau Maquiavel, "O Príncipe".

See Ya

11.10.04

Homens que aprenderam a voar

Milhões de conexões por segundo. Cada olhar, cada movimento, cada entrada e saída de ar, cada batimento cardíaco. Tudo sincronizado, funcionando de forma uníssona e perfeita. Bem, perfeita, não! Mas aceitável. Este é você. Esta é sua vida. Você precisa de toda essa massa cerebral pra sustentar uma vidinha medíocre e sem sentido.

Você se prepara para o pior? Tem um bom seguro de vida? Previdência privada? Talvez você faça muitos exercícios e consulte o dentista regularmente. Talvez pague um asilo para seus pais para que Deus veja como você é bom e te dê um fim digno e tranquilo. Talvez tenha feito duas faculdades, MBA, pós, mestrado, doutorado e todo o resto para ter uma chance melhor de ter um bom emprego e quem sabe também ser digno de um fim morno e tranquilo.

Mas de repente acontece e você simplesmente perde parte ou boa parte daquela massa cinza que você guarda na cabeça e nem sabe direito como utilizar, mas que no fundo te mantém vivo e ignorante. Num dia você é um ator rico e famoso andando a cavalo, no outro, um vegetal plantado num vaso de lençóis limpos. Num dia você é um cantor aclamado voando num ultraleve e no outro você é viúvo e não consegue andar ou lembrar se alguem limpou sua bunda depois que você foi ao banheiro.

Você vai ter de aprender a viver com o fracasso eterno, com a impossibilidade e com as limitações. E tudo aquilo que você cultivou (a não ser pelo dinheiro, não sejamos hipócritas!!) não pode fazer nada por você. Contudo, é na mesma massa cinzenta que se encontram as respostas certas para você. Se você não usou seu cérebro apenas para separar suas orelhas, se processou com afinco e dedicação as informações devoradas por seus neurônios, se questionou o que ouvia e aprendia, se forçou seu cérebro a criar ao invés de copiar e simplesmente ver o que os outros cérebros criavam, você certamente irá entender estas duas palavras e como elas podem salvar sua vida: plasticidade neuronal.

Seu cérebro pode reaprender como fazer praticamente tudo que você fazia antes. Você recuperará funções que estariam perdidas para sempre. Mas isso vai depender do alimento que você deu para sua mente. Portanto, deixe sua preguiça mental de lado. Existem pessoas por aí que fazem, com metade do cérebro, o que você não faria se tivesse dois inteirinhos. Nunca é o bastante e você nunca deve parar de procurar usos para seus pensamentos. Não se castre, não se deixe castrar. Entenda que você é tudo aquilo que se passa em sua cabeça e que se você não der ouvidos ao seu cérebro frequentemente, você vai morrer e apodrecer muito antes de seu coração parar. Se você tem o grande poder de suprimir pensamentos e sensações, saiba que você está involuindo. Não tenha filhos e, por favor, levante essa bunda da cadeira e tire esses olhos deste texto e vá arranjar comida para o seu pensamento.

See Ya

PS: este post é dedicado a Herbert Vianna e Christopher Reeve (que morreu ontem, dia 10/10): dois dos melhores cérebros já criados e bem alimentados do planeta.

6.10.04

Um ano


*** ATENÇÃO: Este é um post-desabafo longo, chato e "pra baixo". Se quiser ler algo instigante e divertido, favor dirigir-se ao guichê ao lado. Obrigado :-) ***


Atingido pelo veneno, e já começando a afundar, o sapo voltou-se para o escorpião em suas costas e perguntou: "Por quê? Por quê?" E o escorpião respondeu: "Por que sou um escorpião, e essa é a minha natureza."


Ontem, 5 de outubro de 2004, fez exatamente um ano que passei pela mais cruel experiência afetiva da minha vida nesses trinta e poucos anos. (Eu tenho esse dom/maldição que me acompanha: dificilmente me esqueço de uma data significativa.)

Há um ano descobri, por caminhos tortuosos, que alguém em quem eu depositava absoluta confiança me sacaneou da pior forma possível: a mentira. O engano. O engodo. A traição. A dor foi de tal intensidade e amargura que superou a da morte de uma pessoa que era muito íntima e amada, até então minha pior lembrança.

O mais grave é que era alguém cuja amizade e proximidade eu valorizava como pouca coisa nesse mundo. Alguém cuja lealdade eu tinha como inquestionável. Uma companhia com que eu contava em todas as horas e situações. E isso é o que mais machuca. Ao tomar pelo "valor de face" tudo o que me era dito, acabei sendo pego desarmado. Indefeso. Confiante. De portas e alma abertas. Nu. E, honestamente, eu não merecia. Talvez tenha sido a minha passagem definitiva ao mundo dos adultos ao perder a ingenuidade da confiança incondicional, sei lá, mas eu não merecia.

A questão é que, feliz ou infelizmente, tive a sorte de ter uma família isenta de filhos-da-puta. Com vários outros problemas, mas não esse. No lugar onde trabalho há anos também não tive experiências desse tipo. Muito pelo contrário: convivo com pessoas que são grandes amigas e companheiras. Portanto, eu não tinha aprendido como lidar com gente assim. Claro que houve várias situações de "tapete puxado", mas nunca -- nunca -- de alguém realmente íntimo e com livre trânsito pela minha vida. Até um ano atrás.

Mas não há de ser nada, não. A gente junta os cacos e parte para a próxima, dessa vez com mais cuidado. E há o poder libertador das palavras, que também contribui. Na época, ouvi, ao telefone, de uma pessoa bem próxima a nós: "criei um monstro". Só o fato de ter sido nomeado já me ajudou a colocar as coisas em perspectiva.

Mestre Jung nos fala sobre buscarmos o "tesouro da sombra"; ou seja, nada é tão ruim que não traga em si algo de bom. Neste caso, e em vários outros, sinto que o tesouro da sombra é o que se aprende. E o que aprendi foi a estar mais atento aos sinais de que o mau-caráter está instalado ali. Eles sempre existem, é só prestar atenção direito e não ficar se enganando.

Enfim, ontem fez um ano que tudo isso caiu no meu colo para eu lidar. Um ano, Deus meu, um ano. E ainda dói...


PS: E, falando em sacanagem, no final de semana passado roubaram uma placa de bronze do lugar onde trabalho, que existia desde a fundação em 1950. Ela ficava na fachada -- que teve várias alterações nesse tempo todo, mas a placa sempre esteve ali, como símbolo e testemunha dos 54 anos tentando fazer desse mundo um lugar melhor. Agora vem um qualquer e leva-a para derreter. O seguro provavelmente vai pagar o valor do bronze de que a peça era feita. Mas quem paga o simbolismo que foi com ela? Quem paga a nossa história? Aliás, dá para pôr preço em algo assim? Resumo da ópera: esse mundo tá cheio de "feladaputa"!

4.10.04

O Rio de Janeiro continua lindo (apesar de tudo)

Fui passar o final de semana no Rio de Janeiro. Ipanema estava uma delícia, o sol estava ótimo, a praia estava perfeita e a beleza daquela terra estava a de sempre.


Mas o que quero compartilhar é outra coisa. No início da noite de sábado fui ver um filme chamado A Dona da História, com a sempre expressiva Marieta Severo, além da Débora Falabella, Rodrigo Santoro, Antonio Fagundes e mais uma galera aí. O filme é bem legalzinho, diferentemente de Olga (ugh!) faz o que se propõe a fazer -- ser uma comédia romântica despretensiosa --, a trilha é legal, a produção é bem-feita e o roteiro "fala" com públicos diferentes. E curti caminhar pelas locações depois de sair do cinema :-)

E é especificamente sobre o roteiro e seu impacto que eu quero falar. A história é, basicamente, um balanço que a personagem da Marieta Severo, Carolina, faz aos 50 anos, 32 de casada, quatro filhos. Acontece que, durante essas reflexões, ela se encontra consigo mesma aos 18 anos (Débora Falabella). E aí elas (Carolina jovem e Carolina adulta) começam a conversar sobre como as coisas poderiam ter tomado outros rumos, e algumas possibilidades são mostradas.

Isso me deixou pensando. Não poucas vezes acontece comigo de devanear: "E se tal e tal (não) tivesse acontecido?". O fato é que eu, que já não tenho 18 anos há quase outros tantos, fiquei imaginando como teria sido minha vida até aqui se algumas coisas significativas tivessem sido diferentes. E quer saber? Foi gostoso. Foi legal. Apesar de o lugar-comum sempre dizer que "não é para a gente se arrepender do que fez, só do que não fez", me arrependi e me orgulhei, sim, de situações nas duas categorias. Enfim, foi uma viagem bem interessante para o mundo das hipóteses. Pena que viagens assim são, como diz alguém de quem gosto muito, só uma "ilusão efêmera". Mas que foi bom, foi!


1.10.04

Areias Malditas

Bateu tanto em Louise, que quando finalmente a largou ouviu o baque sujo e molhado do corpo da garota sobre a poça de sangue que havia se formado. Joseph parecia um açougueiro: o jaleco, que horas atrás fora branco, estava coberto de manchas e pedaços vermelho escuros. Havia respingos de todos os fluidos de Louise maculando o óculos, os cabelos e os sapatos de Joseph. Sobre a mesa metálica havia ferramentas, facas, serras e mais objetos familiares a Joseph e seu dia-a-dia como legista.

Olhou para o corpo pálido e, agora, espancado da garota e pulou por cima dele, se desvencilhando da visão, mas não dos cheiros e do clima tenso.

"Desgraçada! Quero ver você abrir a boca agora!" murmurou, como que com receio que alguém o ouvisse.

Alguém ouviu.

"Joseph, será que você nunca vai entender que o fato de eu já estar morta me isenta da dor e do sofrimento?"

Joseph não ousou olhar pra trás e encarar, mais uma vez, os olhos fundos, marcados e vazios do cadaver.

"Quantas surras você já me deu? Seis? Sete? Sabe que isso não vai me impedir de te dizer o que tenho a dizer."

O legista deixou-se cair, de joelhos. "Por que, Louise? Por que eu? Deixe-me em paz. Eu nem sei o que seu corpo está fazendo aqui. Você morreu no Cairo, do outro lado do Oceano Atlântico e..."

"Eu não morri no Cairo, Joseph. Eu morri no templo de N'Kai."

"Eu sei!!", gritou Joseph, e de repente teve medo de alguém no necrotério tê-lo ouvido. Foi ao fundo da sala e trancou a porta. Voltou, ainda sem encarar o corpo de Louise espalhado no chão. "Escuta aqui, sua vaca, me diz logo o que você quer. Eu não vou ficar de conversa com um cadáver. Eu não sou maluco."

Ouviu um risada baixa. Louise zombava dele. "Ah, meu querido! Eu sei tanto sobre a minha chegada a América quanto você. Mas o caso é que alguém invadiu o templo para me buscar. Me encaixotou, subornou quem foi necessário e me remeteu de volta a Chicago. Eu gostaria de ter vindo na primeira classe, mas não permitem clientes mortos por lá. Uma pena."

"Eu não acredito! Acharam seu corpo numa caixa, nas docas, e te mandaram pra cá. Fizeram de propósito, Louise. Queriam que eu te encontrasse. Olha, não tem cabimento eu coversar com gente morta. Vou te colocar de volta na gaveta. Não quero saber de nada disso.". Joseph caminhou na direção do corpo, ergue-o e colocou sobre uma das gavetas disponíveis. Não parou nem um segundo para pensar no que fazia. Apenas fazia.

"Joe, você precisa me ajudar. Por favor. Em nome de tudo que você considera sagrado. Você não sabe o que foi morrer em N'Kai. Eu nunca realmente morri nem nunca realmente voltei a vida. Meu corpo foi arrastado por todos os lados daquele templo. Fui revirada e violentada por aquelas criaturas nojentas. Fiquei perdida num limbo de mil Tsagas e tive de aguentar eles espalhados por dentro e por fora de todo meu corpo. Eu podia sentir tudo, Joseph. Eu enlouqueci e sofri demais. Enquanto virei um brinquedo sob aquela areia maldita, o Grande Deus devorou, pedaço por pedaço, minha alma. Eu ainda posso sentir sua língua áspera e monstruosa me agarrando e arrancondo pedaços de tudo que eu fui um dia."

"Cala essa boca!!!" Joseph esmurrou o rosto de Louise e o movimento resultante deixou à mostra o buraco feito pela bala do revolver de Hans, um ano antes, quando eles tentavam fugir do templo e Louise os traíra. A vaca mereceu ter morrido, ele pensou na época. Mas o sofrimento pelo qual ela passava não era justo pra ninguém. Contudo ele não podia mais dar ouvidos a essa loucura. E por outro lado sabia que seria assombrado para sempre pela bela e morta Louise caso não tentasse descobrir o que, ou quem, a trouxera de volta a Chicago. "Que se dane!". Bateu a gaveta.

Começou a limpar o chão, mas ouviu a voz surda de dentro da gaveta. "Joseph, seu maluco!! Você é um retardado doente que se meteu nessa de caçar criaturas porque nunca fez nada direito na sua vida. Seu desgraçado. Você é tão covarde que não consegue nem enfrentar seu destino de frente. Pára de achar que mortos não falam ou andam e que as criaturas que você caça são aberrações. Elas são a maioria e são muito mais normais que você, seu puto doente. Agora abre essa gaveta e ouça o que eu tenho a dizer."


Encostado ao armário, Joseph se mantinha calado. Já não limpava mais o chão e o suor escorria por sua testa, apesar do frio de janeiro. Lentamente ele esticou o braço e tocou a alça da gaveta.

"Anda logo, abre essa droga de gaveta!!!!!", Louise gritou mais uma vez.

O legista puxou de uma vez, e lá estava o corpo, ainda surrado, exatamente na mesma posição em que fora deixado por ele. "O que mais você sabe, Louise?"

"Eu não entendia nada no templo, os homens que invadiram e roubaram meu corpo falavam alguma língua árabe, mas percebi que eles citaram um nome. Kusmenkovsky. Ou algo do tipo, me pareceu um nome russo."

"Isso é tudo?"

"Sim."

"Então veja se agora cala um pouco essa sua boca podre e deixa um vivo e covarde amigo te ajudar." Fez menção de fechar a gaveta, e Louise falou mais uma vez.

"Não me deixe muito tempo aqui trancada. E se encontrar o Hans, diga que pretendo retribuir o tiro que ele me deu na cabeça."

Joseph sorriu e fechou a gaveta. "Nem morta você deixou de ser rancorosa". Acabou de limpar o chão e saiu da sala, sabendo que a sua frente começava outra jornada insana guiada por monstros sobrenaturais e humanos enlouquecidos por sonhos de poder, parecendo brinquedos nas mão, ou tentáculos, de deuses que a maioria das pessoas nem poderia desconfiar que existem.

See Ya

29.9.04

Amigo de infância com o dobro da idade


Como vocês já devem ter percebido, gosto de falar de histórias que já não são tão recentes. É que, às vezes, levo um tempo para digerir o que aconteceu e transformar isso em palavras.

Pois então, no sábado do feriado de sete de setembro, portanto no dia quatro, eu tive um trabalho a fazer. Não me importei, pois não ia viajar e já tinha ingresso para o jogo da Seleção contra a Bolívia no domingo. E, sobretudo, era uma atividade de que gosto muito: conversar com professores.

O convite veio da Prefeitura de Indaiatuba (uma cidade no interior de S. Paulo, para quem não sabe) para falar em um evento para professores de ensino fundamental, médio e superior, de escolas públicas e particulares. O assunto era o que é necessário resgatar na prática do professor.

Acontece que antes da minha "palestra", haveria a do escritor Ignácio de Loyola Brandão, -- autor, dentre vários outros, de Não Verás País Nenhum. Meu papel, simplificadamente, era fazer a ponte entre a maneira como ele transforma o mundo cotidiano em literatura, por um lado, e a forma como podemos trazer para a sala de aula as histórias pessoais dos alunos, pelo outro.

Confesso que eu estava meio com o pé atrás (tá bom, tá bom, com os dois pés atrás) pensando que o Loyola seria "a estrela da festa" e eu seria somente o coadjuvante a "traduzir" a fala dele para o tema do evento.

Fomos apresentados cerca de meia hora antes do início e, logo ali, vi que eu estava muito, muito enganado. O cara é totalmente "gente de verdade", se é que vocês me entendem heheh... E o engraçado é que tive, imediatamente, a forte sensação de "amizade à primeira vista". A fala dele não só foi extremamente afetuosa e rica, como ele teve o cuidado de preparar o terreno para a minha, que vinha logo depois. Eu disse lá, e escrevo aqui: tive um agradecimento e uma reclamação a fazer. O agradecimento foi por ele ter feito minha tarefa tão mais fácil e agradável; a reclamação foi por ele ter falado tão bem, pois isso significa que fiquei com a tarefa inglória de falar logo depois para quase trezentas pessoas previamente encantadas!

Bom, em resumo é isso. Desculpem o longo post, mas é algo que me deu vontade de registrar e compartilhar. Quanto a você, Ignácio, se estiver lendo, quero agradecer novamente por duas coisas principais: ter iluminado uma bela manhã de sábado com sua sensibilidade; e ter me mostrado que existe gente de verdade que consegue de forma magistral conquistar seu espaço para ser autêntica. Quanto a mim, a sensação gostosa que ficou foi de ter descoberto um "amigo de infância" que, mesmo tendo o dobro exato da minha idade, parece ter estado por aqui desde sempre...

28.9.04

Aperte a tecla verde e confirme


Bom, domingo agora rola o primeiro turno das eleições para prefeito e vereador. Mas esse post não é para fazer campanha para ninguém, apesar de eu ter minhas preferências bem claras.

Na realidade, o que me levou a escrever foi uma mensagem de e-mail que ando recebendo das mais suspeitas e insuspeitas fontes. Basicamente, é uma campanha que diz: "Vote no Serra no primeiro turno para que possamos viajar no feriado" (o segundo turno vai ser no dia 31/10, domingo, e Finados é no dia 02/11, a terça-feira seguinte). O argumento é que o candidato do PSDB vai ganhar de qualquer forma, segundo pesquisas (desatualizadas, aliás) e, assim, não haveria segundo turno para "atrapalhar".

Dentre outras "pérolas", a mensagem diz que a possível viagem do feriado é uma boa razão para todos -- até os que votariam na Marta -- mudarem suas opções. Ah, e uma das razões para que isso seja ainda mais crucial é que "é um final de ano com raras oportunidades para viajar" (só para constar: são três feriados na terça só de setembro a novembro, fora um na segunda).

Aí eu fiquei pensando nas prioridades que a gente estabelece. E fiquei pensando se o caos que constantemente ronda S. Paulo, sempre esperando para dar o bote, vale uma viagem de feriado, independentemente do candidato escolhido.

Vejam, não estou aqui, nem de longe, querendo defender a "honrada classe política desta nação" (!), mesmo porque de honrada a imensa maioria não tem nada. Mas ao mesmo tempo acho que, se a gente quiser mudar qualquer coisa que seja na condução da nossa cidade, tem que ser através dos instrumentos que temos para isso -- e o voto é um dos mais importantes e legítimos. Cada um de nós que pensa: "ah, não vai fazer diferença, mesmo", entra numas de profecia auto-realizável, pois acaba não fazendo diferença, obviamente.

Então, para concluir essa longa história, a reflexão que eu proponho é a seguinte: será que quatro dias de feriado valem quatro anos -- ou seja, 1460 dias -- da administração de uma cidade?


PS: Já está rolando uma comunidade do Quando Isso no Orkut. Entra lá!

24.9.04

Minha vizinha gostosa virou estrela pornô

Existem algumas mentiras universais, todos sabem disso. E uma delas é homem que diz que não gosta ou não vê pornografia. O sujeito pode até alegar que acha meio sem graça e repetitivo, mas se disser que não gosta, pode apostar, leitora, que é mentira.

A pornografia entra na vida dos homens antes de sermos homens. E no início não tem quase nada a ver com sexo, mesmo por que muitos de nós conhece o primeiro muito antes de entender do segundo. O mundo pornográfico se deixa adentrar, por assim dizer, pela porta do proibido, da curiosidade. Dinheiro economizado do lanche da escola, a frustração e a vergonha de ver que é uma mulher que fica na banca de jornais, as estapafúrdias tentativas de fazer cara de paisagem enquanto se tenta comprar uma revista, as formas de esconder a revista no caminho de volta, a excitação de abrir o pacote e violar um mundo que pertence aos adultos, todo um novo leque sensorial inquietante e viciante. E a estranha sensação de vazio que se sente enquanto toda aquela tensão é levada pela descarga.

E pornografia também mexe muito com nossos conceitos do mundo e das pessoas. "Nunca imaginei que duas garotas teriam tanta vontade de fazer... isso... só por terem encontrado esse troço esquisito de borracha dura!! Ahhh!! Por isso Camila e Tatiana sempre vão juntas ao banheiro!!!". Quantas coleguinhas de classe e trabalho e pessoas inventadas você já não imaginou cedendo seus lindos rostinhos para aquelas fotos, leitor?

E não pensem que com o tempo esse gostinho desaparece. Ele pode mudar de simples curiosidade e adrenalina para deleites imaginativos do que se gostaria de fazer, ou para quentes lembranças do que já se fez. O fato é que revistas viram filmes, que viram sites e que repentinamente isso pode ser partilhado com aquela que divide conosco lençóis e gemidos. E pensar que tanta gente não expõe esse seu lado a seus parceiros! Mulheres que tem ciúmes de filmes e fotos. Homens que não conseguem encaixar naquelas fotos que tanto esquentaram suas adolescências justamente o rosto e o corpo da pessoa que melhor poderia satisfazê-lo. Mulheres que acreditam que se tornariam meros objetos se se deixassem colocar no lugar das fotos. Homens que acreditam na mesma besteira.

A despeito de toda sua tônica individualista (punhetisticamente falando, claro), a pornografia pode ser descoberta não como algo degradante para o amor e para o sexo, como alguns sociólogos dizem, ou algo profano e não-natural, como podem dizer religiosos (que no fim não entendem porra nenhuma de sexo, por partirem, simplesmente, do princípio errado de que o ato, entre os humanos, tem função puramente reprodutiva), mas sim como uma ferramenta, um adicional, um outro meio de dar prazer pro outro, de transformar toda essa energia libidinosa em algo extremamente satisfatório.

E, por favor, vejam isso tudo pelo lado do usuário e inveterado consumidor de pornografia. Eu não falei sobre a indústria da pornografia, ou sobre todos os usos indevidos (desde pedofilia até transformarem a novela das oito em filme pornô velado) que se pode fazer dela, além de todos os desastrosos desfechos que se pode ter com ações descuidadas e sem consciência no uso do sexo e da libido e da pornografia. Isso daria um outro post, certamente.

See Ya

PS: Karine, que papo é esse de achar que eu estou bravo ou chateado com você? Endoidou de vez, foi, mulher? Eu te adoro!!!

23.9.04

Satanás rejeitou minha alma

Numa bela tarde um de meus jogadores de RPG de quase 10 anos descobriu tudo. A máscara finalmente caiu. E eu falhei. O Grande Pai rejeitou minha alma.

Jogador diz:
É CULPA DE VCS... MINHA VIDA NÃO FOI MAIS PRA FRENTE DEPOIS QUE CONHECI VCS.... RPGISTAS DO INFERNO
Mestre diz:
cara, a culpa não é minha...... eu sou só um mensageiro de satanás na Terra....
Jogador diz:
TE ODEIO....
Jogador diz:
VCS NÃO PODIA TER SE CONTENTANDO COM UM DA FAMILIA..... NÃO TINHA QUE PEGAR O IRMÃO MAIS NOVO E MAIS BONITO
Mestre diz:
Vc soube desde o começo que o RPG era a passagem para o mundo do capeta..... quando deixei vc usar seu nome no personagem, foi pra prender sua alma....
Jogador diz:
EU QUERO SAIR..... DESISTIR....
Mestre diz:
cara..... a prática da Yoga é a unica forma de sair dessa.....
Jogador diz:
TO VENDO DEMONIO ATÉ EM MEDITAÇÃO..... MEU CASO É CRITICO?
Mestre diz:
olha, não quero te assustar, mas eu acho que seu caso é de desinscorporação da alma...
Mestre diz:
vc está vivendo sem uma alma....
Mestre diz:
é praticamente um monstro....
Jogador diz:
O QUE EU TENHO QUE FAZER?
Jogador diz:
PLEASE
Mestre diz:
precisa fazer um ritual para roubar a alma de outra pessoa......
Mestre diz:
se tiver uma ligação com vc, como pai e mãe é melhor.....
Mestre diz:
mas o melhor mesmo é algum bebê recém nascido...
Mestre diz:
pq vc pega uma alma zerada...
Mestre diz:
de preferência se extraido diretamente do ventre da mãe.. um feto, digamos....
Jogador diz:
É ISSO É BOM?
Mestre diz:
isso é muito bom.... com uma alma zerada você vai poder cultuar a calma e a paz......
Mestre diz:
se tornar um ser de luz e servir ao senhor satanás....
Mestre diz:
ops
Mestre diz:
santo.. senhor santo....
Jogador diz:
MAS MINHA BELEZA EXTERIOR CONTINUA A MESMA?
Mestre diz:
vc vai ficar ainda mais lindo, pois uma alma de criança vai te dar um brilho especial.....
Mestre diz:
uma aura de paz e serenidade.....
Mestre diz:
e nenhum mal se levantará contra vc....
Jogador diz:
MAS NINGUÉM VAI FICAR APERTANDO MINHA BUCHECHA? IGUAL FAZEM COM OS BEBES?
Mestre diz:
não... talvez vc cague nas calças com certa frequência.... mas em compensação garotas peitudas vão querer que vc as chupe como cabritas e mulheres em geral vão querer te pegar no colo.....
Mestre diz:
e se vc beber do leite do seio de alguma mulher, ou do sangue dela, pode fazer com que ela se apaixone por vc
Jogador diz:
SANGUE?
Mestre diz:
eu disse sangue? não, são..... saliva.. saliva
Mestre diz:
se apaixonará... um amor lindo e eterno e incondicional.....
Jogador diz:
VC É DUENDE.... QUER DIZER DOENTE
Mestre diz:
sim, eu sou doente, mas quero salvar quem ainda não se perdeu totalmente.. eu já estou completamente tomado pelas garras do senhor dos sete círculos do inferno..por causa do RPG... na verdade o diabo faz um grande RPG de nossas vidas e nos controla como pechas de chumbo pintada em tabuleiros de papelão desenhado....
Mestre diz:
rolando dados sobre nosso destino e rabiscando nos cantos de nossas planilhas....
Mestre diz:
o grande capeta chifrudo preto corinthiano sofredor disse que para cada sucesso decisivo que eu tirar, ele vai matar um familiar meu.....
Jogador diz:
PUTZ..... SERÁ QUE ELE FICA ESCREVENDO NAS PLANILHAS..... RODRIGO VON GAL, FABRICIO LEOTTI, BOLINHA, PAJÉ, FERNANDA (GOSTOSA)
Mestre diz:
Com certeza.... mas vc ainda pode se salvar... vc quer se salvar?
Jogador diz:
QUER SABER, TÁ NO INFERNO ABRAÇA O CAPETA
Jogador diz:
SABADO A NOITE SACRIFICIO
Jogador diz:
MARCADO?
Mestre diz:
Viva o RPG!!!!

See Ya

22.9.04

But nobody's listening

Eu nunca havia estado num show daquele tamanho, num estádio, ou com dimensões sequer parecidas. Foi absurdo passar pela massacrante fila, acompanhada da desorganização total da polícia e dos organizadores (?) do evento, para entrar. Contudo, ainda acho que foi válido, especialmente considerando o que me esperava do lado de dentro.

Charlie Brown Jr. abriu o show. A música dos caras é simplesmente perfeita: ritmo, batida e jinga de um bom hip hop, salpicados com rock de boa qualidade. E a cereja do sorvete só poderia ser um teen quarentão, com nome de moleque e cabeça tão alienada quanto qualquer um de seus ouvintes da noite: Chorão. O discurso mais batido do mundo, especialmente pra mim que ouço rap e hiphop desde os 14 anos, não era pra ser ouvido. Ninguem estava escutando nada ali. Contra o discurso e todas as bandas que o levam como bandeira, eu posso dizer que todos estão completamente alienados, encaixotados e padronizados dentro da praga do Politicamente Correto. Era esperado que as palavras fossem aquelas. Era esperado que o Chorão posasse de líder rebelde radical. Mas pensem um segundo e tentem imaginar que tipo de líder rebelde atual permitiria seus clipes de passarem ou gravaria um acústico na MTV, subsidiária de uma das gigantes americanas, a mesma força política contra quem eles "lutam". É tudo parte do espetáculo do Politicamente Correto, por menos que Chorão, sua trupe e seus ouvintes entendam de política.

A favor do mesmo discurso e das mesmas bandas, tenho a dizer que Chorão também brincou com o público, mostrando que não se leva tão a sério assim, e o discurso inflama e o som descarrega, agita e faz pular 79.988 pessoas de uma só vez, enquanto dois velhos bocejam. =) Nunca pulei, cantei, chutei, girei e berrei tanto em público. estaba lá para me divertir e apesar de gostar de usar o cérebro mesmo nessas horas, me diverti. E muito.

E pra acabar de destruir minhas pernas, costas e cordas vocais, Linkin Park. Eu não poderia imaginar algo tão bom pra fazer em companhia de 80 mil pessoas. Alucinante, empolgante e completamente acima da escala de diversão, Linkin Park entrou em cena com Don't Stay e deixou o palco com One Step Closer. Neste intervalo mostraram simpatia, interação com o público e, mais importante, competência no palco. O esmero de versões e variações que eles tocaram fizeram o som da banda ainda mais interessante e hipnotizante. Tocaram até mesmo Wish, do Nine Inch Nails, o que fizeram muito bem. Pena que quase ninguem conhecia. Pena que nem todos sabiam as letras que estavam cantando. Única ressalva de fã: não tocaram Nobody's Listening inteira e não tocaram By Myself. Fora isso, foi um momento que se tornou inesquecível. E felizmente minhas palavras não são capazes de passar para vocês o que, de fato, foi o show. Quem viu, viu. I was listening.

See Ya

20.9.04

But in the end it doesn't even matter

Tá, os que reclamaram têm toda a razão: isso aqui, apesar de ter dois moradores, anda às moscas (literalmente!). Ou, como disse o Fabricio, tá parecendo Brasília em ponta de semana.

Bom, o assunto de hoje já é meio velho, afinal já se passaram quase 10 dias: o show do Charlie Brown Junior & Linkin Park.

Em termos gerais, a experiência foi GENIAL! Havia muito tempo eu não ia a um show tão bom -- e olha que eu tenho alguns na bagagem. A fila de entrada foi uma zona total, quase fomos esmagados, precisou de tropa de choque, cavalaria e tudo o mais, mas sobrevivemos e, no fim, até foi divertido me ver no meio do caminho entre a horda adolescente (grande maioria) e os pais/mães/tios/tias/etc. presentes (grande minoria).

A apresentação do Charlie Brown Jr despertou percepções diferentes. O Fabricio, como vocês saberão mais tarde, gostou; eu achei totalmente dispensável. O Chorão faz aquela linha "adolescente rebelde" que já deu no saco.

Como já estou mais para "tiozinho" que para adolescente, fiquei pensando naqueles jornais e revistas que fazem reportagens pausterizadas sobre/para jovens e recebem cartas da moçada dizendo: "Vocês não respeitam os jovens, só falam de coisas superficiais". É nessa que hora eu me lembro do Karl Marx, quando ele dizia que o rei só se comporta como rei porque os súditos se comportam como súditos...

Aí vocês me perguntam: e o que isso tem a ver com o show? Pois é, o caso é que vem o Chorão, se achando, fala meia-dúzia de "palavras de ordem" profundas como um pires (e com um português indigente), e a "galera" vai ao delírio. Para vocês -- os que não estavam lá -- terem uma idéia, lá pelas tantas o cara fala: "O povo me pergunta por que eu falo de política. Eu falo de política porque o jovem tem que ser levado a sério". E isso após a seguinte "pérola": "O problema com a política é que tem uns vinte caras que pegam o dinheiro da gente e compram casa em Miami" (ou algo bem próximo disso). Ah, faça-me o favor!

E sem falar que, pessoalmente, acho um saco artistas que ficam pedindo confete: "Cadê os isqueiros?"; "Quem é Charlie Brown aí?", e etc. E, para terminar (ou deveria ter sido para começar?), não gosto do som deles -- e talvez esteja dando importância demais a um show de música...

Depois do surto de mau-humor (heheh), vamos adiante: o show do Linkin Park foi beeem melhor! Tiveram boa presença de palco, interagiram bastante com a galera, fizeram arranjos novos para algumas músicas, até bandeira do Brasil pediram à platéia e colocaram lá em cima (como manda o "Manual do Artista Estrangeiro Simpático"...). A emoção de ter quase 80.000 pessoas pulando ao som de "In The End" foi indescritível! E nós na pista, lá no meião, pois quem está na chuva é para se molhar heheh... Aliás, até choveu um pouco, o que foi ótimo para dar uma refrescada. Pena que foi curto, menos de uma hora e meia. Mas valeu totalmente a pena.

Agora... dizem que, à medida que ficamos mais velhos, a gente leva mais tempo para se recuperar das baladas. Depois de 10 horas entre fila, show e trânsito, até que fiquei bem no dia seguinte -- e já no pique para o Evanescence no mês que vem, se for confirmado!

8.9.04

Dando corda

1) Essa é a primeira vez que faço algo como um "post resposta".
2) Vou escrever o post, colocá-lo aqui, e o espaço para as respostas, comentários e críticas fica a disposição de todos. Mas não esperem que eu escreva outra resposta sobre o assunto. Isso não vai acontecer.
3) Adoro discutir religião, não crenças. Não vou lançar nosso (meu e do Marcelo) blog numa fogueira de vaidades.

Apesar de toda a resposta que tive, através de comentários, e-mails e pessoalmente, realmente achei que poucas pessoas conseguiram sacar sobre o que o texto falava. Aos evangélicos ofendidos e que se sentiram ignorantes, só queria avisar que o post não foi sobre a Bíblia (cada um segue os princípios que quer) nem sobre Deus (cada um acredita no que quiser) e muito menos sobre os benefícios ou malefícios que os dois itens citados trazem pra vida de cada um.

O texto falava justamente sobre o que as pessoas estão fazendo com Deus, com a Bíblia, com pessoas ignorantes e desesperadas e principalmente sobre os motivos e métodos usados pra fazer isso. E se por um lado eu generalizei, por outro lado ninguém que tenha comentado o texto (evangélico ou não) discordou das minhas palavras sobre pessoas enganadoras e falsas que comandam centenas de milhares de cordeiros idiotas e cegos para um lado da crença que está muito mais ligado ao dinheiro do que a Deus.

Enfim, se foram minhas palavras agressivas e contundentes que fizeram vocês se confundirem sobre quem eram os verdadeiros alvos do texto, agora eu faço-me surpreso, pois ninguém melhor do que vocês, fervorosos evangélicos e leitores de Bíblia, deveriam saber separar os reais motivos do discurso das palavras fortes e impactantes, já que é assim que o Diabo (como vocês acreditam) se manifesta muitas vezes.

Eu nunca fui evangélico, é verdade, mas já acreditei em Deus. Já li a Bíblia e já li muito mais do que isso. Fiquei bastante feliz com a resposta da Laís, que aos 13 anos defende sua religião da mesma forma que eu, na mesma idade, defendia o ateísmo. A você, Laís, se chegar a ler isso aqui um dia, eu só devo dizer que você está certa. Se o texto não te causou nenhum questionamento (talvez você não precise se questionar, embora eu duvide), ou se causou e você, após se questionar, achou que o melhor pra você e o caminho com o qual você mais se identifica é o que você segue agora, ótimo. O Quando Isso não está aqui pra mudar a opinião de ninguém. Eu quero, isso sim, incitar o questionamento e a auto-crítica. Mudar de opinião, deletar o blog dos favoritos, ou qualquer outra ação advinda do questionamento é por sua conta. Repetindo as palavras de Gabriel, o Pensador: "Quem vai lavar a sua mente não sou eu, é você".

See Ya

1.9.04

Evangélico é o demônio

TV é coisa do capeta. RPG é coisa do capeta. Homossexualismo é coisa do capeta. Tudo que não satisfaça os preceitos preconceituosos e ignorantes ou então não renda dinheiro pros dirigentes das igrejas é coisa do capeta. Pois se tem uma coisa que é próprio do demônio é a forma como essas igrejas se comportam.

Posso estar generalizando, é verdade, mas no fundo não faz muita diferença, porque igreja de enganar otário é tudo igual. É sempre a mesma ladainha, as mesmas caras mentirosas se escondendo atrás de um livro que já foi mais revirado que garotinha de 15 anos estuprada e morta, jogada no meio da estrada: a Bíblia. Aliás, parece que fazem exatamente isso com o tal livro sagrado.

Gente pobre (mas no fundo rica também) e ignorante (isso com certeza) é um prato cheio pra essas aves de rapina que comandam as igrejas evangélicas (e os católicos calem a boca, porque pelo menos até agora eu não vi os evangélicos queimarem ninguém na fogueira). Gente sem esperança, ou que já aprontou mais do que podia aguentar acotovelam-se nesses templos faraônicos ou em salinhas onde ficam gritando cânticos sem nem entender o que diz a letra (como se fizesse diferença também, com tamanha estupidez de quem as compõe e escolhe). E os administradores contam com tamanha cara de pau e falsa ideologia, levando todo esse bando de ignorantes a acreditar e decidir colaborar com eles. Dinheiro pode comprar o paraíso, ou sua vida pode se tornar um inferno. A escolha é sua.

Distorcem as escrituras a seu favor, cobram por serviços totalmente inventados, armam circos pra sustentar suas vigarices e ainda por cima se acham os donos da verdade. Usam de palavras bonitas, passagens decoradas de seu estuprado livro sagrado e com isso fazem com que os cordeiros sigam seu caminho em direção a uma salvação mentirosa e enchem os bolsos com isso. Nada contra ganhar dinheiro, claro,
mas fazer isso em cima da crença dos outros é que me deixa louco.


Certamente eu vou queimar nas chamas eternas de Satanás. E a maior merda vai ser ouvir, no inferno, os choramingos desses evangélicos idiotas que compraram gato por lebre e seus pastores que venderam suas almas pro capeta quando enganaram os inocentes (?) e ignorantes.

See Ya

PS: dedico este texto a Cesar Senatore, o cara que me inspirou a escrever este texto por ousar dizer certas coisas. =)

31.8.04

Quem mata quem?

Lá vai uma mensagem da série "abrindo o coração" heheh... É longa e o assunto é chato, portanto fiquem à vontade para ignorá-la solemente.


A questão é que estou me sentindo especialmente mal com essa história dos moradores de rua aqui de São Paulo sendo feridos e mortos a cacetadas. Morando nesta cidade há algum tempo, ficamos muito expostos a diversas formas de violência e corremos o risco de acabar por incorporá-las à paisagem cotidiana.

Particularmente, vinha pensando sobre a (cruel) motivação que leva alguém a sair de casa ou de onde quer que seja no meio da madrugada para descer o cacete em quem, em geral, pelo menos na minha visão, não representa grandes riscos - e não tem de si e consigo quase nada além do corpo combalido que envolve sua alma, espírito, personalidade ou o nome que queiram dar.

Aí li duas colunas na Folha nesta semana que me ajudaram nesta reflexão - imperfeita e, de forma alguma, tranqüilizadora ou curativa. Muito pelo contrário.

A primeira coluna, de quarta-feira passada, é do
Gilberto Dimenstein
e trata das ações e reações de um pai e de um filho envolvidos no seqüestro deste último e do irmão. A outra é de quinta-feira, do Contardo Calligaris - sempre ele -, e traça uma possível idéia sobre quem está cometendo essas barbaridades contra os moradores de rua.

Depois de ler ambos os textos e pensar sobre eles, percebo como o ser humano pode estar/oscilar em vários e tantos pontos do espectro entre o vil e o nobre. Tá, isso é óbvio, mas a grande pergunta que me fica é: O que faz as pessoas agirem a partir do ponto A ou B deste gradiente?

Somando a isso minha própria experiência, parece-me que até os mais afortunados de nós já tivemos o desprazer de lidar com gente que simplesmente é sacana, não é? Atire a primeira pedra que nunca foi ferrado por pessoas próximas e que, aparentemente, mereciam total confiança.

Só que, mesmo aí, vejo algumas diferenças: já levei porrada de gente cuja única reação à ameaça ou ao perigo é ser "do mal". Gente que não sabe, ou não sabia, defender-se de outro modo. Mais que raiva, o que eu sinto em casos assim é pena - pelo menos no longo prazo.

No entanto, também já me ferrei com gente que é ruim porque é ruim e ponto. Pode-se especular que é porque foram abandonados à própria sorte (emocional) desde sempre; ou porque foram rejeitados desde a concepção; ou porque o DNA é estragado por hereditariedade; ou porque são sacanas e fim, sei lá.

E são esses que me preocupam mais. Preocupam porque, por mais que tentem passar a vida inteira "contornando" o olhar para dentro de si mesmos, o tal do inconsciente é fogo: um belo dia ele pega a gente distraído e segura o espelho na frente de um jeito que não dá para desviar ou fechar os olhos. Aí, quando o cara é sangue-podre, a dor da imagem refletida é tanta que ele vai lá e mata fora aquilo que o dilacera e ele não consegue matar dentro...

Bom, espero que realmente queiramos e consigamos um jeito de tomar conta da nossa cidade e de nós mesmos (em mais de um sentido). Pode ser como sonha o Calligaris, ou não. Mas algo temos que fazer. E já. E juntos.

Oi... Dá licença? Pode entrar?

Sábado passado, quando, no meio de uma conversa, o Fabricio me convidou para vir para cá, confesso que fiquei tão surpreso quanto orgulhoso.

Surpreso porque, conceitualmente, sempre achei que blog fosse uma coisa individual, ou solitária, como queiram. E, na minha insegurança de quase-analfabeto tecnológico, fico feliz que dê para fazer isso de forma coletiva, mesmo que seja um coletivo de dois :-)

Já o orgulhoso é porque acompanho o Quando Isso desde que ele nasceu, e sempre o achei um dos lugares mais inteligentes e interessantes da Internet. Independentemente de (ou justamente por causa de) ser do Fabricio - um excelente anfitrião, apesar de ele ficar tentando nos convencer que não é de fácil convivência. Resumindo, estou "cheio de si" heheh

Bom, feita a "rasgação de seda", já aviso que vocês vão perceber que são estilos diferentes, gêneros diferentes e olhares diferentes; ou seja, com todas as dores e delícias da diversidade tão necessária.

Agradeço as boas-vindas que já pintaram; acolho e compreendo a decepção de quem não esperava essa novidade e não gostou dela; e espero não perturbar muito o outro morador e os visitantes desta casa. Comentários, idéias, broncas, polêmicas, choro, risos e o que mais pintar são, claro, sempre bem-vindos.

E, para "terminar esse começo", vou postar em seguida o texto que acabou culminando com a minha presença aqui. Espero que tenha algum impacto. Qualquer que seja ele.

28.8.04

Featuring

Há muito tempo eu vago por estas terras blogueiras, cercado de moscas e também de amigos (novos e velhos, reais e virtuais). Já é um caminho longo e sempre solitário, porque sempre quis mantê-lo assim. Caminhei sozinho no Quando Isso, mas felizmente também pude ver que poderia receber uma contribuição valiosa, de um amigo de longa data e cujos textos, embora ainda ocultos em listas de discussão e e-mail pessoais, sempre me agradaram muito.

É com prazer que o Quando Isso Virar um Blog recebe como escritor meu amigo Marcelo Barros. Cara, seja bem-vindo e que seus textos possam voar livremente por aqui, como os meus também voaram e continuarão voando.

E quanto a vocês, leitores, não peguem leve. Tenham com o Marcelo a mesma crítica, mas também o mesmo carinho que sempre dedicaram a mim. Ele agüenta o tranco, eu aposto. E acostumem-se com o novo morador. Cuidado para não saírem pelados do banheiro, esquecendo-se que agora esta é uma casa de dois. =)

See Ya

27.8.04

Vício de personalidade

Você pode não perceber, mas milhões de reações bioquímicas acontecem no seu corpo e especialmente em seu cérebro enquanto você executa qualquer ação. Essas reações é que determinam, em maior ou menor grau, quais serão os pensamentos que atingirão seu córtex e quais nunca deixarão de ser apenas uma ligação covalente entre átomos dentro de você. As que atingirem seu córtex determinarão suas atitudes, sejam elas em concordância, ou discordância com o pensamento gerado.

Como máquinas biológicas desprovidos de qualquer outra forma de entender o mundo que não com nossos olhos e sentidos de máquina biológica, acabamos por perceber que tudo isso é sobre recompensas. Estímulo e resposta. Você, ou eu, não é mais do que isso. Se uma atitude gera uma recompensa, ela volta a acontecer. é simples assim. Esqueça a parafernália genética que se multiplica dentro de você. São suas atitudes que estão em foco aqui. Elas existem para te dar prazer, para te satisfazer e para garantir que seus genes possam um dia gerar outra criatura parecida com você. Contudo, e como em toda máquina, uma falha deveria existir.

Se a tal atitude gera uma recompensa limitada, que não propicia exatamente prazer ou satisfação ou mesmo propagação da espécie, mas mesmo assim atinge certos centros nervosos no cérebro que permitem alívio ou afastamento de uma realidade psicológica que você não quer enfrentar no momento, todo o milagre da evolução vai pra lata de lixo, e você se vicia naquilo. A evolução cometeu um erro sistemático permitindo que encontrássemos na negação da existência o mesmo prazer que vivenciamos quando vivemos plenamente. Agradeça por isso todos os dias em suas orações, pois são os vícios que mantém o mundo girando, na maior parte do tempo.

Da compulsão mais leve à dependência química mais violenta e avassaladora, todos nós temos uma conexão mais do que íntima com nossos vícios. Por vezes eles chegam a nos definir, e em outras chances, nos envergonhar e destruir. Entretanto, vícios são os filtros colocados diantes de nossos olhos por nós mesmos para que tentemos distorcer a realidade de forma a deixá-la mais aceitável.

Quais são seus vícios? Você já se encheu de trabalho e coisas pra fazer só pra ter a sensação de que estava chegando a algum lugar? Já roeu unhas até seus dedos sangrarem? Já se entorpeceu até que seu universo todo fosse um banheiro sujo com a porta emperrada? Venha. Junte-se ao clube e aproveite pra mandar as reuniões de controle anônimo de vícios pro inferno, antes que elas se tornem seu próximo vício.

Talvez você possa se viciar em heroína pra se livrar da morfina. Você pode se viciar em Jesus pra esquecer seus pecados e deslizes. Pode se viciar em remédios pra escapar de seu vício em stress. Mas no fundo, vai ficar pulando de vício em vício até se encontrar naquele momento final em que toda a realidade vem à tona e
você é só mais um pedaço frio e rijo de carne e ossos. Eu digo: aproveite seus vícios e ria dos que são completamente viciados em dizer que não têm vícios.

See Ya

PS: dedico esse texto a todos aqueles que encontraram na fuga da realidade um mundo muito mais confortante e real.

16.8.04

Eu também sou Curupira

Meus pés apontam para trás, mas meus olhos encaram o futuro.
O cabelo vermelho brilha ao sol, mas na minha cabeça é que está o brilho.
Se já não fosse uma lenda, eu poderia acreditar que não estou num sonho.
Mas como também há pesadelos e dificuldades pela frente, eu sei que estou seguindo o caminho que quero e confio.
E se eu sou inquieto como o próprio Diabo, não haveria de existir outro lugar pra mim.
Sigo os passos do curupira. Vou para o lugar de onde ele parece ter vindo.

See Ya

10.8.04

Tiro de misericórdia

Chego em casa cansado e durmo um pouco. Acordo incomodado e puto porque lá, no mundo dos sonhos, os programas do maldito módulo de assinatura online não funcionam. Tento me distrair um pouco, pra melhorar o humor. Toca o telefone e eu, triunfante, atendo: "Informática, Fabricio".

Você não é seu emprego!
Você não é essa merda de emprego!!!
VOCÊ NÃO É ESSA BOSTA DE EMPREGO, PORRA!!

As palavras dele saindo da minha boca. Ele segura a arma apontada pra mim. Segura como quem segura um caralho em riste, pronto pra gozar na minha cara. Enfia o cano gelado na iná bôa. Puxa o cão. Sabe onde eu moro. Manda que eu corra.

Eu tenho seis semanas.

See Ya

9.8.04

Conexão

Fico muito lisonjeado quando pessoas mais inteligentes e divertidas do que eu colocam um link para o Quando Isso em seus respectivos blogs. Bom, como qualidade de mais inteligente e divertido do que eu não é algo hercúleo de se conseguir, pode parecer, a princípio, que não considero de tão grande valor o gesto de colocar um link pra cá. Ledo engano. Quero mesmo agradecer a todos que fizeram alguma menção ao meu blog ou que mantém em seus recantos virtuais uma conexão com o meu cafofo digital.

Dessa vez, ainda, queria agradecer especialmente a 4 pessoas:

Bernardo, que é um cara muito maneiro e que tem o dom de enxergar as coisas de um modo muito diferente e particular. Daria um ótimo líder para o projeto Mayhem. =)

Helena. Na verdade acho que ela não existe, a não ser dentro da minha cabeça perturbada. Mas tentem o link. Pode ser que eu ande com insônia. =)

Raphael, que é um dos caras que hoje me faz olhar pra trás e dizer: valeu a pena ter passado pela USP. Um dos meus melhores amigos e definitivamente o legista e caçador sobrenatural mais legal de Chicago. =)

Felipe, que com seus posts e idéias sem restrições preconceitos ou limites, tem me ensinado muitas coisas e me feito olhar em diversas direções de uma outra forma, mais crítica, mas também mais aberta. =)

Agradeço mesmo a vocês, e também a muitos outros, todas essas experiências que, no mundo blogueiro e no mundo real, voces têm me ajudado a vivenciar. Valeu!

See Ya

PS: Você também pode encontrar esses links aí no menu acima, que aliás, acaba de ser atualizado.

8.8.04

Dias de mosca

Eu já fui a mosca a zumbir no ouvido de alguém. Sim, já fui. E não pense num zumbido bom e acalentador, se é que tal coisa existe. Eu zumbi fundo e forte. Tirei o sono, fiz alguém se virar no travesseiro até altas horas, e até mesmo chegar a desistir de dormir.

Estive também em muitas sopas. Incomodei pelo simples fato de existir, pela simples presença ali, fazendo um belo de um escárnio só pra irritar mesmo. Na verdade nunca foi só pra irritar, mas certamente alguém já pensou isso de mim.

Muitos já tiveram de me engolir. E só porque eu vim voando e os peguei de boca aberta, esperando que o tempo mudasse e... zupt! Num segundo eles estavam a me engolir, a seco, em meio a engasgos e cusparadas. Mas me engoliram e acabou. Tiveram de aceitar.

Diversos ovos e pequenas larvas eu também já coloquei em alguns. E a princípio acharam que eu era só estranho e esquisito. Tarde demais quando descobriram a podridão que eu fui capaz de implantar.

Certas pessoas só queriam abusar de mim, e os outras só queriam que eu abusasse delas. Não decepcionei. E já deixei que me usassem, e me fizessem de boneco só pra satisfazerem seus próprios egos e instintos. E mesmo parecendo uma criaturinha asquerosa e inofensiva, eu fiz esse papel. Mas também já usei e abusei. Já preguei peças, roubei em jogos e trapaceei e cobrei pelo meu serviço.

Não procure em mim apenas o que te agrada, pois o que te assusta e importuna e enoja e irrita e amedronta também te dá prazer e te adula. O fato de você não ter cu pra admitir isso não torna isso mentira. Se você gosta do deleite e do prazer também gosta do medo e da dor. Mas continue sendo covarde e não admita isso nem pra você mesmo. Eu não ligo. Na verdade, até gosto.

Todos têm seus dias de mosca.

See Ya

5.8.04

Torto por linhas certas

Comecei a escrever 4 posts e não consegui terminar nenhum. Demorei a perceber que o que eu queria mesmo era bater um pouco de papo e não escrever um texto, por assim dizer.

E falando em escrever, tenho pensado bastante em escrever um livro. Bem, na verdade seria montar um livro, pois eu estava pensando publicar uma reunião de diversos contos aqui do blog, juntando material inédito também. Claro que ainda é somente uma idéia, e toda a minha falta de tempo e, às vezes, de pique pra escrever vão deixar isso no mundos das idéias (alguém aí disse caverna?) por alguns momentos.

Diversos dos meus leitores já me incentivaram a escrever mesmo um livro. Mas o que poucos deles sabem é que durante a minha infância e adolescência, eu devo ter escrito uns 4 livros, todos bastante imaturos e típicos de quem ainda estava começando a engatinhar no mundo da literatura. Devo a senhora Agatha Christie a temática de meu primeiro livro, Assassinato no Rouche, onde um recém formado detetive investigava crimes ocorridos num transatlântico. A história não deve ocupar mais do que 50 ou 60 páginas de um caderno velho que ainda tenho guardado, nem tomar mais do que 2 horas para que se leia por completo. Levei praticamente 3 anos escrevendo, incluindo aí um bloqueio literário de mais ou menos 1 ano.

Desde que saí, teoricamente, da adolescência, não consegui mais pensar em escrever uma grande história, com começo, meio e fim. Talvez por ter criado 200 histórias diferentes para uma única campanha de RPG, e mais de 100 para outras tantas pequenas campanhas, eu tenha me acostumado a inventar enredos pequenos, curtos, mais como contos ou algo do gênero. O Quando Isso Virar um Blog só veio confirmar a minha predileção por este estilo nesse momento.

Gosto muito de crônicas também, e de um estilo provocativo pra fazer o leitor executar alguns neurônios friamente. Mas, sinceramente, acho que ainda preciso brincar muito com este meu lado mais agressivo e crítico. Deixá-lo com menos cara de revolta adolescente e lapidá-lo para a acidez, irreverência e senso crítico. Não quero me tornar esnobe e intelectualóide como o Arnaldo Jabor, mas também não quero ficar infantilóide e deslumbrado como o José Simão.

Em breve deve, então, surgir um tempo para que eu organize as idéias e textos e páginas que um dia podem se tornar meu primeiro livro publicado. Até mesmo pensei em dois títulos, que poderiam ser: Quando isso virar um livro ou Insônia e outras formas de se manter acordado, fazendo uma referência óbvia ao conto que encabeçaria a publicação. Se alguém quiser dar uma força pro ego desse blogueiro metido a escritor, usem os comentários ou mandem um e-mail. Se, além disso, alguém estiver disposto a publicar qualquer das baboseiras que eu escrevo por aqui, tecle nove para falar com uma de nossas atendentes.

O papo está bom, mas preciso mesmo ir.

See Ya