11.10.04

Homens que aprenderam a voar

Milhões de conexões por segundo. Cada olhar, cada movimento, cada entrada e saída de ar, cada batimento cardíaco. Tudo sincronizado, funcionando de forma uníssona e perfeita. Bem, perfeita, não! Mas aceitável. Este é você. Esta é sua vida. Você precisa de toda essa massa cerebral pra sustentar uma vidinha medíocre e sem sentido.

Você se prepara para o pior? Tem um bom seguro de vida? Previdência privada? Talvez você faça muitos exercícios e consulte o dentista regularmente. Talvez pague um asilo para seus pais para que Deus veja como você é bom e te dê um fim digno e tranquilo. Talvez tenha feito duas faculdades, MBA, pós, mestrado, doutorado e todo o resto para ter uma chance melhor de ter um bom emprego e quem sabe também ser digno de um fim morno e tranquilo.

Mas de repente acontece e você simplesmente perde parte ou boa parte daquela massa cinza que você guarda na cabeça e nem sabe direito como utilizar, mas que no fundo te mantém vivo e ignorante. Num dia você é um ator rico e famoso andando a cavalo, no outro, um vegetal plantado num vaso de lençóis limpos. Num dia você é um cantor aclamado voando num ultraleve e no outro você é viúvo e não consegue andar ou lembrar se alguem limpou sua bunda depois que você foi ao banheiro.

Você vai ter de aprender a viver com o fracasso eterno, com a impossibilidade e com as limitações. E tudo aquilo que você cultivou (a não ser pelo dinheiro, não sejamos hipócritas!!) não pode fazer nada por você. Contudo, é na mesma massa cinzenta que se encontram as respostas certas para você. Se você não usou seu cérebro apenas para separar suas orelhas, se processou com afinco e dedicação as informações devoradas por seus neurônios, se questionou o que ouvia e aprendia, se forçou seu cérebro a criar ao invés de copiar e simplesmente ver o que os outros cérebros criavam, você certamente irá entender estas duas palavras e como elas podem salvar sua vida: plasticidade neuronal.

Seu cérebro pode reaprender como fazer praticamente tudo que você fazia antes. Você recuperará funções que estariam perdidas para sempre. Mas isso vai depender do alimento que você deu para sua mente. Portanto, deixe sua preguiça mental de lado. Existem pessoas por aí que fazem, com metade do cérebro, o que você não faria se tivesse dois inteirinhos. Nunca é o bastante e você nunca deve parar de procurar usos para seus pensamentos. Não se castre, não se deixe castrar. Entenda que você é tudo aquilo que se passa em sua cabeça e que se você não der ouvidos ao seu cérebro frequentemente, você vai morrer e apodrecer muito antes de seu coração parar. Se você tem o grande poder de suprimir pensamentos e sensações, saiba que você está involuindo. Não tenha filhos e, por favor, levante essa bunda da cadeira e tire esses olhos deste texto e vá arranjar comida para o seu pensamento.

See Ya

PS: este post é dedicado a Herbert Vianna e Christopher Reeve (que morreu ontem, dia 10/10): dois dos melhores cérebros já criados e bem alimentados do planeta.