5.12.04

Samwaad - Rua do Encontro

Em julho deste ano fui ver uma apresentação de dança no SESC Belenzinho. Naquela época "pré-Quando Isso", escrevi um texto sobre a experiência em uma lista de discussão. Agora o trabalho está de volta, desta vez no SESC Pinheiros, então resolvi recuperar o texto, caso vocês se interessem.

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No domingo à noite fui ver um espetáculo de dança chamado "Samwaad - Rua do Encontro" no SESC Belenzinho. Como vários de vocês já sabem, não sou exatamente um dos dez maiores entusiastas de dança, especialmente dança moderna. No entanto, essa experiência foi tão rica em símbolos que resolvi compartilhar minhas percepções com vocês.

Resumidamente, são cerca de 50 jovens, provenientes de ONGs e reunidos pelo coreógrafo Ivaldo Bertazzo, que dançam ao som de um "diálogo" entre ritmos brasileiros e indianos. A música tem bastante percussão e é o que dá o tom do espetáculo. O palco é o chão liso com arquibancadas ao fundo. A iluminação é simples e bem-feita. E só. O resto fica por conta da expressividade dos dançarinos.

Quase todas as coreografias (e são várias durante a hora e meia de duração) têm a participação de todos os bailarinos, em movimentos conjuntos em que cada um depende do outro. Além dessa harmonia entre eles, os músicos também têm participação ativa, interagindo com a música mecânica e com os próprios dançarinos. Outra característica que me chamou a atenção foi o sorriso genuíno no rosto de cada um, o visível orgulho que sentiam do seu trabalho e a energia e o suor (literal) dedicados a ele. Foi contagiante.

Bem, feita a descrição, o que quero realmente comentar com vocês é como me senti quando vi todos aqueles jovens fazendo -- pelo menos naquele momento -- exatamente o contrário do que o senso-comum coloca como"veredito" para eles: a permanência à mal-definida "margem da sociedade".

Então fiquei pensando sobre o que me contagiou. Não foram só os movimentos perfeitos (mesmo porque não o eram sempre) ou a música (inclusive porque nãoé meu estilo favorito), mas a simbologia e a importância do coletivo. Não havia "a estrela" ou "o solista", mas grupos de pessoas que tinham um objetivo juntas, em conjunto -- mas sem desrespeito à individualidade. Aliás, como exemplo, durante a ovação final cada um fazia o agradecimento à sua maneira particular e individual, o que também foi muito bonito. Ah, e o Ivaldo Bertazzo nem sequer apareceu no palco, deixando claro que ele também não é "a estrela" (mais uma vez o simbólico...).

Concluo com uma última visão pessoal: acho que, se existe algum caminho para melhorarmos um pouco esse mundo doente, ele está no coletivo. Vejam, não me refiro a massificação ou uniformidade, mas ao coletivo efetivamente; aquele que se faz da interação entre as diversas individualidades com respeito, troca, aprendizagem, afeto e alegria. Pode ser meu lado Polyanna que insiste em emergir, mas são momentos como esse que me fazem recuperar um pouco da --combalida -- fé nessa tal de raça humana...