7.7.14

Em ordem

Há tempos estou fora de ordem. Em desordem, por assim dizer. Um sentimento oscilante, como o pêndulo que conta os minutos até meu ultimo suspiro. Um vai-e-vem de vontades, de chances, de obrigações e do mais completo desespero por ver os momentos avançando sobre o precipício sem ao menos conseguir voltar os olhos pra baixo e contemplar a escuridão.

A contemplação ficou em algum lugar. O olhar vivaz e agitado, mas cuidadoso, há tempos se foi. E deixou apenas aquela sequência absurda e rápida de movimentos oculares, que não vê e tampouco aprecia. Os pensamentos, que pensava eu estarem bagunçados, estavam na mais perfeita ordem, e agora, por mais que eu faça força (mas não faço) parecem mais um calhamaço desajeitado e velho, sem índices, sumários, capa e contra-capa.

Não haveria mesmo de sobrar muita coisa, dada a vertiginosa queda sobre mim mesmo. Não há sequer o estampado do meu corpo sobre o solo, como um resquício de bomba nuclear, como um tempo amarelado e escasso numa foto velha. As verdades e as dúvidas e as vontades e os medos espremeram-se enquanto cresciam, ou enquanto eu diminuía. E o que resultou foi um amargo amálgama, o extrato de nada que reside entre as vísceras e a alma. Restou o que sou agora e nem mesmo sou alguma coisa....

Forças não restam, mas o comportamento repetitivo, este sim, ficou. Como um pombo supersticioso, me mantenho ordenando coisas, encaixotando-as, tentando dar sentido a palavras e nomes, tentando fazer com que os poucos pixels que se arrastam pela tela exprimam ordens que não cumprirei, sentimentos que não entenderei e vontades que atropelarei e deixarei morrer no meio-fio, como um cão perdido, manco e de olhar triste e consternado.

Rendi e despedacei todos os alvos artificiais que me mostraram e que me convenci de que eram meus, ou eram feitos pra mim. Afastei os devaneios que me impediram de atingir objetivos que nunca desejei de verdade, e que agora não me valem sequer a sombra de um esquelético coqueiro numa praia suja e deserta sob o forte sol das decisões não tomadas. Há em mim uma espécie de maré, que traz e afasta, afoga e salva, esconde e expõe esse medo e essa falta de tempo que as marés só sabem quando sobre elas cai a lua, enorme, branca e silenciosa, emanando uma paz que as ondas nunca conhecerão.

See ya