29.12.04

O estranho mundo de Giulia

Taí uma coisa que nunca imaginei ver no Quando Isso Virar um Blog: alguém falando bem de (e chamando de gracinha) uma criança. Enfim, dividir a casa tem dessas. Faz parte abrir a mente e deixar novos e variados assuntos surgirem, mostrando que mesmo coisas patéticas como uma criança podem fazer a vida parecer menos pesada e mais alegre. Também tenho de deixar um pouco de lado estes brios adolescentes e entender que nem tudo o que é considerado péssimo por mim significa o mesmo para os outros.

Quem engoliu isso até aqui e não estranhou nada, pode ir embora. Apague o blog do seus Favoritos e adeus.

Giulia, bem-vinda. Em primeiro lugar você não tem culpa se seus pais não foram capazes de perceber que este não é um mundo onde se deve criar uma criança. Seus pais e padrinhos são, com certeza, pessoas maravilhosas, por quem guardo muito respeito e carinho e certamente são muito mais do que apenas bem intencionados em relação a você. Mas acredite no tio Fabricio: isso não vai fazer da sua vida um inferno menor do que a vida de ninguém. Sua vida serve mais de acalento às vidas vazias dos que já estão por aqui do que a sua própria. Pra acalentar sua vida você provavelmente terá filhos.

O fato de eu não gostar de crianças (na verdade hoje acho que gosto menos de quem decide tê-las, do que delas, propriamente) poderia me fazer ser um pouco rude com você, que mal nasceu e já carrega tantas coisas. Mas não é o caso. Não vou ser rude ou tratá-la mal. Na verdade eu apenas gostaria que você nos perdoasse a todos por sermos tão cegos e burros a ponto de termos de fazer de você, uma inocente e bem-vinda criatura, uma esperança num mundo melhor, numa vida melhor. Fazermos de você uma nova chance de fazer as coisas certas, de tentar dar algum sentido pra um existência vazia e apática. Fazer você nascer pra termos a impressão que vivemos, que mudamos, que crescemos e que de alguma forma, somos especiais.

Supra nossos vazios, Giulia. Seja melhor do que nós, elimine nossas frustrações, cumpra nossas vontades, deixe-nos orgulhosos. Somos tão feios e imperfeitos e egoístas e você é tão "linda, linda, linda, linda" que merece dançar e brincar e pular e muitos presentes. Seja nosso maior presente.

E quando tudo isso falhar, torne-se uma de nós. Seria muito rude dizer que senti uma dor gigantesca no peito quando soube que você viria ao mundo? Talvez seja, mas não peço que me perdoe. Guarde este perdão para seus pais. E espero que você seja muito feliz (da mesma forma que eu sou mesmo muito feliz por viver), pois isso vai facilitar as coisas quando você tiver de perdoá-los, como eu já perdoei os meus.

E quando, um dia, você for jogada contra a parede, o suor na testa, o gosto de sangue na boca e toda a inocência for uma imagem envelhecida no fundo da sua mente, pode contar com meu apoio e minhas palavras, que às vezes são duras, mas que insistem em se esquivar das máscaras que volta e meia caem sobre nossos rostos esperançosos e retorcidos.

See Ya

PS: Má, por favor não pense que o texto foi uma reprimenda. Você sempre foi e sempre será livre pra escrever no nosso blog o que bem entender. O fato de às vezes pensarmos de forma tão igual e às vezes de forma tão diferente é que dá graça pra isso tudo.