31.12.03

Interlúdio

Isso não virou blog político, embora eu vá continuar a traduzir o Raed em 2004.

Mas eu também nunca tive muito jeito para avisos e despedidas bem elaboradas. Acabei abandonando mesmo o blog por esses dias, desde que estou em recesso de fim de ano.

Logo eu volto.

Também não desejei um bom Natal pra ninguém por aqui. Eu odeio o Natal. Deve ser a data comemorativa mais idiota já criada. Depois do McDia Feliz, claro!

No reveillon é diferente. Desejo a todos vocês, meus leitores, o melhor que 2004 possa trazer. Mas também desejo um pouquinho de coisas desagradáveis e não muito boas, pois assim, no ano que vem também posso desejar que coisas boas e ainda melhores aconteçam em 2005. E claro, algumas ruins também. Vocês entenderam...

See Ya

19.12.03

Where Is Raed? - [Original] - 18 de Dezembro de 2003

Um dia .. DUAS MÁSCARAS ..

A PRIMEIRA MÁSCARA:

O tradutor Iraquiano
, chegando a uma escola secundária em AlAmryya para ajudá-"los" a prender estudantes. Estudantes não tem o direito de ir a manifestações.

Americanos vieram com fotos de alunos, lista com seus nomes, e os prenderam DURANTE SUAS AULAS. O diretor não pôde dizer uma palavra.


A SEGUNDA MÁSCARA:

O Iraquiano Fedayi (um dos fedyeen**) correndo atrás de jornalistas em uma das manifestações que ocorreram em Adamyya, em Bagdá, impedindo qualquer um de tirar fotos das pessoas marchando lá ...

Ele atirou em um de meus amigos .. Wasif .. em seu pé.

Muitas coisas acontecendo nos últimos dias, parece que a captura de Saddam iniciou algo.

:: raed 22:14 PM ::

** Nota do tradutor: aqui, fedyeen refere-se a iraquianos fiéis a Saddam Hussein, muitas vezes considerados os "Homens de Sacrifício" de Saddam.

See Ya

17.12.03

Where Is Raed? - [Original] - 17 de Dezembro de 2003

hey hey hey! quem está brincando de Big Brother aqui?

Fato engraçado 1: Salam decidiu deletar meu último post sobre Saddam porque era "politicamente incorreto", e de mau gosto também.

Fato engraçado 2: Eu vou mudar o nome do site para :

RAED vs SALAM

:") deixa pra lá ..

TRÊS a DEZ anos atrás das grades, é o que eu pegarei se "eles" me pegarem comprando petróleo no "mercado negro"!!!!
Eu estava lendo isso num panfleto (cheio de erros de gramática) impresso e distribuido na última semana com meus olhos abertos .. muito abertos .. abertos esse tanto >>> OO
ANOS? não DIAS?
Senhoras e senhores , ou vocês esperam por 6 horas na fila do posto de gasolina, imaginando como manter os ladrões e as balas longe dos seus carros, ou vocês irão apreciar nossas prisões de liberdade pelo resto de suas vidas.
COMO VOCÊ OUSA COMPRAR PETRÓLEO DO MERCADO DE DISTRAÇÃO EM MASSA ??
Outras pessoas desempregadas, ou vocês param de usar e vender petróleo ou vocês serão considerados "criminosos", e as cortes do novo Iraque colocarão vocês nas celas da liberdade; camas confortáveis com café da manhã grátis.

:: raed 15:35 ::

NOTA DO TRADUTOR: eu não cheguei a ler o post deletado pelo Salam Pax. Caso alguém tenha visto este post e quiser comentar sobre ele aqui, ou tenha salvo o post e ainda o tenha e quiser repassar pra mim, eu traduzo e o coloco aqui.

16.12.03

Quando blogs mudaram o mundo

Dentre todas as figuras que surgiram em nossas vidas desde o início da guerra comandada por George W. Bush no Iraque, acho que a que mais me cativou e me fez entender o poder da perseverança e da liberdade de expressão foi Salam Pax. Na dança macabra de soldados, civis, americanos, ingleses, iraquianos, areia, sangue, viivos e mortos, foi um blogueiro que fez a diferença.

Muitas das coisas que ocorreram em bagdá nunca chegaram à mídia, e eu tampouco teria sabido dos horrores de viver numa cidade em guerra se este homem não tivesse mantido aberto o canal de comunicação entre o inferno da guerra e o mundo ilusório e cheio de ilusões de segurança em que vivemos.

Em seu blog, Where Is Raed?, Salam Pax fez descrições horrendas e desprovidas de hipocrisia sobre a situação em Bagdá durante e no pós-guerra. Falou do real sem ser sensacionalista. Rendeu-se ao inimigo, escrevendo em inglês, para que o vôo de suas idéias e mensagens pudesse ser alçado. E durante muito tempo, quando ocorriam interrupções nos posts, eu ficava imaginando que o pior poderia ter ocorrido e que eu nunca mais iria saber sobre este blogueiro.

Felizmente ele continua ativo a agora ao lado de seu amigo Raed. Os dois alternam posts e continuam mostrando muita coisa que não chega aos noticiários. A maneira como escrevem e a perseverança de suas publicações fizeram com que eu tomasse a decisão de, a partir de hoje, traduzir os posts de Where Is Raed? para o português, aqui mesmo no Quando Isso Virar um Blog. O texto de que escolhi hoje (post abaixo) é só pra começar e tentar mostrar a forma como as coisas serão mostradas aqui. Os posts vão seguir o mesmo padrão do original, e depois deste, passarei a traduzir os posts que forem aparecendo, nas datas em que forem postados.

Não quero ficar só olhando pra tudo isso, sem saber o que fazer ou sem fazer nada. Só espero que com isso mais pessoas possam desfrutar dos fatos que ocorrem em Bagdá e entender um pouco mais do que acontece dentro do pós(?)-guerra.

See Ya
Where Is Raed? - [Original] - 21 de Novembro de 2003

eu odeio inglês.. eu odeio escrever em inglês.. deixa pra lá.. salam, você não pode imaginar as cenas em AnNasryya, isto é .. não falo só sobre o prédio italiano .. Falo de toda a vizinhança! Casas num diâmetro de 1000 metros sem janelas, portas e com rachaduras nas paredes. A explosão foi tão grande que destruiu as portas e cercas e árvores de toda a vizinhança. .. quer mais detalhes? ok :) duas pessoas cruzaram a ponte com aquele velho tanque de água (feito nos anos 50), e o "homem de barba" sentado à esquerda foi até a janela e começou a atirar nos guardas italianos e os matou, e o carro seguiu diretamente para a entrada principal do prédio, matando todos na rua e a maioria dos italianos, cabeças de soldados italianos foram encontradas centenas de metros distante da explosão! brrrrooohhh .. e alguns iraquianos foram queimados dentro de seua carros no meio da rua. O "engraçado" é que o saqueamento começou 5 minutos depois, todas as metralhadoras e pistolas desapareceram em minutos e agora você pode conseguir uma arma italiana por $250 no mercado de armas de Nasryya. Abbas (você o conhece, o dono do restaurante) viu algumas pessoas roubando um anel do dedo de um italiano morto e sem cabeça! brrrrroooohhh .. e os saques continuaram pelos próximos dias com o resto das mobílias e aparelhos de ar condicionado ,, o estranho é que todos em Nasryya estavam esperando o ataque já dois antes de ele acontecer! TODOS! policiais e políticos (dos partidos que controlam a cidade) saíram às ruas procurando PELO CARRO BOMBA, é por isso que, quando a explosão aconteceu, as pessoas se voltaram contra eles, acusando-os de não fazerem um bom trabalho "vocês só gastam nosso dinheiro em reuniões" estúpidas" .. mmm .. nisso eu acredito. (como eu posso começar um novo parágrafo aqui?) .. (ok .. considere isso um novo parágrafo) .. eu quero sapatos (como aquele preto com um buraco na sola que você tinha) e outro par de camisetas sexies.. mmm .. eu terminei com Simona .. mmm .. eu comprei uma nova Mercedes (ML 430) .. Mmmm .. me liga .. tchau

:: raed 15:50 ::

15.12.03

A queda

Eu nunca simpatizei com Saddam Hussein. Sempre fui a favor da liberdade real e irrestrita, diferente da pregada pelo líder iraquiano, ou por seu nêmesis texano. Mas acho que na manhã deste domingo, Paul Bremer anunciou não só o início da reta final da derrota dos rebeldes iraquianos, como também uma derrota de um mundo democrático e livre perante o império de George W. Bush.

Se eu nunca desejei que os vilões desse filme B (produzido pelos americanos e protagonizado por figuras como a ONU, Tony Blair, Saddam Hussein, e muitos figurantes civis iraquianos) vencecem no final do roteiro, também nem passei perto de desejar a vitória dos mocinhos. A captura de Saddam Hussein dará força à mídia conivente para ignorar ainda mais o fato de nunca terem encontrado qualquer arma de destruição em massa. Ou nunca deixará vir à tona o que tem sido feito com os poços de petróleo sob controle americano. Também impulsionará a campanha de reeleição de Bush, mesmo que ele não precisasse disso, como não precisou na forjada eleição anterior em solo norte americano.

E se eu fosse inocente o suficiente, ainda me restaria a esperança de ver o senhor Koffi Anam declarando que Hussein deveria ser entregue às forças da ONU. Que os americanos teriam livre acesso a ele, mas que sua integridade física e mental deveria ser vigiada pela Organização das Nações Unidas. Isso seria a piada do ano, ver a cara de bosta dos americanos, tendo seu pirulito tomado de suas mãos. Isso não diminuiria a grandeza da operação de captura, nem seu impacto sobre as forças rebeldes iraquianas, mas certamente seria um golpe duro contra os americanos e sua impáfia de salvadores do mundo.

Com a queda definitiva de Saddam Hussein, cai por terra também a última esperança que eu tive um dia, de que os americanos aprenderiam algo depois dos ocorridos de 11 de setembro de 2001, e iriam repensar seu papel de invasores e destruidores de qualquer cultura não-americana. Para Saddam eu só posso dizer: você está para entrar no pior momento de sua vida, sofrer humilhações, torturas e ainda ser alienado e idiotizado pelas forças americanas. Não se preocupe: como todos nós, você também vai se acostumar.

See Ya

14.12.03

Revolutions on Saturday

Agora pouco cheguei do cinema. Fui ver Matrix Revolutions com dois amigos. Eu me atrasei muito. Dormi. Um dos meus amigos me acordou às 23:15, sendo que eu deveria tê-lo encontrado às 22:30.

Saí feito um louco. Chegamos ao cinema às 00:00. O outro amigo estava puto. Muito puto. Acho que a idéia dele era conversarmos um pouco antes do filme. Talvez comer algo. Não deu tempo. Compramos os ingressos e entramos. Duas horas e pouco de filme. Fim da sessão.

Pensei que talvez pudéssemos fazer alguma coisa a mais. Mas um dos dois tinha dormido o filme todo. Tinha de levantar cedo no domingo. O outro ainda estava bravo. Não rolou. Peguei o carro e fui embora, pensando no que eu gostaria de ter feito nesse sábado à noite.

Não cheguei a nenhuma conclusão.

Mas sei que detestei o cinema. Sei que estraguei o passeio. Foi como sexo sem tesão. Nos encontramos, o serviço foi feito, levantei da cama, joguei uma água no rosto, ajeitei o cabelo diante do espelho. Saí sem lembrar o nome de quem estava na cama e pensando em alguém com quem gostaria de ter transado. Sensação maravilhosa. E sei que estou acabando a noite escrevendo um post "meu querido diário". Foda-se.

Bom domingo pra vocês.

See Ya

12.12.03

E agora, Carlos?

João que amava Teresa
que amava Raimundo
que amava Maria
que amava Joaquim
que era programador,
tinha três empregos,
um dos quais para o senhor J. Pinto,
dormia 3 horas por noite
e, no máximo, batia "umazinha"
vendo vídeos da Sílvia Saint
baixados do Kazaa.
Joaquim amava sua boneca inflável,
comprada no Submarino em
dez vezes sem juros.
A boneca se apaixonou
pelo novo DVD Player de Joaquim.
Joaquim suicidou-se.
Os outros se juntaram
e formaram uma Quadrilha de scammers
Ahhh, que grande bosta é este mundo!

See Ya

PS: aqui, o original.

11.12.03

Registros

Já faz um bom tempo e muitas coisas mudaram desde então (bem, nem tantas cosias assim), mas desde Lascaux, e até antes, registrar é algo tão intrínseco, visceral e fisiológico no homem quanto andar, comer ou dormir.

Em sua vertente mais nobre, o resgistro é uma forma memética de procriar, ou de alcançar a eternidade. De livros didáticos a peças teatrais. De cartas de suicídio a blogs. O outro lado da história, o registro mundano, é propagado em e-mails, horários, cronogramas, agendas. É o registro que nos mantêm atualizados e nos torna capazes de organizar a vida moderna.

Durante toda a vida de uma pessoa, ela não conseguiria ler, ver ou ouvir todo o resgistro criado pela humanidade em um único dia, principalmente agora que adentramos a "era da informação". E o mais bizarro, é que toda essa informação certamente se perderá, mas não o registro.

Por natureza, eu sempre registrei tudo. Ainda tenho meu primeiro conto, que escrevi aos 11 anos, e também tenho muitos cadernos onde, mesmo antes dos 11, eu anotava confidências, filmes que eu via apenas na minha cabeça, nomes para os meus brinquedos, etc...

E mesmo com tanta afinidade com o ato em si, sempre tive muita dificuldade em manter registrado fatos, tarefas e ordens que precisasse realizar. Lições de casa, pegar a chave de casa quando for para casa, botar o lixo para fora, ligar para alguém, são só alguns exemplos de tarefas e fatos que meu cérebro não guarda e que portanto eu deveria manter registrados em outro lugar.

Dono de uma hiperatividade ímpar, em breve deverei também usar registros para assegurar-me de que tranquei as portas de casa, ou para ter um lugar fixo para guardar a carteira ou os sapatos. E porque? Por que nego-me a tratar esta hiperatividade para resolver este problema.

Por que coisas assim me fazem pensar se o registro deixou de ser nosso passaporte para a imortalidade e tornou-se nosso carrasco, de quem apanhamos e somos dependentes. Por que me questiono se realmente preciso anotar tantas coisas e saber muitas outras. Será que estamos registrando demais? Será que ultrapassamos o limite de assimilar fatos e informações? Ou será que eu sou apenas mais um deficiente mental que vai viver preso a lembretes, relatórios, recados e posts?

Quando isso virar um blog talvez eu deixe de registrar e passe a entender. Deixe de assimilar e comece a absorver. Mas até lá, isso fica registrado para a posteridade.

See Ya

10.12.03

Second Chances

Vocês se lembram desse post? Pois bem, na época poucas pessoas colocaram seus comments por lá, e é por isso que, aproveitando a chegada de Dezembro, vou reeditar esta "promoção" do Quando Isso Virar um Blog. De hoje até o dia 24/12/2003, quem deixar algum comentário neste post, ou naquele do link acima, o primeiro onde eu falei da premiação, irá concorrer a um prêmio especial do Quando Isso, no Natal. É uma forma de agitar as coisas por aqui depois de tanta calmaria, e também de proporcionar alguma recompensa a algum intrépido e persistente leitor que tem me aguentado durante todo o tempo de vida do Quando Isso.

Enfim, aproveitem o espírito Natalino e concorram ao prêmio.

See Ya

2.12.03

Pedido especial

Se você nunca veio aqui. Se você vem todos os dias. Se vem só pra fazer uma social. Se vem porque adora este blog.

Se você me adora, ou se me odeia, se me acha feio, ou bonito. Se gostaria de me dar um beijo, ou se queria mesmo é esmagar minha cabeça com uma pedra.

Se você digitou no, Google, "bombas caseiras" ou "piercing na buceta" ou "jdnmeks kemnsjs erujdnm" ou "filmes alternativos" ou "Marilyn Manson" ou até "Fabricio" para chegar aqui.

Se é humano, ou Zilunghiano, ou se é um cachorro, ou um gato, ou um gafanhoto, ou o Jan, ou o JP.

Se tem menos de 12 anos, ou mais de 90, ou entre os dois, ou até mesmo se você tem 1652 anos e vive escondido nos esgotos de Veneza.

Negro, branco, amarelo, azul, verde, gay, straight, bissexual, pansexual, evangélico, católico, ateu, agnóstico, satanista, nudista, pudíco, puta, filho da puta.

Seja você quem ou o que for, cruze seus dedos, patas, antenas, pêlos, tentáculos, presas.

E deseje-me sorte. Muita merda e que eu quebre a perna em tantos lugares que vou precisar de uma nova!!!

Eu vou precisar!!!

See Ya

25.11.03

Não

Não morri.
Não desisti disso aqui ainda.
Não tenho escrito e nem sei se tão logo o poderei fazer.
Não gosto da idéia de deixá-los orfãos, mas eu mesmo estou orfão de mim.
Não paro de ter idéias sobre posts, mas estou registrando todas para contar depois.
Não fico em casa um minuto, pois o trabalho está absurdo.
Não queria saber de desculpas, mas elas foram o que restaram.
Não vão embora.
Não esqueçam.
Não, hoje não.

See Ya

16.11.03

Lenda Urbana

Wassily Kandinsky foi um dos maiores revolucionários do último século. Ainda um garoto pobre da Rússia, fascinou-se pelas pinturas de Claude Monet e pela música de Wagner. O estopim foi a fusão das sensações transmitidas a ele pela obra destes dois artistas, que resultaram nas criações inconcebíveis e inaceitáveis para um povo acostumado ao rígido, ao pré-determinado e aos padrões de uma vida regrada, no início do século XX. Taxado como insano e sem talento, ele tornou-se o pai da Arte Abstrata.

Admiro a forma como Kandinsky expressava-se. E não me refiro tanto à arte abstrata, da qual nem sou tão fã. Falo mesmo é da lucidez dele. Não foi um artista descabido, sem amigos, que internava-se em seu estúdio e trancava-se em seu cérebro. Não foi anti-social ou agitador popular contra o panorama político na Rússia. Tinha amigos, fazia piadas, participava de festas e exposições. E talvez isso fosse o que mais assustava seus críticos. Diante de seus desafetos agia simplesmente como se não pudessem entender o que ele havia deitado sobre a tela. Se não era bem vindo, retirava-se. Mostrava toda sua rebeldia e genialidade nos quadros e na forma de lidar com os efeitos que estes traziam. Foi objetivo, embora dizer isso quase faça não acreditar que fosse capaz de exprimir toda a abstração de sua obra.

Dizem que há uma obra de Kandinsky que não pode ser entendida. Outros vão mais longe e dizem que a obra não pode sequer ser vista por pessoas sem um nível elevado de inteligência. São efeitos que ele não previa, mas que casaram completamente com sua proposta e carreira artística.

Reproduzi a figura logo abaixo, para que vocês possam certificar-se de que podem enxergá-la e até mesmo entendê-la. Não acredito nessa Lenda Urbana e não tive qualquer problema em ver e entender a figura, o que prova que qualquer inteligência mediana, como a minha, pode desfrutar de mais esta obra do pai do abstrato.



See Ya

15.11.03

Dores

Esse post fala sobre distância, e se você não está se distanciando, não deve lê-lo. Por outro lado, se está, talvez não o queira ler. Talvez as próximas linhas sejam um desperdício de tempo e pixels, e não mereçam muito mais do que um clique no "x" que fecha a janela do navegador.

Esse post é para qualquer um que esteja se distanciando de algo ou alguém, mesmo sem se dar conta (diabos, como vou fazer os que não se deram conta ainda perceberem que estão se afastando?). Entretanto, não é só pra qualquer um. Esse post tem endereço certo e alvos objetivos. E nem preciso dizer quem são, para que os mesmos sintam-se citados.

Afastar-se de grandes amigos causa a mesma sensação que aquela percepção repentina, que todos temos às vezes, de que o tempo está passando, e que as coisas que você já fez, sejam boas ou ruins, estão feitas e não podem mais voltar. Ao lado desses caras tudo já aconteceu a mim. Já consolei os bêbados e já fui consolado quando foi a mim que o álcool atacou. Já enfrentamos doenças, mortes, operações. Já discutimos até a exaustão sem chegarmos a conclusão nenhuma. Já brigamos só por que um queria ajudar o outro, mas não soube como. Já ficamos, à noite, olhando pro céu da Avenida Paulista e berrando músicas sem nenhum sentido. Já vimos casamentos, divórcios, brigas, novas e velhas namoradas.

Choramos e sorrimos quase sem motivo. Ficamos desejando boa noite entre nós por muitos minutos, até que cada um fosse pegando no sono. E já fizemos concurso pra ver quem falava "retardado" em menos tempo. Já choramos a morte de um de nós. Já comemoramos a chegada de outros. Já simulamos brigas, já roubamos, já batemos o carro e já viajamos juntos, mesmo sem pegar estrada ou sair de casa. Já quisemos que certos domingos nunca tivessem terminado. Quem vive tem dessas coisas. Enfrenta esses problemas e vive essas façanhas.

A vida me deu a chance de escolher pessoas muito especiais para se tornarem minha verdadeira família. Família por escolha. Pessoas pelas quais eu daria minha vida, mesmo que eu tivesse certeza que não seria recíproco. Pessoas de quem o choro, quando o tempo vier, quero ser o aparador. Pessoas de quem os filhos quero ser o tio maluco e bobo, que talvez nada possa ensinar além de dar valor a uma boa conversa olhando o céu e dando risada. Pessoas que levam consigo meu pensamento, e para quem eu nunca tive vergonha de dizer: eu te amo, e você é parte da melhor coisa que já aconteceu na minha vida.

E hoje, prostrado frente a este blog, com lágrimas nos olhos, pedem que eu entenda. Que talvez seja uma fase, que talvez seja só falta de interesse pelo RPG. Ou que talvez estejamos mesmo crescendo, tendo de aprender a encaixar namoradas, esposas e outros amigos num mesmo convívio. Hoje pedem que eu aceite um afastamento, que nem é grande, mas que eu, talvez num acesso de medo, não esteja enxergando. Grande merda! Eu não quero enxergar porra nenhuma. Hoje quero me alienar, se isso for necessário pra tentar evitar essa fuga, consciente ou não, dessas pessoas especiais.

No último enterro em que eu estive, eu ouvi um conhecido meu dizer pra um amigo: "Poxa, não podemos nos manter afastados. O tempo passa e a gente nem vê!". Depois do enterro ele sumiu de novo. No próximo enterro, talvez, nos falemos. Vai se foder!!! Eu não quero isso pra mim. Não tenho que aceitar essa baboseira e ficar esperando festas e mortes pra ver essas caras. Não quero perceber, aos 70 anos, que fiquei longe demais, embora eu nunca vá saber medir o quanto é bom estar perto.

Se isso tem a ver com crecer, eu acho que as pessoas esqueceram que crescer tem a ver com evoluir. E que evolução é essa onde você se afasta de fiéis escudeiros e pessoas que te fazem bem quando estão por perto?

Essa mensagem era sobre distância. Então que ela vá distante e chegue a todos que precisem dar um chacoalhão em seus relacionamentos. Mas que, principalmente chegue aos olhos e mentes dos meus Estúpidos prediletos (porra, Rapha, custa você sair em UMA foto????).


See Ya

PS: se pra você tudo isso pareceu exagerado, foda-se!

14.11.03

Quem não tem cão...

Já que eu estou na fila dos desempregados vou dar uma ajudinha (ou atrapalhadinha, dependendo de quem lê esse blog, claro) e vou postar algumas bobaginhas por aqui.
Só para encher lingüiçinha, sabe?
Mas não se assustem, calma, eu não sou uma menininha débil mentalzinha que fica falando tudo no diminutivinho, tem um quarto rosinha e escreve com canetas perfumadinhas na agendinha com adesivinhos, eteceterazinha...
Eu gosto de pegar mais pesado mesmo (ui!)!
E se não gostarem da minha presença aqui, vassifudê! Hehe...
Só para começar: o que aconteceu com aquela ninhada de Golden Retrievers que estavam sendo doados?
Não entendeu?
Volte amanhã e leia a explicação, sacou?
É assim que funciona, vocês ficam curiosos e voltam amanhã, é que nem padaria "Volte sempre", "Posts quentinhos a toda hora", "Aceitamos encomendas para posts salgados e doces", etc...
Na falta do Fabricio... 6 tão fudidos!
Bjs.
Elacoelha
Boa notícia / má notícia

Tal como aquele médico de piada, diante do paciente terminal, eu encaro vocês e digo: tenho uma boa notícia e uma má notícia pra vocês.

E como todo bom doente terminal de piada, vocês preferem ouvir a boa primeiro, né? Está bem.

A boa notícia é que, depois de me revoltar com meu trabalho e não aceitar um porra de um emprego medíocre, eu consegui outro emprego, a saber, muito melhor que o outro. Neste eu programo de verdade, e não fico fingindo que sou um digitador de código qualquer. Onde eu estou a barra pesa e o trabalho é bem duro. Particularmente estou muito contente mesmo. Nesse novo trabalho tenho muito mais desafio e definitivamente muito mais afeição com a equipe. Bom, pelo menos agora uma equipe.

Felizes? Bom, quero agradecer todo mundo que me apoiou e acreditou em mim. Isso tá parecendo discurso de vencedor do Oscar (Shame on you, Mr. Bush!!!). Mas chega. Façam cara de luto, é hora da má notícia.

Com o início das minhas atividades no trampo, associadas com o trabalho que desenvolvo junto a alguns clientes, por hora meu tempo está esgotado e portanto está muito difícil postar aqui. Tenho uma fila enorme de posts pra escrever, mas por enquanto vou buscar umas cadeirinhas pra eles, pois a fila tende a demorar pra andar.

Aproveitem esse menu aí acima e visitem meus blogs favoritos. Ahh menos o Kanghuru, que saiu da minha lista de blogs visitáveis, mas que eu ainda não consegui tirar do menu.

See Ya

11.11.03

E pra ele nada: TUDOOOO!

Finalmente terminei de publicar Insônia. Estão aí abaixo as duas últimas partes. Aos que tiveram paciência de esperar e ler, muito obrigado mesmo e espero que vocês tenham gostado. Aos que não leram, espero que leiam um dia.

Mas na verdade este post é só pra dizer que ontem, dia 10, foi aniversário do Blogstar que eu melhor conheço e que, em boa parte, foi o "culpado" por toda essa minha paixão pela literatura.

Obrigado por isso, Leotti Blogstar. =) Feliz aniversário, pai!!

See Ya

Insônia - Parte Final
:: [Parte Um] [Parte Dois] [Parte Três] [Parte Quatro] ::
:: [Parte Cinco] [Parte Seis] [Parte Sete] [Parte Oito] ::
:: [Parte Nove] [Parte Dez] [Parte Onze]::


"Vamos lá, Ale. Você precisa fazer isso"

"Foda-se mesmo", eu disse. "O que eu preciso fazer? Só quero terminar isso e sair daqui."

"Tudo bem. Normalmente nós chegamos no local principal do sonho, onde o Alvo está perambulando ou realizando alguma ação. Basta então encontrá-lo, ou chegar a um ponto onde ele possa ver, e destruir o sonho dele, transformando-o num pesadelo. Não se esqueça que você pode usar qualquer coisa que imaginar. Nada aqui é real."

Afirmei com a cabeça, confirmando que sabia daquilo. Era o fato mais estranho até agora: eu iria destruir a sanidade de alguém para salvá-lo. E mesmo não concordando eu iria fazer isso. "Simone, quando eu sair daqui eu vou embora. Chega. Não quero saber de projeto, sonhos ou pesadelos".

Ela apenas olhou tristemente em minha direção. "Acalme-se. Depois discutimos o que você vai fazer. Agora vá."

Virei-me para o beco e encarei a escuridão. Ratos, baratas, vermes e lagartixas passevam pelos arredores. Eu adentrei no labirinto de muros e portas, em busca do Alvo. O cheiro da podridão agredia meu nariz e minha mente, e o chão encharcado, lamacento e escorregadio dançava sob meus pés. Segui por algumas dezenas de metros, que pareciam quilômetros intermináveis, até que encontrei o que estava procurando: encostado a uma porta velha, apodrecida e úmida, estava o Alvo, um rapaz que aparentava uns 20 anos, embora naquele lugar não se pudesse confiar em aparências.

Vinda do chão, uma barra de ferro flutuou e chegou até minha mão. Concentrei-me na nuca do rapaz, que estava recostado e com os olhos fechados. O golpe seria certeiro e ele morreria em seu pesadelo, embora talvez nem percebesse o que , de fato, havia acontecido. Minha proximidade não o despertou, pois assim eu desejei. Esperava pegá-lo de surpresa. Uma morte rápida e quase indolor deveria servir para o pesadelo. Eu não queria causar em outra pessoa o mesmo pânico que sentira naquela fatídica noite, no parque de diversões dos meus sonhos.

Minha respiração estava difícil e minhas pernas começavam a amolecer. Levantei a barra, já antevendo o espirrar de sangue e miolos. Mas o que eu temia ver nunca aconteceu: antes que eu pudesse baixar a barra em direção ao rapaz, ela foi puxada de minha mão, arrancada como que por alguma força telecinética. A barra atravessou o espaço do beco e foi pousar em outro lugar. A sensação de pânico subiu por minha espinha, e minhas pernas amoleceram de vez, negando-se a me obedecer: do outro lado do beco, segurando a barra de ferro, estava a Velha. Meu Nemesis. Aquela mesma criatura que me fizera despertar para o pior pesadelo da minha existência.

Eu mal podia entender ou aceitar aquela visão aterradora. Imediatamente pedaços de corpos começaram a brotar das poças de lama espalhadas pelo beco, e eu já não podia ver o Alvo, já coberto por uma das ondas de sangue no mar rubro que começava a se formar ao meu redor. Tentei me levantar, mas já não podia. Com o mesmo riso debochado e insuportável a Velha começou uma lenta caminhada em minha direção. Num esforço desesperado, eu me levantei e comecei a correr. Passos largos e rápidos, mas que não me levavam a lugar algum. Quanto mais eu me afastava, mais ela se aproximava. Por um segundo resolvi voltar-me pra ela e lutar, mas quando tentei fazer isso, descobri que não conseguia mais vê-la. Eu só sabia que ela estava lá, aproximando-se, mas sem poder determinar de onde vinha meu inimigo.

A corrida pelos becos parecia interminável, e quando eu a encontrei novamente ela estava junto de mim, segurando a barra de ferro e gargalhando. Para evitar ir de encontro a meu Nemesis, tentei parar em meu desesperado percurso, e acabei no chão, escorregando e completamente indefeso. Eu já me sentia sufocado pelos miolos e orgãos que flutuavam diante de mim. Quase automaticamente, ergui meu braço em busca do estabilizador. E quase automaticamente, como se fosse capaz de antever meus movimentos, a Velha segurou em meu braço com a força de 10 homens e em um segundo eu não podia fazer mais nada. Meus gritos por socorro sufocavam-se em meio a tanto sangue e vísceras. E eu tentava me debater quando a primeira pancada veio. A Velha acertou minha cabeça com a barra e senti meu rosto esquentar, como se algo tivesse sido arrancado, enquanto observava parte de mim mesmo se dividir como carne podre à minha frente. Eu enlouqueci: não podia vencer a força que mantinha meus membros paralizados, e somente poderia sentir as pancadas desferidas, uma a uma, contra meu crânio. Lembrei-me das palavras de Fred, dizendo "o estabilizador impede que você desperte nos sonhos de outra pessoa", antes de perceber que meu cérebro fervia, e perder a consciência.

Fui arremessado para outro corpo. Um rapaz de vinte anos. E de repente eu nunca mais fui eu. Tentei tomar o controle da situação, mas ninguém permitiu. Os pais do garoto nunca entenderam por que ele mudara tanto e agora falava de invasores de corpos. Eles nunca perceberam que a consciência do filho deles havia morrido e que agora eu estava preso no cérebro do garoto. Eu mesmo nunca entendi. Eu podia falar, me expressar, mas mal tinha o controle do corpo que habitava. Em algumas semanas, nenhum médico soube dizer o que ocorria, e obviamente nenhum deles acreditou em mim. Fui sedado dezenas de vezes e por fim fui internado, onde até hoje sou mantido. A segurança é muito forte, e já sofri diversos abusos, principalmente quando os guardas perceberam que eu não dormia e via tudo que acontecia ali durante a noite.

Hoje eu fecho os olhos à noite e tento acalmar minha respiração. Finjo bem, e quase nunca percebem que estou acordado. Mas minhas olheiras aumentam a cada dia. E lá, no escuro do dormitório onde passo minhas noites, recolho minha mente e tento esquecê-la, já que minha memória fica vagando por aqueles becos onde já estive uma vez, me mostrando sempre a mesma coisa: dessa última vez, meu Nemesis estava diferente. Tinha a mesma feição e o mesmo gosto pelo riso aterrorizante. Mas algo não era como da primeira vez: desta vez a Velha me espreitava com dois enormes e faiscantes olhos verdes.

See Ya

Insônia - Parte Onze
:: [Parte Um] [Parte Dois] [Parte Três] [Parte Quatro] ::
:: [Parte Cinco] [Parte Seis] [Parte Sete] [Parte Oito] ::
:: [Parte Nove] [Parte Dez] ::


Gotas de sangue desciam como navalhas do céu azul manchado pelos gritos e restos das crianças mortas. Simone se afastara de mim e fora ajudar Fred. Ela chegou perto de um dos corpos de criança e o ergueu. E deformando seu próprio rosto para formar uma bocarra repleta de dentes pontiagudos e podres, tragou o pequeno corpo completamente, envolvendo-o com uma língua-serpente que dançava em sua boca infernal.

O quadro estava montado. Se aquilo era realmente o sonho de alguém, essa pessoa iria contorcer-se na cama pelo resto da noite e talvez lembrar-se daquelas cenas pelo resto de sua vida. Teria outros pesadelos por causa deste e possivelmente até algumas noites de insônia. Lentamente eu começava a entender as ordens de Emerson, no carro: 'isso vai mantê-la livre por uns 10 dias', ele havia dito. Finalmente alguma lógica podia ser encontrada em meio àquele caos e desespero.

Mas que lógica era essa? O que queriam essas pessoas do Projeto Insônia? Transformar todos em pessoas perturbadas e fora de controle por causa de pesadelos? Se todos os pesadelos que eles estavam criando eram tão reais quanto fora meu pesadelo com a velha no parque, eles iriam enlouquecer, ao invés de salvar, os alvos do Dreamies.

Contudo, antes que eu pudesse concluir algo, uma luz esbranquiçada e pegajosa nos envolveu, eu, Simone e Fred, e num segundo estávamos numa praia, como que transportados por mágica. O sol brilhava forte no alto do céu e o barulho das ondas chegava aos meus ouvidos como o sussurrar de uma deusa praiana, envolta em espuma do mar.

"O que aconteceu?", perguntei.

"Mudamos de sonho", disse Simone, já recomposta e com olhos verdes faiscantes.

"Então é isso que vocês fazem? Pesadelos?"

Ao longe um casal se entregava às delícias de uma praia deserta em pleno verão. Ambos despidos, começavam um ritual de prazer que já era quase alienígena pra alguém como eu. Sentir prazer e deleite era algo tão longe de mim naquele momento, que por instantes não reconheci o que estava acontecendo. Fred, por outro lado, abriu um sorriso sinistro e entre as sombras nascidas em seu próprio rosto, partiu na direção do enamorado casal.

Novamente os olhos faiscantes de Simone chamaram minha atenção. "Sim, Ale. É isso que fazemos. Não há outra forma de livrar os Alvos da ameaça dos Dreamies. Precisamos construir pesadelos cada vez mais apurados e reais, para evitar que estas malditas criaturas invadam os corpos dos humanos."

"Mas isso vai deixar os Alvos malucos. Se não forem controlados, terminarão por ficar perturbados ou com problemas de insônia, ou, ou... seja como for, tem de haver outra maneira". Meu estômago contorceu-se ao ver Fred arrebentar a cabeça do rapaz a pauladas e depois estuprar a garota. "Ele gosta disso."

Simone meneou a cabeça. Os olhos dela apontavam na direção do mar que agora tingia-se de rubro. "Sim, gosta. Infelizmente, Ale, não é como todos gostariam. É um equilíbrio muito difícil de atingir. Temos de saber as doses corretas para evitar perturbações muito fortes e ao mesmo tempo evitar a invasão dos Dreamies. Não pense que é divertido matar gente. Você não gostou de executar seu Nemesis, mesmo sendo um Dreamie. Imagine quando é um humano."

"Mas eu não matei ninguém de verdade"

"Nem nós. Mas você precisa ver o grau de perturbação quando o próprio Alvo morre em seus sonhos. Chega a ser assustador."

"Isso não está certo, Simone. Eu tenho de fazer algo"

"Não há o que fazer". Ela parecia impaciente. "Ou você faz assim, ou..."

Neste momento, das águas sangrentas do oceano, uma criatura emergiu. Tentáculos longos, negros e escorregadios envolviam um corpo disforme, onde dezenas de olhos de todas as cores giravam e piscavam e sangravam e apontavam em todas as direções. O monstro seguiu na direção de Fred, que correu pra longe do corpo inerte da mulher que ele matara e deixara na areia. "Corram, corram"

Demorei alguns instantes pra conseguir tirar os olhos daquela monstruosidade e virar-me na direção oposta. Simone já corria alguns passos a frente. "O que diabos é aquilo, Simone?"

"O que você acha? Um Dreamie. Aqui eles tomam a forma que desejarem, como nós. O problema é que se um deles nos alcança, pode invadir seu cérebro e tomar você. Claro, se você estiver adorando criar pesadelos, como Fred."

Nesse momento Fred nos alcançou. "E aí, mano? Pronto pra aterrorizar?". A luz branca surgiu mais uma vez e então a praia e o monstro desapareceram.

Ressurgimos num beco. Uma rua escura, apenas iluminada pela penumbra de postes de iluminação distantes. Fred agarrou meu braço. "Esse tá fácil, cara! O clima já está pronto. Você só precisa começar"

Olhei no fundo dos olhos dele. Minha voz saía áspera, quase gritada. "Você parece gostar muito de perturbar os outros"

Ele sorriu estranhamente. "Eu gosto. Isso é bom? Isso é ruim? Eu salvo pessoas todos os dias"

"Salva dos Dreamies pra jogá-las em consultórios psiquiátricos, psicólogos ou hospícios". Eu ainda não começara a gritar, mas minha garganta estava seca e eu já não enxergava muito bem o beco.

"Cara, vai fazer seu trabalho, que é criar pesadelos e me deixa em paz. E não fica pensando muito, não. Faz e pronto. Se você começar a pensar demais, seus padrões cerebrais vão começar a atrair Dreamies e aí a gente tá na bosta!"

Simone, enfim, interveio. "Ei! Não adianta nada vocês ficarem discutindo, isso também vai fazer o nível cerebral do Alvo estourar de tão alto. Vocês sabem o que são 4 mentes trabalhando num único cérebro? Vai chover Dreamies aqui. Deixa ele tentar do jeito dele, Fred."

"Ahh, foda-se!". Fred virou-se de costas e atravessou a rua. "Você sabe o que acontece com caras que pensam como ele!"

See Ya

3.11.03

Invisível

Há pouco eu era sozinho.
E agora, braços vêm me dar força.
Amigos que nunca vi.
Pessoas de quem a voz não conheço.
E outros que conheço até melhor do que a mim mesmo.

Assim é o novo mundo.
Disso vivem os meus neurônios.
Eu sou do mundo, porque do mundo eu me alimento.
E de mim também é dono aquele que sem nunca ter me visto,
Conhece meu sorriso e sorri para este amigo invisível.

* * *

Fiz o poeminha acima para dar de presente a todos aqueles que tem vindo aqui, que tem me apoiado e ajudado a divulgar o Quando Isso. Os útlimos tempos tem sido muito generosos com o meu blog e não posso deixar passar toda essa atenção e todo o carinho em branco.

Agradeço ao meu grande amigo JP, do DeadMilkman; a minha mãe, Dona Cozete e minha irmã Cousetinha; à brilhante e chata (sic) Maris; Maria Fernanda e Márcio, grandes amigos que sempre me dão muito apoio; ao Maxwell Lord, que anda sumido e fazendo falta; aos Estúpidos Raphael, Pajé, Rodrigo e Jan, por serem os amigos perfeitos que são e por sempre estarem lá quando eu preciso; ao Marcelo, que me faz achar os mineiros o povo mais bacana do país; Intuição Feminina, que tem rendido boas conversas e-mails; Glaucia Taricano; Kel; Jack; e Félix. A todos estes agradeço a enorme atenção e as visitas e comentários inspiradores.

Também não posso deixar de falar da Fabi, menininha espoleta, hehehe; da inteligente, intrigante e genial ; do Mestre e Guru Inagaki, grande gafanhoto; da Sense; da Ana Paula; do Bernardo, que tem um dos blogs mais interessantes da rede; do meu xará, Fabricio, do Dark Avenger; da meiga Larissa; da Francine; e da Carolzinha Reis; além de repetir o agradecimento ao Pajé (ooops... Marcel) e ao Rapha. Valeu mesmo todos vocês que tem linkado o Quando Isso e que me ajudam a levar o que escrevo aqui a mais e mais pessoas.

E ao meu pai e ao Dono do Postíbulo não posso esconder meu emocionado agradecimento por me citarem e transcreverem e fazerem a maior propaganda por mim. Eu mesmo não divulgo tanto meu blog.

Enfim, um beijo e um carinho a Minha Linda Elacoelha, que completa este coração e me inspira, me ajuda, me apoia, me ama e me ajuda a tornar minha vida muito melhor.

Para todos os outros, que visitam meu blog, mas nunca deixam comentários, ou se esqueci de alguém que já tenha comentado aqui, muito obrigado também. Espero que a cada dia e a cada post eu possa colocar mais e mais neurônios de todos vocês pra trabalhar duro.

See Ya

PS: preparem-se para ler, em breve, a última parte de Insônia.

31.10.03


Insônia - Parte Dez
:: [Parte Um] [Parte Dois] [Parte Três] [Parte Quatro] ::
:: [Parte Cinco] [Parte Seis] [Parte Sete] [Parte Oito] ::
:: [Parte Nove] ::


Descemos a escadaria e na portaria encontramos um homem, mais velho, cabelos grisalhos, usando roupa social bastante formal. E muito calado. Apenas cumprimentou-me com um 'bem vindo' e não dirigiu uma palavra a mim durante o trajeto, que foi curto. Ele apenas falava rapidamente em uma espécie de rádio, disparando ordens como 'Mande o grupo 4 inserir uma morte horrorosa, talvez da mãe dela. Isso vai mantê-la livre por uns 10 dias'.

Para evitar ficar mais perdido do que estava, eu tentei acompanhar o trajeto e percebi que o centro da cidade estava ainda pior do que em 1999. As ruas e calçadões estavam muito mais cheias de lixo e pessoas dormindo sob beirais e marquises. Prostitutas e bêbados disputavam lugar nos faróis das avenidas, onde nenhum carro atrevia-se a parar, enquanto policiais e capangas matavam ladrões e mendigos nos becos e ruas estreitas, sem dar atenção a quem via ou deixava de ver os acontecimentos. Era ainda mais perturbador ver aquilo sabendo que outra ameaça pairava sobre todos nós: uma invasão de criaturas disformes que nos alcançavam em nossos sonhos e corrompiam nossas mentes, tomando controle de nossos corpos e vontades.

Paramos e entramos em um prédio, que ficava num lugar que eu reconhecia como sendo a Avenida Paulista. Passamos por um porteiro que parecia saber onde estávamos indo e entramos num elevador, desembarcando apenas no 17º andar. Emerson seguia na frente, enquanto Fred, escutando algo alto e estridente no walkman, o seguia e Simone ia ao meu lado, por último. Entramos numa sala bastante aconchegante e Simone me indicou um dos sofás. Um outro homem, também cheio de olheiras, já estava lá, nos aguardando.

"Olá, Alexandre. Eu sou o Dr. Péricles e eu vou ser o Condutor de vocês hoje."

Percebi que Fred e Simone também haviam sentado nas poltronas e estavam recostados e começando a relaxar. "E onde você vai me conduzir?", eu respondi, ainda desconfiado.

"Para dentro da mente de outra pessoa. Através de um processo psico-hipnótico de nível mental elevado, eu transportarei a consciência de vocês três para dentro da mente de outra pessoa, que está dormindo nesse momento, e que já tenha alcançado um nível mental específico que permita que ela sonhe".

Eu acho que ainda estava sob efeito do estabilizador. "Que seja. Estou começando a achar que enlouqueci e isso é só mais um devaneio".

"Apenas tente relaxar. E vou dizer algumas palavras enquanto você relaxa no sofá."

Não posso dizer que ouvi sequer uma palavra, mas senti, em meio a escuridão de meu relaxamento, que o sofá tornara-se pastoso, como eu já sentira antes. Comecei a afundar e tentei segurar-me em algo, ou abrir os olhos e gritar para o doutor que algo saira errado, mas foi em vão. Num segundo eu havia sido engolido pela maciez do sofá e todos os meus sentidos começaram a se misturar: eu ouvia uma leve claridade que surgia, e cheirava um som distante e perturbador de disparos de balas. Um odor fétido atingiu minha língua e enfim eu vi o toque de uma mão no meu ombro. Despertei.

E como num sonho, de repente eu estava em outro lugar. Agora eu estava de pé, num gramado verde, sob um dia azul e ensolarado, e ao meu lado estavam meus novos amigos, Frederico e Simone.

"Sente isso, mano!", disse Fred. "Não é demais? Estamos num sonho. Você percebe como tudo parece prestes a flutuar? E a brisa? Existe brisa num sonho!"

"Não é brisa, Fred", Simone respondeu lacônica. "Tecnicamente é a respiração do dono do sonho influenciando seu pensamento".

"Sonho? Isso é um sonho?", eu disse, desnorteado pela mistura dos sentidos, que agora era uma lembrança distante e muito menos viva do que a paisagem a minha frente. Lá adiante, no gramado, havia uma roda de crianças brincando e a música que cantarolavam chegava aos meus ouvidos como calmas ondulações na água, produzidas pela queda de uma pétala de rosa. "Como é possível?"

Fred abriu os braços. "Bem-vindo ao Projeto Insônia, meu velho. Isso é o que fazemos pra salvar o mundo".

Simone deu um passo em minha direção e tocou meu braço. Sensação boa. E percebi que o rosto dela já não tinha olheiras, mostrando apenas profundos e bonitos olhos verdes. "Estamos no sonho de uma pessoa, Alê. Não sabemos de qual pessoa. É um processo praticamente aleatório. Sei que é difícil compreender, mas você tinha de ver primeiro para conseguir aceitar".

Eu não queria aceitar nada. Aquilo estava fincando um pouco demais pra mim. "Simone, por que?"

"Como assim?"

"Por que eu? Por que eu fui escolhido pelo projeto para fazer parte dessa insanidade e saber de tantas coisas que me perturbam?"

"Infelizmente eu não sei, Alexandre. Ninguém sabe. Algumas pessoas simplesmente despertam um dia. Algumas pessoas, como eu, tem um pesadelo tão terrível que terminam por despertar. Outras, como você, encontram seu Nêmesis e conseguem destruí-lo."

"Meu Nêmesis?"

"Sim, um Dreamie que tentou tomar controle de você, mas você conseguiu dominá-lo e destruí-lo. E então você despertou para esta outra realidade."

Eu simplesmente baixei a cabeça por um momento e desejei estar morto. Ou ter sido dominado por uma dessas criaturas e nunca mais ter controle sobre mim e minha mente. Eu comecei a ouvir a velha gargalhando, como que caçoando da minha vitória, que tinha gosto e cheiro de derrota.

"Você vai se acostumar com os sonhos dos outros, e vai aprender a viver como nós vivemos".

"Sonhos, não.", gritou Fred, fazendo-me olhar em sua direção, simplesmente para vê-lo empunhar uma metralhadora, que surgira do nada, como todas as coisas num sonho. "Pesadelos, Simone. Pesadelos!!!".

E correndo na direção das crianças, acionou a arma, que gritou e retumbou e cuspiu suas balas de sonho (ou pesadelo), que voaram pelo gramado e foram atingí-las. O sangue espalhou-se pelo azul e pelo verde e num segundo, tudo que eu via eram crianças sendo estraçalhadas por balas e gritando estridentemente, pedindo por socorro, enquanto Fred as alvejava e chutava os corpos que jaziam inertes, no chão.

Ao meu lado, Simone, a garota do metrô, sorria. Não. Ela ria, ela gargalhava.

See Ya

Insônia - Parte Nove
:: [Parte Um] [Parte Dois] [Parte Três] [Parte Quatro] ::
:: [Parte Cinco] [Parte Seis] [Parte Sete] [Parte Oito] ::


Ainda demorei uns minutos, pensando, pra entender o que aquilo realmente significava. Enquanto o vapor do café subia e enchia minhas narinas, Fred foi até a janela, onde observava a madrugada transcorrer no centro de São Paulo, enquanto a chuva começava a diminuir.

"Como eles conseguiram? Como fazem isso?", sussurrei.

Fred provavelmente não me ouvira, mas Simone sentou-se mais na beirada da poltrona onde estava, para continuar a me contar sobre toda a bizarrice em que minha vida tinha se transformado. "O que viemos descobrir tempos depois é que os Dreamies estavam morrendo. Nunca soubemos exatamente o que está acontecendo com eles, mas o fato é que eles precisam de corpos para continuarem perpetuando".

"E eles simplesmente tomam os corpos das pessoas? O que evitou que eles dominassem todos os humanos, afinal?"

"Não é tão simples assim. Felizmente. Existem certas condições, a invasão só é possível quando o cérebro humano produz algumas substâncias, características de quando temos bons sonhos. Quando sentimos prazer ao dormir e sonhar".

"Mesmo assim, Simone. Todo mundo dorme e sonha TODAS as noites", eu começava a ficar claustrofóbico em meus próprios pensamentos, imaginando se esses monstros estiveram me espreitando durante meus sonhos. O que os teria impedido de me dominar? Será que eu já estava sob o comando deles e nem mesmo disso sabia? Não! Loucura demais! Mais uma camada de pensamentos e medos suprimidos assentava-se sobre mim.

"Ele chegou", disse Fred, afastando-se da janela. "Temos de nos apressar".

"Ele? Quem é 'ele'?", eu começava a me sentir eufórico de novo. Sentia que estava perdendo o controle. "Fred, responde! Eu estou ficando tonto. Nervoso. Eu quero ir embora! Quero acordar de vez!!". Eu já não tinha mais condições de me manter calmo.

E então Fred apontou na direção do próprio pescoço, como se indicasse que eu fizesse o mesmo. Com o pouco de controle que me restava, levantei minha mão esquerda e tateei meu pescoço com doi dedos. Fred apenas assentiu com a cabeça, quando eu finalmente encontrei algo sob minha pele. Um caroço, era o que parecia, mas quando o toquei por inteiro, percebi o que era: um botão, muito sensível ao toque. E ao pressioná-lo, tive aquela mesma sensação horrível de ter minha cabeça deslocada para longe do meu corpo. Contudo, a seguir senti um alívio, e como se nunca tivesse estado lá, meu desespero iminente e minha tontura desapareceram. Recostei-me no sofá. "O que é isso? O que aconteceu comigo?"

Fred caminhou em direção à porta da sala. "Isso é um estabilizador, Alexandre. Ele impede que você perca o controle, e impede que você desperte nos sonhos de outra pessoa. Lembre-se disso sempre. O estabilizador é muito útil, principalmente considerando que você não vai dormir mais."

Ele sabia o que estava dizendo. Disso eu tinha certeza. E não fosse a recente aplicação do estabilizador, eu teria pirado mais uma vez. "Não vou dormir mais?"

Simone levantou-se. "Por que você acha que temos essas lindas olheiras? Entrar no projeto significa que você nunca mais vai conseguir dormir. Não conseguimos explicar totalmente o que acontece, mas enfim entramos todos numa eterna insônia. Entretanto, digamos que você ainda pudesse dormir, Alê. Você se arriscaria?"

Eu apenas balancei a cabeça, negativamente, enquanto dirigia meu olhar para chão. "E como vocês não enlouquecem?"

"Quem disse que não?", respondeu Fred, antes de rir alto novamente e sair pela porta.

"Simone, eu.."

"Eu sei. Você está muito confuso. Eu entendo. Mas você vai entender tudo. Agora precisamos ir. Emerson vai nos levar até um prédio perto daqui, onde poderemos te mostrar o que o projeto realmente faz para evitar que os humanos sejam dominados".

"Quem é Emerson?".

"O líder do projeto em São Paulo".

See Ya

28.10.03

Insônia - Parte Oito
:: [Parte Um] [Parte Dois] [Parte Três] [Parte Quatro] ::
:: [Parte Cinco] [Parte Seis] [Parte Sete] ::


Duas horas depois eu já havia me recomposto completamente. O mal estar de ter perdido tudo que eu conhecia passou muito rápido. Teve de passar muito rápido, pois eu não parecia estar em condições de refletir sobre nada. A impressão que eu tinha era que cada acontecimento passado: a sensação de matar a velha, o medo de morrer, o sufocamento na escuridão, a perda instantânea de sete anos e todas as pessoas que eu conhecia, tudo aquilo estava acumulando-se em camadas sobre meu corpo, minha mente. Novamente eu não estava longe da verdade.

Naquele momento eu acabara de jantar. Um jantar perfeito, no mesmo prédio onde eu estava antes. Eu estava muito satisfeito, e somente a satisfação que eu tive ao comer pode me garantir que eu havia, de fato, ficado muito tempo fora do ar. Estávamos os três, eu, Frederico e Simone, numa improvisada sala de jantar.

"Vocês querem me dizer que vocês são heróis de algum tipo?"

Frederico riu alto. "Sim, se você tirar o glamour. Nós fazemos parte de um projeto em grande escala, desenvolvido para impedir que a raça humana sucumba diante de um grande problema."

"Qual problema?"

"Há pouco mais de 20 anos, um pesquisador que se dedicava a estudar os sonhos, começou a perceber padrões de comunicação em seus equipamentos que monitoravam os sonhos de seus pacientes."

"Padrões de comunicação? Ele podia se comunicar com o paciente através do sonho?"

"Ele também achou isso a princípio. Mas depois de melhorar o monitoramento e ajustar alguns equipamentos, ele descobriu que estava se comunicando com outro ser. Havia alguém respondendo de dentro dos sonhos de seus pacientes. O ceticismo impediu essa descoberta a princípio, mas quando esse alguém começou a falar direta e objetivamente com a equipe de pesquisa, ficou provado que uma criatura habitava os sonhos dos pacientes. Batizaram essa criatura de Dreamie."

Instantaneamente lembrei-me do que senti quando a velha do meu pesadelo parecera ter tomado vida própria dentro do meu sonho.

"Em pouco tempo souberam que havia milhares de Dreamies: seres conscientes e pensantes que habitavam, em forma de energia, certas ondas cerebrais produzidas por nós durante os sonhos. Nossa curiosidade crescia cada vez mais, e aquela descoberta parecia ser a grande chance da raça humana de se comunicar com outros seres inteligentes. Mas o contato durou pouco. O grupo de pesquisadores foi brutalmente assassinado por três pacientes, que tinham sido controlados pelos Dreamies. Eles mataram o grupo e destruíram o prédio onde eram feitas as pesquisas. A polícia foi chamada e os três foram executados ainda dentro do laboratório, não antes de matarem 2 oficiais."

"Nossa!!! Por que eles fariam isso?"

"Provavelmente para evitar que o conhecimento sobre eles fosse espalhado. A comunidade científica ainda não havia divulgado o fato e se todos os cientistas morressem, a informação poderia ser destruída. Felizmente alguém sobreviveu. Anthony Belbury, um dos pesquisadores, sobreviveu, e fundou o que hoje é o projeto de que fazemos parte."

"Tudo isso foi divulgado depois desse massacre?"

Parecendo pensativa, Simone despertou de seus pensamentos e manifestou-se pela primeira vez. Também pela primeira vez atentei ao seu rosto em detalhes. Sua pele era muito clara, chegando a causar estranhamento, e assim como Fred, ela possuía olheiras muito profundas. "Tentaram divulgar o assunto, mas como depois do atentado as comunicações cessaram, foi impossível provar que era verdade. Mas o pior estava por vir: quando tentaram divulgar mais e mais material sobre o assunto, retaliações começaram a acontecer e o inevitável foi descoberto."

Eu conhecia as palavras que sairiam pela boca de Simone. "Mais pessoas estavam dominadas pelos Dreamies."

"Exatamente."

"Muitas pessoas?"

Frederico sorriu maliciosamente e levantou-se, afastando-se da mesa e indo pra perto de uma garrafa térmica que ficava em outra mesa. "Nada mais do que 25% da população mundial estava sob o controle daquelas criaturas." Encheu e ergueu um copo em minha direção. "Você quer café?"

See Ya

PS: aproveitei pra colocar duas partes de uma vez, pois essa semana vai ser mais difícil de postar. Talvez agora eu só coloque alguma coisa aqui mais no fim da semana.
Insônia - Parte Sete
:: [Parte Um] [Parte Dois] [Parte Três] [Parte Quatro] ::
:: [Parte Cinco] [Parte Seis] ::


Em qualquer situação, eu jamais acreditaria nas palavras de Simone. Não fazia nenhum sentido qualquer das informações que eu tinha recebido até agora. Talvez eu achasse, numa situação normal, que eu ainda estava sonhando. Mas aquela não era uma situação normal. E mesmo indo contra tudo que meu corpo e minha mente diziam, eu comecei a acreditar nela.

"Simone, você está me dizendo que estamos em 2006?"

"Mais precisamente no dia 18 de agosto.", ela respondeu, ainda esperando que eu fosse me revoltar com essa informação, ou exigir que ela provasse que aquilo tudo era verdade. Mas eu já não conseguia. Estivera sete anos preso a uma espécie de coma, onde as sensações eram reais e as situações inusitadas. Sete anos sonhando! Por um momento, até pude achar que tudo aquilo era bom, e que pelo menos algo havia mudado na minha vida normal. Mas o momento passou rápido demais, e tudo que sobrou foi um vazio imenso. Num instante eu percebi o que aquilo significava.

"Quem sabe que eu estou aqui?", eu disse, aterrorizado. Uma dor subia pelo meu braço esquerdo.

Simone olhou-me fixamente. Parecia, mais uma vez, saber exatamente o que eu pensava "Ninguém que você conheça, Alexandre. Para todos que você conhecia, amigos, família, namoradas, colegas de trabalho, a mesma história foi contada: você está morto. Morreu depois de reagir a um assalto. Levou oito tiros. Quatro na cabeça. O caixão foi, obviamente, lacrado."

A dor percorreu meu braço e explodiu em pontadas por todo meu pescoço. Eu mal conseguia falar, e lágrimas cobriram meus olhos. "Como vocês fizeram isso? Com que autoridade? Eu nem sei que porra está acontecendo aqui. Quem é você? O que aconteceu? Me solta dessa cama!! AGORA!!". A dor espalhou-se pelo meu peito e as pontadas eram facadas por todo meu corpo. Em meu devaneio nervoso, via meu sangue jorrar a cada pontada e em segundos eu estava coberto de um líquido vermelho e mal-cheiroso. Fiz muita força contra a cama e o que quer que me prendia a ela, rompeu-se e eu me precipitei para o chão.

"Alexandre, acalme-se. Eu posso..."

Desesperado, eu me ergui e corri pelo aposento, mancando. Eles estavam voltando. Os pedaços de corpos estavam voltando para o meu caminho. Entre as fatias de entranhas que espalhavam-se, eu vi uma porta entreaberta. E em sua direção eu corri. Quando minha mão ensangüentada alcançou a maçaneta, alguém tocou meu ombro. Um homem. Alto. Estranho. Eu o via de forma distorcida. Ele tocou meu pescoço, e quase num segundo, o pânico desaparecera e os pedaços de gente haviam me deixado em paz. Eu estava sentindo algo entre o êxtase e a exaustão. Ajoelhei-me e as lágrimas desceram pelo meu rosto como a tempestade que caía lá fora. O homem virou-se de costas pra mim.

"Pelo menos ele não desmaia mais quando o estabilizamos. Isso é bom". Então ele parou por um momento e virou-se em minha direção novamente. "Meu nome é Frederico, caso ainda não tenham te dito". E então ele sorriu, um sorriso branco no meio de um rosto cansado, coberto de olheiras. "Bem-vindo ao acontecimento mais maluco da sua vida, mano. Você vai amar isso aqui."

See Ya

23.10.03

Insônia - Parte Seis
:: Mais Insônia: [Parte Um] [Parte Dois] [Parte Três] ::
:: [Parte Quatro] [Parte Cinco] ::


"Fred, eu não posso falar agora. O garoto acordou.", eu ouvi, ainda duvidando que podia ouvir e ver normalmente de novo, sem a presença incômoda de pedaços de corpos e cérebros esmigalhados obstruindo meus sentidos.

A pessoa ao telefone só então desligou o aparelho e virou-se em minha direção. E para meu mais completo pânico, pude rapidamente entender que era ela, a garota do metrô, que se aproximava, carregando uma expressão que misturava preocupação e malícia. Enquanto o verde de seus olhos faiscava na parda luz que cobria o ambiente, eu comecei a gritar e me debater.

"Acalme-se!", ordenou ela.

Eu estava preso a algo de metal. Uma algema. Ou seria mesmo uma lâmina enferrujada e banhada em sangue velho? Eu não poderia saber. Todo meu esforço estava em evitar que ela se aproximasse de mim. Mas era inevitável. Sua voz aguda penetrou em meu cérebro junto com o cair violento da chuva e sua mão alcançou meu braço. O toque, quente e macio, quase venceu meu desespero, mas mesmo assim eu me debatia violentamente, como um corpo convulsionando após a decaptação.

A mão dela alcançou meu pescoço e mais uma vez tive a estranha sensação de que ela deslocara minha cabeça uns 30 centímetros para a direita, antes de colocá-la outra vez no lugar. Depois disso eu me acalmei. Veloz e tacitamente um acordo foi estabelecido entre nós. Concedi a ela a permissão de manter meus pensamentos em ordem, e meus sentidos agarrados àquele ambiente. Ela falou, e desta vez seus lábios se moviam.

"Alexandre, agora tudo vai ficar bem. Você despertou. Conseguiu atravessar os escuros domínios dos seus pesadelos e chegou aqui. Você certamente ainda não entende o que estou te dizendo, mas tente relaxar por um momento e poderemos conversar melhor. Meu nome é Simone. Eu vou te ajudar no processo de readaptação."

Ela tinha razão. Eu não estava entendendo nada. O que começara como um pesadelo muito real já estava tomando proporções bizarras demais. Onde eu estava? Onde estava minha casa, minha família, meus amigos? O que realmente acontecera e o que fora sonho?

"São perguntas demais, eu sei.", disse Simone, como se tivesse ouvido meus questionamentos. "Essa conversa será longa. Você pode organizar as perguntas e fazê-las todas, uma a uma."

Concentrei-me e falei, como se nunca tivesse falado em minha vida. Cada palavra que eu pronunciava era um novo universo a minha frente, e muitas delas eram ainda sem sentido.

"Onde estou?"

"Está no centro de São Paulo. Mais precisamente num prédio encravado na Avenida Ipiranga. Consegue se lembrar do centro, da avenida?"

Balancei a cabeça afirmativamente. "Sim. O que aconteceu comigo?"

"Essa resposta ainda é muito complicada pra ser dita de uma só vez. Mas posso te dizer que você rompeu uma barreira enquanto teve aquele sonho. Com a velha."

"Como você sabe sobre..."

"Eu estava lá, Alexandre. Eu vi acontecer."

Minha mente quis rebelar-se, exigindo explicações racionais e imediatas para o que eu acabara de ouvir. Mas minha boca não respondia mais a estímulos violentos. Eu estava exausto. Psicologicamente exausto. Se a garota tivesse dito que eu era apenas um pedaço de cérebro flutuando no infinito eu teria acreditado.

"Há quanto tempo eu estou aqui? Quero dizer, quando eu cheguei aqui? Quando deixei de sonhar?"

"Você deixou de sonhar há alguns minutos, quando despertou nesta sala. Antes disso era tudo um sonho."

Minha percepção começava a se estabilizar. Meu raciocínio lentamente retornava. "Você tinha olhos castanhos, grandes olhos castanhos, na estação do metrô. Eu sonhei com você?"

"Quase isso. Eu estava lá. Lembro de te encontrar no metrô."

"Mas você disse que eu..."

"Eu disse muitas coisas. Sim, você estava sonhando."

Chacoalhei a cabeça rapidamente, num esforço de fazer aquilo tudo se encaixar e ter algum sentido. "Você não me respondeu. Por quanto tempo estive sonhando?"

Ela hesitou. Abriu um pouco a boca, mas nenhuma voz saiu de lá. Olhou para o chão.

"Quanto tempo?", eu insisti.

"Sete anos."

See Ya

22.10.03

You are not the contents of your wallet

Você paga aluguel. Ou não. Pode ser que pague mensalidades da faculdade, ou então as parcelas do seu carro novo. Pode ser o cartão de crédito, ou o plano de saúde. E talvez não seja nada muito "nobre". Seja só dinheiro pra Lan House, pra pagar prostitutas, pra ir à festas, comprar livros, comprar roupas da moda. Dane-se. A verdade é que você precisa de dinheiro. Somente os hipócritas religiosos é que ainda tentam passar a idéia de que uma vida de devoção é uma vida para a pobreza. Fácil dizer isso quando se está dentro de uma igreja toda trabalhada em ouro.

O dinheiro é o objeto que move o mundo com mais força. Mais força do que o sexo, que é instintivo, natural. Dinheiro não é natural. Valor é natural. O dinheiro foi criado para dar nome, propriedade e quantificar o valor que temos, o valor de nosso trabalho. Trabalho. Trabalho é instintivo, natural. Emprego não é. Emprego foi criado por um bando de acumuladores de riquezas que perceberam que agregar o trabalho de diversas pessoas diminuia o valor do trabalho do indivíduo, e o fazia valer menos dinheiro. Você precisa de valor e trabalho. Eles te dão dinheiro e empregos. E você pensa que sempre foi assim e tenta ser feliz com a bosta de vida que tem.

Se pelo menos você é feliz com o seu emprego, você tem algum valor. Mas se você não quer levantar toda manhã pra ir trabalhar, sente-se insatisfeito no fim do dia e quando chega o meio da tarde você não vê a hora de ir pra casa, fica enviando aqueles e-mails com dezenas de bebês com cara de retardados e mão juntas rezando pra que chegue logo a sexta feira ou, na pior das hipóteses, você trabalha apenas pelo dinheiro que ganha, você não vale nem uma pilha de merda seca e dura esmagada por carros na avenida Paulista.

Se este é o caso, você não tem condições nem para se sentir melhor do que um desempregado. Você já é um desempregado. Seu cérebro está desempregado e não tem forças pra te ajudar a sair dessa. Você tem que descarregar um pouco o peso que está sobre suas costas e olhar pra frente de novo. Ir atrás do que é melhor pra você. Ha! Muito boa eu dizer isso pra você que é assim. Você nem deve entender essas palavras. Você se esconde atrás da sua própria vida, dizendo que não tem as chances certas, ou que não tem as habilidade certas, ou que não tem sorte ou condições de largar seu emprego porque paga contas, aluguel, comida para os filhos. Faça um grande favor a si mesmo: GET A FUCKING LIFE!!!!!

Você pode estar velho pra abandonar seu emprego, ou ter que sustentar gente demais para se desprender do dinheiro dessa forma. Então mude sua forma de pensar. Pense em outras formas de aumentar seu valor. De melhorar as condições do seu trabalho, da sua carreira. Vá atrás daquela velha vocação que os anos e a faculdade arrancaram de você. Você não é seu emprego, seu dinheiro, a roupa que usa ou o carro que tem. Você é seu valor, os pensamentos que tem e o que faz com esses pensamentos.

Se há um monte de bosta seca que pode mudar a sua vida, esse monte de bosta seca é você. Chega de ouvir - e aceitar - que você é só mais um e que no fim tudo acaba do mesmo jeito. Você pode fazer a diferença. E ironicamente agora eu devo citar aqueles mesmos religiosos do começo do texto: o primeiro passo para a iluminação, para o auto conhecimento é o desprendimento material. Bem, esqueça o "material". Você tem é que se desprender dos conceitos que te amarraram e enraizaram nessa vidinha medíocre que você leva. Você precisa se conhecer e saber do que realmente é capaz. Aí você pode colocar o pé na estrada e seguir adiante, sabendo que você tem chances de ser bem sucedido ou mal sucedido, mas você está tentando, pelo menos.

See Ya

PS: ontem eu pedi demissão na empresa onde trabalhava e estou indo atrás de um lugar um pouquinho maior ao sol. Pensei em escrever esse texto para todas as pessoas que se sentem mal em seus empregos, como estava me sentindo, mas não tem coragem de pedir as contas. Eu fiz algo para mudar isso, e sim, estou me sentindo um bonito e único floco de neve, todo especial. Obviamente eu estou errado. Mas foda-se. Aproveitem o texto e me deixem com minhas ilusões. =)

21.10.03

Insônia - Parte Cinco
:: Mais Insônia: [Parte Um] [Parte Dois] [Parte Três] ::
:: [Parte Quatro] ::


O som da chuva. Despertei ouvindo o som da chuva. Despertei em pânico. Seria aquilo o início de mais uma sequência de sensações agoniantes e visões aterradoras? Tive medo de abrir os olhos. Eu sabia que iria ver pedaços de cérebro e vísceras. Cabeças pútridas e prisões escuras e macias.

Macias... Eu estava deitado sobre algo macio. Talvez sobre uma cama. Talvez sobre uma pilha de de bebês agonizantes, com suas peles macias e seus berros agudos como chuva caindo sobre um telhado de metal.

Metal... Senti meu braço enregelado. Algo de metal estava preso ao meu braço. Eu não tinha coragem de olhar. Sabia que veria uma lâmina enferrujada e suja de terra rasgando minha já fétida pele.

Lentamente voltei a ouvir o som da chuva lá fora. Eu estava dentro. Dentro do que? Abri os olhos de uma vez. E lá estava eu. Deitado num divã, uma cama, um sofá, ou uma pilha de crianças mortas. Eu jamais me lembrarei. A penumbra do ambiente me trouxe conforto e eu começava a recobrar a consciência. Ao meu redor estavam paredes antigas, com uma decoração antiga. Móveis antigos. Mas havia algo novo: uma pessoa.

Ela observava a chuva, caindo do lado de fora. Sua sombra se estendia pelo chão e encontrava uma cortina, vermelha como sangue novo, como sangue vivo e pulsante. Ela permanecia imóvel diante da janela, esperando, aguardando. E observando. Em suas mãos dançava um telefone. A luz esverdeada no visor parecia um olho me espreitando, como se pudesse me ver e avisá-la sobre o meu despertar.

O silêncio tomava conta de tudo e apenas o distante som da chuva chegava aos meus ouvidos. E aquele barulho estridente surgiu, inesperado. Eu me assustei. Não reconheci o som do telefone tocando. Tudo o que eu pude imaginar e sentir era uma faca penetrando em meu cérebro e esmigalhando o que alcançava e fazendo aquele barulho. Emiti algum som. E a pessoa que olhava para a chuva percebeu meu despertar, enquanto atendia o telefone.

See Ya

20.10.03

Insônia - Parte Quatro
:: Mais Insônia: [Parte Um] [Parte Dois] [Parte Três] ::


Repentinamente lembrei-me da garota do metrô. E essa lembrança me trouxe náuseas, mas também me trouxe um som, que ecoava muito distante em meios aos pedaços de carne podre, ao sangue e ao vômito amarelado e pútrido que agora já fazia parte de mim.

“A – E - A”, eu ouvi.

“A – E - A”, e novamente.

Balancei a cabeça e me concentrei. Tentei enxergar algo através dos destroços humanos que jaziam diante dos meus olhos, e ainda podia ouvir a voz.

“Já chega!”, ouvi desta vez. Aquilo causou em mim uma reação muito estranha: eu sentia uma correnteza me empurrar através dos restos humanos e em um segundo eu estava deslizando naquele mar de pedaços mortos e líquidos regurgitados.

Rapidamente, muito rapidamente, eu me aproximei de um burraco escuro, como um ralo, que me atraía de forma inexorável. E mesmo tentando evitar eu não conseguia parar de me aproximar e de ouvir cada vez mais alto aquela voz.

“Já chega!”.

Cheguei ao buraco e meus olhos puderam ver dentro dele uma cabeça flutuando. Uma cabeça pestilenta, pútrida e desmantelada. Uma cabeça conhecida. Sem cérebro. A maldita velha. Aquele rosto desfigurado que eu havia destruido e matado há pouco tempo. Ela estava de volta. Me senti mal, desorientado e sozinho. Desesperadamente sozinho.

O choque de encontrá-la novamente foi grande demais. Acabara de encontrar meu Nemesis, embora eu não viesse a saber disso tão cedo. Eu gritei, e chorei e vomitei e rodopiei... e enfim perdi meus sentidos novamente. Tudo o que pude ver é que ela estava sorrindo…..... Não!!! Ela estava rindo... gargalhando.

See Ya

18.10.03

Como chegar aqui!

Uma pausa rápida nos capítulos de Insônia. Só queria comentar duas coisas.

Primeiro, um Zilunghiano autêntico procurou meu blog. E o mais incrível é que achou. O Quando Isso era o segundo site da lista do Google para a palavra raky (confiram aqui), que para quem ainda não sabe, é o primeiro termo de uma palavra composta zilunghiana. A palavra completa é raky rgkwy gaskey, e significa nada mais do que "!". Uma exclamação. Mas deixa eu já avisar os que tentarem se aventurar pelo mundo da tradução zilunghiana, que raky rgkwy gaskey só pode ser a primeira ! de uma série de duas exclamações, que venham após uma interjeição de surpresa estupefata, como aygufdkuas erfakye aklyg. Se fosse a segunda exclamação seria galyg alwyg ral gslrgekl tgaleu. Entenderam? Não? Thománoku.

Segundo. Um outro visitante, esse talvez um humano mesmo, foi ao Google e digitou: "bombas caseiras avançadas". E não é que o Quando Isso apareceu ali, na quarta posição. Porra, por um momento lembrei daquele filme!!! Fico feliz em ver o Quando Isso contribuindo para a construção (?!?) de uma sociedade melhor. E se o visitante que chegou aqui procurando isso estiver mesmo afim de construir uma bomba caseira, entre em contato, pois eu tenho uma seleta listinha de alvos.

See Ya

17.10.03

Insônia - Parte Três :::: Mais Insônia: [Parte Um] [Parte Dois]

Acordei tempos depois. Pudesse eu me basear em meu relógio biológico para dizer quanto tempo ficara desacordado, eu teria pensado que ficara uns 50 anos em sono profundo. Eu me sentia velho, enrijecido pelo tempo, podre como um pedaço de carne humana - ou de cérebro humano - deixado na terra para ser devorado pelos vermes.

Lentamente eu abri os olhos e já não haviam pedaços de pessoas em tudo que eu via. Ao invés disso, um negrume, uma escuridão densa e pastosa estava ao meu redor. Quase sufoquei em meio àquela massa escura que formava as sombras que me envolviam. De imediato pensei estar cego, completamente cego, mas me bastaram alguns segundos para que eu percebesse um instigante e sinistro ponto de luz esverdeada me observando à distância. Instintivamente eu tentei me aproximar da luz, mas não importava a força que eu fazia e a velocidade com que me movia, pois a luz continuava lá, distante... fria... imóvel.

Já completamente exausto, tendo percorrido milhas e milhas em direção à luz, eu me rendi e parei. Só neste instante me dei conta que estava ainda deitado e senti todo o peso do meu próprio corpo repousar sobre uma superfície macia e confortável. Aquela era a primeira boa sensação que eu tivera desde aquele maldito sonho, e mesmo desconfiado da circunstância eu não resisti e me entreguei ao conforto. Inocente. Como eu era inocente.

Antes mesmo de poder me sentir menos cansado eu percebi que agora afundava na maciez de meu catre invisível e me sentia cada vez mais apertado, prensado, claustrofóbico. Fui afundando e uma dor começou a tomar conta de minhas pernas. A dor se tornou muito intensa e eu gritei. Mas aos meus ouvidos nenhum som chegou e agora eu me dera conta que também não ouvia nada. Fiquei desesperado. E foi o desespero que acabou de me afundar naquela maciez.

Em pouco tempo eu me sentia preso dentro de um saco de pano, e como um louco eu tentava romper aquele tecido que ironicamente me confortava e me sufocava e prendia. Depois de cravar minhas unhas por diversas vezes em minha prisão confortável, eu finalmente rompi o tecido e meu corpo escorreu como vômito para fora da minha prisão. E eu escorri para dentro da água.

Mas não uma água límpida e clara, e sim um emaranhado de sangue, vísceras e vômito. Eu voltara a enxergar, mas minha visão era tão aterradora que mesmo agora eu acredito que preferia estar cego naqueles momentos. E também podia ouvir o som de meus próprios braços se debatendo e rompendo vísceras e remexendo no vômito que me cercava. Aos poucos todos os meus sentidos voltavam ao normal e lentamente eu me misturava aos restos de gente e ao sangue ao meu redor.

Eu já havia ultrapassado o desespero e alcançara agora um estado de observação. Tudo que eu podia fazer era observar a mim mesmo tentando desvendar essa sequência insana de acontecimentos. Onde eu estava? E por que eu estava ali? Seriam aquelas cenas dilacerantes e mortais algum sinal indicando que eu havia morrido?

See Ya

14.10.03

Insônia - Parte Dois :::: Mais Insônia: [Parte Um]

Eu levantei e caminhei entre partes de cérebros esmigalhadas até o banheiro, onde me lavei com água suja de pele morta que saía da torneira. Os momentos seguintes foram ainda mais perturbadores. Aquelas cenas não me saíam da cabeça e eu mal consegui me trocar. Acabei saindo de casa sem nem ao menos tomar um copo de leite, rumo ao meu trabalho, vendo pedaços daquela maldita mulher para todos os lados.

Eu me sentia sujo. Como se realmente tivesse matado alguém. Estranhamente isso não estava longe da verdade.

Cheguei ao metrô e entrei num vagão completamente cheio. Comecei a me sentir sufocado pelos corpos das pessoas que estavam no meio das víceras e pedaços de cérebros. Todos olhavam para mim como se pensassem: “Por que você a matou?”. Eles não diziam nada, mas eu podia ver atráves de seus olhares. Eu podia ver seus cérebros logo abaixo do crânio. Eles estavam rindo….

Quando as portas do trem se abriram numa estação, meu olhar foi arrancado de dentro do vagão e foi encontrar o olhar de uma mulher que estava na plataforma, sentada num dos bancos da estação. Por alguns segundos eu deixei de ver vísceras e corpos e via apenas os grandes olhos castanhos da mulher. E lá dentro eu via um tornado, um furacão, girando e girando, enquanto me atraía para fora do trem.

A composição se foi e eu fiquei ali, na plataforma, olhando para ela. Ela não era feia ou bonita, alta ou baixa, gorda ou magra, loira ou morena ou ruiva. Eu nem ao menos sabia se ela estava lá ou se era apenas mais um desenho formado entre os corpos que eu via por todo lado.

Então eu pisquei. Exatamente. Eu fechei e abri os olhos em um décimo de segundo. E quando eu olhei novamente na direção dela, ela estava junto a mim, a uma distância em que um palmo não caberia. Aquilo foi um choque para mim, mais por causa da velocidade dela, que era inaceitável para o meu cérebro, do que pelo fato de ela estar perto, pois entre nós ainda havia quilômetros de vísceras.

Ela não mexeu sua boca, mas eu podia ouvir sua voz: “Eu sei o que aconteceu. Eu sei o que você fez. Foi um ato horrível, mas irrepreensível considerando tudo o que você não sabe sobre….”

A última palavra de sua frase chegou aos meus ouvidos distorcida demais para que eu pudesse entender, e tudo que eu senti foi um leve enjôo e um frio na barriga. Ainda lembro de ter visto ela colocar as mãos no meu pescoço e fazer um movimento estranho com ele, mas já não tinha certeza se ela realmente havia feito aquilo ou se eu apenas havia colidido com mais um pedaço de cérebro. Eu apaguei. Ela estava rindo….

See Ya

11.10.03

Insônia - Parte Um

Foi aquele sonho. Eu tenho certeza que foi aquele sonho. Foi aquele sonho que me trouxe aqui e me colocou nessa cama, deixando todos pensarem que agora eu sou um louco, um demente, alguém sem consciência. Mas não adianta começar a contar a história pelo final. Eu quero contar desde o começo.

Era agosto. Os dias eram amenos e as noites muito frias. Durante uma dessas noites eu tive um pesadelo. Mas não um pesadelo comum. Aquele fora o pior pesadelo de toda minha vida até aquele dia. Eu sonhei que estava saindo de um parque de diversões e quando eu passava pela bilheteria, havia uma velhinha, uma velhinha comum, que pegava os ingressos de quem entrava e agradecia pela visita aos que saíam.

E enquanto eu saía, meu olhar cruzou com o daquela amável senhora e de repente eu vi a Essência dela. Bem, eu (assim como você) ainda não sabia o que era Essência, então digamos que eu percebi intuitivamente que ela era má, muito má. Uma mulher vil e sem escrúpulos, capaz de matar, ou de torturar alguém.

Quando eu percebi isso, minha ânsia de atacá-la e evitar que ela cometesse outras atrocidades transformou-se em fúria, e pulando o corrimão que me separava da bilheteria eu comecei a me aproximar dela. Nesse momento algo estranho aconteceu. A velhinha, que até agora parecia apenas uma “personagem” do meu sonho, pareceu ter percebido conscientemente minha fúria contra ela e com violência fechou a única janela que dava acesso à bilheteria.

Eu olhei em volta e de repente havia um rodo em minhas mãos. Sem pensar em me controlar eu comecei a golpear o vidro da janela com o rodo e em alguns instantes ele estava em pedaços. Eu invadi a bilheteria e a velha senhora me encarava. Ela começou a rir…. Ela começou a rir….

Como acontecem nos sonhos, em minhas mãos surgiu uma faca, como aquelas de fatiar carne, com uma lâmina larga e um cabo de plástico duro e preto. O resto você já deve estar imaginando. Eu saltei sobre ela e comecei a golpeá-la. E ela continuava com seu riso que agora se tornara uma gargalhada. Com minha fúria aumentando a cada risada, eu segurei bem firmemente a faca e fatiei, como se fatia uma peça de queijo, a sua cabeça, separando toda a pele do rosto do resto da cabeça. Nesse ponto os risos dela aumentaram e eu fiquei com mais raiva e muito mais medo.

Acho que meu próximo movimento foi algo realmente sanguinário, e o ponto alto do meu sonho de terror: eu me joguei sobre ela e apoiei a lâmina onde antes estava seu nariz. Então eu pressionei e sua cabeça foi partida feito um repolho. Era o fim da velha maldita. Mas não do meu pesadelo.

Antes de largar o corpo inerte daquela mulher no chão, eu ainda olhei para dentro do crânio dela e com toda a força que me restava comecei a esmigalhar o cérebro dela com a faca e no segundo seguinte eu me vi jogando os pedaços do corpo dela num latão de lixo. Só então eu acordei.

Você pode pensar que eu estva banhado em suor e ofegante, mas não. Eu estava paralizado, quieto, sem voz, encolhido entre meus medos e o frio que estava sentindo, já que durante o sonho eu tinha jogado minhas cobertas para longe. Minhas pernas estavam enrijecidas, meus olhos, já abertos, não enxergavam nada além das cenas do pesadelo. Olhei para o relógio e entre vísceras esfaceladas ví que eram quase seis da manhã. Hora de acordar.

See Ya

9.10.03

Mágica

O cheirinho do purê de batatas com carne moída invade minhas curiosas narinas. Todos aqueles aromas de temperos e condimentos pairam por toda a cozinha. Sinto minha mandíbula carregada de saliva enquanto vejo as panelas sendo levadas até a mesa, deixando em seu caminho aquele vaporzinho quente e cheiroso como só os pratos preparados por minha mãe sabem deixar.

Como é que ela consegue? Quando Isso Virar um Blog talvez eu entenda. Mas em sua falsa ingenuidade ainda solta aquele: "Mas nem tinha janta pra você. Eu só esquentei algumas coisas". Eu sorrio, nem sei se por compreender que toda aquela comida tem o gosto de um carinho e um toque de matar qualquer fome, ou se por saber que mais uma vez vou deliciar-me e deleitar-me com uma das melhores coisas nessa vida: um jantar "quebra-galho" preparado pela "Dona" Cozete.

Ahh se vocês pudessem sequer sentir o cheirinho daquele arroz, que podia ser como qualquer outro, mas não é. Daquela torta de abobrinha, que poderia ser qualquer uma, mas não é. E o purê? Ahhh o purê!!! Deleite sem fim, que várias das minhas noites de prazer intenso não alcançariam mesmo que fossem multiplicadas dezenas de vezes.

Que mãos são aquelas que preparam refeições mágicas? Que sensibilidade é aquela que pode adivinhar quando a comida atinge, ainda na panela, o ponto onde deixa de ser deliciosa e passa a ser inesquecível? Que poder é esse, que faz neste rapaz nascer uma Síndrome de Édipo Culinária?

Satisfeito e saciado, eu finalmente deixo a mesa, quase colocando em dúvida o quanto vale a pena morar sozinho. E "Dona" Cozete me presenteia mais uma vez, categoricamente afirmando que posso ir jantar lá quando quiser. Em meus ouvidos apenas pareço ouvir ela dizer que posso sonhar os mais belos sonhos em todas as noites que desejar.

E como filho ingrato que sou, saio da casa de minha mãe já com muitas saudades dela, mas também já pensando em qual vai ser a deliciosa surpresa na próxima vez em que eu for jantar lá.

Alguém me acompanha?

See Ya

7.10.03

Pré-estréia errada de algo que ainda não existe

Na sala de TV do manicômio, dois internos conversam:

- Como você veio parar aqui?
- Puxaram meu tapete na empresa!!
- (espanto) Mas te consideraram louco por perder o emprego?!?
- Mais ou menos... O problema foi eu ter ido lá depois da demissão com uma AR-15.

See Ya

PS: é nóis, Pajé!!!!!

2.10.03

Aquela vontade de postar

É fato que estou sem nenhum tempo para escrever. Contudo, minhas entranhas estão a se contorcer dentro de (não tão) esbelto corpo, pelo fato de eu deixar meus leitores tanto tempo orfãos de novidade neste "cafofo digital".

Vou aproveitar este formigamento literário nos dedos para republicar um post que eu considero um dos melhores do Quando Isso. Ele foi ao ar em 15 de março deste ano, quando o blog tinha apenas 3 dias de vida. Muitos dos leitores que por aqui trafegam hoje nem sabiam da existência do Quando Isso naquela época. Então aproveitem!! E divirtam-se por mim.

Em tempo: Fabiana, o Ócio Criativo, do Domenico De Masi, é um dos melhores livros que eu já li. Vale realmente a pena, pra quem quer ficar ligado nas mudanças de costume de nossa época. Como o próprio De Masi diz: "Vivemos uma mudança de época e não uma época de mudanças".

See Ya.

[Sáb Mar 15 2003, 10:17:42 PM]

Quando isso virar um blog eu vou ter organizadas todas as listas de discussão de que faço parte. Contudo, como isso ainda não tenho, recebi um e-mail de uma lista que eu nem lembrava que fazia parte. É uma mailing list de uma banda chamada Flogging Molly.

Os sete integrantes dessa banda irlandesa do circuito alternativo tem um dos sons mais originais e bem feitos que eu já ouvi. Eles fazem uma junção muito bem trabalhada de música irlandesa (algo entre o folk e o celta) e punk. Exatamente. Música irlandesa e punk unidas, o que deixa qualquer um de queixo caído. O conjunto dos instrumentos (guitarras, bateria, um violino, gaitas de fole, acordeons, e até banjos e bandolins) e o vocalista, Dave King, com aquele sotaque carregadíssimo dos irlandeses fazem dançar e pular até o mais tímido ou o mais emburrado dos ouvintes.



E a versatilidade deles não pára por aí. Eles tem músicas (e letras) que vão do empolgante e engraçado ao melancólico.

Eles possuem 3 discos lançados até agora (ALIVE BEHIND THE GREEN DOOR, SWAGGER e DRUNKEN LULLABIES), além de um single. Particularmente eu prefiro o Swagger, e especialmente a fantática Devil's Dance Floor, cuja versão em formato MP3 vocês podem baixar daqui (3,8Mb), pra conhecer o som. Para quem estiver curioso para ver a desenvoltura dessa banda nos palcos, há uma versão da música Salty Dog em vídeo, que pode-se encontrar no Kazaa Media Desktop.

Pra terminar, vale a pena dar uma olhada em fotos da violinista do Flogging Molly, Bridget Regan, que eu considero uma das mais belas violinistas que conheço (ahhh ,ok ,ok, eu não conheço muitas violinistas, mas ela muito bonita!!). =)

See Ya

1.10.03

Vai ver se eu tô na esquina

Olá. Este é um post automático. No momento eu não posso escrever. Por favor deixe seu comentário após o beep.

piiiiiiiiiiiiiiiiiii









See Ya

27.9.03

Visita da Sorte

Façanha da Ana, do Romantick_Room:



Valeu pela visita, Ana, volte sempre e espero que a visita de número cabalístico dê boa sorte ao seu blog!

See Ya

PS: o desejo de sorte é de bom coração. Mas o número cabalístico, bem, é besteira.

26.9.03

Quem quer ser Lecter van Helsing?

Amanhece mais um dia. A luz acinzentada da manhã deita-se sobre meus pés, ainda na cama, enquanto flocos de neve descrevem seu percurso suicida rumo ao solo gelado, endurecido e cheirando a sangue velho das ruas de Chicago. Percebo que dormi novamente sobre os livros, ou será que foram eles que me fizeram adormecer e ter todos aqueles pesadelos?

Ligo o chuveiro. A água morna arranca do meu rosto os últimos sinais da noite mal dormida e dos pesadelos que a acompanharam, e tal qual um tentáculo saído de um nicho de sombras, minhas memórias sobre a noite passada começam a retornar, ainda espalhando arrepios por meu corpo, como arranhões de uma garra gelada e monstruosa.

Sento-me na cama. A primeira imagem mais nítida que me vem a cabeça é a da garota. Sarah. Sarah era o nome dela. Num minuto eu sentia sua mão trêmula, transpirada e quente sobre a minha própria mão. E em seguida tudo que eu via era uma mulher desesperadoramente histérica, lívida e fora de controle. Seu rosto distorcido como a imagem da própria morte refletida no Lago Michigan, olhando para aquilo que seria seu fim. Olhando para o terrível e assustador tentáculo que partiria seu corpo ao meio no segundo seguinte.

E Barker. Nunca saberemos se nosso companheiro ficara cego ou passara a enxergar tudo que não devia em seu derradeiro momento, antes de ter do peito arrancado o próprio pulmão e ter sido jogado no abismo onde seu espírito se contorcerá para todo o sempre em agonia lancinante e na companhia de devoradores de almas.

Mas eu salvara todo o resto. Todos eles. Idiotas. E agora isso já parecia tão distante e sem importância. Outro espasmo gelado na espinha trouxe-me de volta para o mundo real. Minhas lembranças me deixaram por um segundo, só para que eu percebesse que isso era minha vida agora. Estudar, estudar e estudar. E sempre precisar fugir do objeto de meus conhecimentos. Sempre precisar esquecer o que as sombras das noites geladas traziam para mim. Tentar escapar das mãos e bocas de escuridão que tentavam me envolver a cada noite. Fosse em sonho ou no mundo real.

Esse agora era o meu destino. Conhecer e perseguir criaturas que espreitavam nos cantos escuros das mentes e vidas de pessoas inocentes. Ou não tão inocentes assim. Ignorantes, eu diria, se eu mesmo não soubesse tão pouco dos movimentos realizo neste tabuleiro. E que monstros eram aqueles? Forcei minha mente para buscar a última imagem da noite anterior e tudo que obtive como resposta foi a sombria impressão daquela maldita casa. Uma mansão inteira disposta a engolir tudo e todos ao seu redor. Andávamos por corredores que eram as milhares de gargantas de nosso próprio predador. Toda a realidade tornou-se elástica dentro daquela casa e toda a vida e todas as coisas, até mesmo o ar que em nossos pulmões adentrava, era o próprio sangue da criatura. Tudo ali respeitava a mesma vontade e tinha um mesmo nome. Nyarlatothep.

De um salto coloquei-me em pé. Uma agonia petrificante tomava conta de mim. Minha garganta fechava e meus olhos queimavam imersos em suas órbitas borbulhantes. Minha mente desfazia-se e por um instante vi meu corpo espalhar-se pelo chão. Arrastei-me até a porta e nesse momento descobri que não havia mais portas no mesmo lugar onde elas sempre estiveram. E a cama? E os livros? E o banheiro? Deus. Eu não estava em minha casa! Não mais. Senti um enjôo alastrar-se por meu estômago e como um fugitivo desesperado fui procurar e encontrar a porta em outra parede. Saltei na direção dela e me arrastei pelos metros seguintes. Mas antes que eu pudesse tocá-la, alguém entrou.

Eu estava de volta à cama. A mesma cama. Tudo que consegui reconhecer foi o homem que havia entrado, agora saindo do quarto. Em seu peito, uma identificação gritava claramente o nome de minha nova casa: Hellsburg Sanatorium. E como se ali eu estivesse protegido, eu pude fechar os olhos novamente. Talvez tivesse comprado minha passagem de volta ao mundo da sanidade.

Talvez.

See Ya

PS: o conto acima foi baseado na campanha de RPG Sombras e Metralhadoras, mestrada por este que vos escreve. É uma campanha do jogo Call of Cthulhu, publicado pela Editora Chaosium, que descreve o universo criado por H.P. Lovecraft