29.9.04

Amigo de infância com o dobro da idade


Como vocês já devem ter percebido, gosto de falar de histórias que já não são tão recentes. É que, às vezes, levo um tempo para digerir o que aconteceu e transformar isso em palavras.

Pois então, no sábado do feriado de sete de setembro, portanto no dia quatro, eu tive um trabalho a fazer. Não me importei, pois não ia viajar e já tinha ingresso para o jogo da Seleção contra a Bolívia no domingo. E, sobretudo, era uma atividade de que gosto muito: conversar com professores.

O convite veio da Prefeitura de Indaiatuba (uma cidade no interior de S. Paulo, para quem não sabe) para falar em um evento para professores de ensino fundamental, médio e superior, de escolas públicas e particulares. O assunto era o que é necessário resgatar na prática do professor.

Acontece que antes da minha "palestra", haveria a do escritor Ignácio de Loyola Brandão, -- autor, dentre vários outros, de Não Verás País Nenhum. Meu papel, simplificadamente, era fazer a ponte entre a maneira como ele transforma o mundo cotidiano em literatura, por um lado, e a forma como podemos trazer para a sala de aula as histórias pessoais dos alunos, pelo outro.

Confesso que eu estava meio com o pé atrás (tá bom, tá bom, com os dois pés atrás) pensando que o Loyola seria "a estrela da festa" e eu seria somente o coadjuvante a "traduzir" a fala dele para o tema do evento.

Fomos apresentados cerca de meia hora antes do início e, logo ali, vi que eu estava muito, muito enganado. O cara é totalmente "gente de verdade", se é que vocês me entendem heheh... E o engraçado é que tive, imediatamente, a forte sensação de "amizade à primeira vista". A fala dele não só foi extremamente afetuosa e rica, como ele teve o cuidado de preparar o terreno para a minha, que vinha logo depois. Eu disse lá, e escrevo aqui: tive um agradecimento e uma reclamação a fazer. O agradecimento foi por ele ter feito minha tarefa tão mais fácil e agradável; a reclamação foi por ele ter falado tão bem, pois isso significa que fiquei com a tarefa inglória de falar logo depois para quase trezentas pessoas previamente encantadas!

Bom, em resumo é isso. Desculpem o longo post, mas é algo que me deu vontade de registrar e compartilhar. Quanto a você, Ignácio, se estiver lendo, quero agradecer novamente por duas coisas principais: ter iluminado uma bela manhã de sábado com sua sensibilidade; e ter me mostrado que existe gente de verdade que consegue de forma magistral conquistar seu espaço para ser autêntica. Quanto a mim, a sensação gostosa que ficou foi de ter descoberto um "amigo de infância" que, mesmo tendo o dobro exato da minha idade, parece ter estado por aqui desde sempre...