20.12.04

1984 (com vinte anos de atraso)

... e o que é pior: voluntário! Acho que nem nos piores sonhos o George Orwell pensaria nisso. Vocês viram a história dos celulares com GPS? Resumidamente, os pais vêm comprando celulares com rastreador para saber com exatidão onde seus filhos estão. E não só os pais: namorados, namoradas, maridos e congêneres também estão nessa. No dia 12 de dezembro rolou uma matéria na Folha de S. Paulo sobre isso.

Bom, vamos ouvir os caras um pouco. O que eles argumentam? Que assim podem "ter mais segurança" ao saber onde os filhos/parceiros estão. Detalhe: se o celular for desligado, ou jogado fora pelos bandidos, não adianta nada. Fica só a ilusão do controle. E tem gente que ainda acha que é bonitinho. A matéria traz o depoimento de uma menina que diz se sentir melhor porque sabe que a mãe está velando por ela o tempo todo. Faça-me o favor!!!

Pensem um pouquinho: do que é que abrimos mão para termos as propaladas benesses da tecnologia? E-mail já virou festa. Sala de bate-papo, então, nem se fala. Orkut tá aí, virando a febre daqueles que estão eternamente "em busca da próxima paquera/ficada". As câmeras digitais daqui a pouco vão ser vendidas em lojas de 1,99. E o Photoshop custa 8 reais em qualquer camelô da Santa Ifigênia.
Vejam, eu seria o último a defender a volta à idade da pedra. Minha área não é tecnologia, mas tenho isso tudo aí em cima e mais um pouco (câmera digital, e-mail, Orkut, MSN Messenger... até ICQ de número baixo), mas onde será que a gente determina que ali é o limite para "abrir as pernas"? Será que sequer determina? Será que a necessidade de status, de ser hype, não custa caro demais? Será que "privacidade" vai logo ser um conceito ultrapassado?

Meu companheiro neste cafofo digital optou por não ter celular. Apesar de eu sempre chamá-lo de índio (heheh), começo a achar que ele está é certíssimo -- e é até por isso que eu vou passar parte das minhas férias longe de computador, celular, televisão e carro. Vamos brincar de dar um tempo? ;-)

Quando eu dependia do dinheiro da minha família para viver, não havia celulares. Mas, olhando em retrospecto, acho que dificilmente eu teria um aparelho moderno ao preço de ser vigiado todo o tempo. Naquela época, celular não tinha. Mas eu já tinha lido 1984. E a perspectiva da tal da Teletela me dava um medo absurdo!

PS: Para quem quiser saber mais sobre o livro 1984, este site é legal -- e, no mínimo, serve para saber que a expressão "Big Brother" não foi invenção da Rede Globo...