28.10.03

Insônia - Parte Sete
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Em qualquer situação, eu jamais acreditaria nas palavras de Simone. Não fazia nenhum sentido qualquer das informações que eu tinha recebido até agora. Talvez eu achasse, numa situação normal, que eu ainda estava sonhando. Mas aquela não era uma situação normal. E mesmo indo contra tudo que meu corpo e minha mente diziam, eu comecei a acreditar nela.

"Simone, você está me dizendo que estamos em 2006?"

"Mais precisamente no dia 18 de agosto.", ela respondeu, ainda esperando que eu fosse me revoltar com essa informação, ou exigir que ela provasse que aquilo tudo era verdade. Mas eu já não conseguia. Estivera sete anos preso a uma espécie de coma, onde as sensações eram reais e as situações inusitadas. Sete anos sonhando! Por um momento, até pude achar que tudo aquilo era bom, e que pelo menos algo havia mudado na minha vida normal. Mas o momento passou rápido demais, e tudo que sobrou foi um vazio imenso. Num instante eu percebi o que aquilo significava.

"Quem sabe que eu estou aqui?", eu disse, aterrorizado. Uma dor subia pelo meu braço esquerdo.

Simone olhou-me fixamente. Parecia, mais uma vez, saber exatamente o que eu pensava "Ninguém que você conheça, Alexandre. Para todos que você conhecia, amigos, família, namoradas, colegas de trabalho, a mesma história foi contada: você está morto. Morreu depois de reagir a um assalto. Levou oito tiros. Quatro na cabeça. O caixão foi, obviamente, lacrado."

A dor percorreu meu braço e explodiu em pontadas por todo meu pescoço. Eu mal conseguia falar, e lágrimas cobriram meus olhos. "Como vocês fizeram isso? Com que autoridade? Eu nem sei que porra está acontecendo aqui. Quem é você? O que aconteceu? Me solta dessa cama!! AGORA!!". A dor espalhou-se pelo meu peito e as pontadas eram facadas por todo meu corpo. Em meu devaneio nervoso, via meu sangue jorrar a cada pontada e em segundos eu estava coberto de um líquido vermelho e mal-cheiroso. Fiz muita força contra a cama e o que quer que me prendia a ela, rompeu-se e eu me precipitei para o chão.

"Alexandre, acalme-se. Eu posso..."

Desesperado, eu me ergui e corri pelo aposento, mancando. Eles estavam voltando. Os pedaços de corpos estavam voltando para o meu caminho. Entre as fatias de entranhas que espalhavam-se, eu vi uma porta entreaberta. E em sua direção eu corri. Quando minha mão ensangüentada alcançou a maçaneta, alguém tocou meu ombro. Um homem. Alto. Estranho. Eu o via de forma distorcida. Ele tocou meu pescoço, e quase num segundo, o pânico desaparecera e os pedaços de gente haviam me deixado em paz. Eu estava sentindo algo entre o êxtase e a exaustão. Ajoelhei-me e as lágrimas desceram pelo meu rosto como a tempestade que caía lá fora. O homem virou-se de costas pra mim.

"Pelo menos ele não desmaia mais quando o estabilizamos. Isso é bom". Então ele parou por um momento e virou-se em minha direção novamente. "Meu nome é Frederico, caso ainda não tenham te dito". E então ele sorriu, um sorriso branco no meio de um rosto cansado, coberto de olheiras. "Bem-vindo ao acontecimento mais maluco da sua vida, mano. Você vai amar isso aqui."

See Ya