15.11.03

Dores

Esse post fala sobre distância, e se você não está se distanciando, não deve lê-lo. Por outro lado, se está, talvez não o queira ler. Talvez as próximas linhas sejam um desperdício de tempo e pixels, e não mereçam muito mais do que um clique no "x" que fecha a janela do navegador.

Esse post é para qualquer um que esteja se distanciando de algo ou alguém, mesmo sem se dar conta (diabos, como vou fazer os que não se deram conta ainda perceberem que estão se afastando?). Entretanto, não é só pra qualquer um. Esse post tem endereço certo e alvos objetivos. E nem preciso dizer quem são, para que os mesmos sintam-se citados.

Afastar-se de grandes amigos causa a mesma sensação que aquela percepção repentina, que todos temos às vezes, de que o tempo está passando, e que as coisas que você já fez, sejam boas ou ruins, estão feitas e não podem mais voltar. Ao lado desses caras tudo já aconteceu a mim. Já consolei os bêbados e já fui consolado quando foi a mim que o álcool atacou. Já enfrentamos doenças, mortes, operações. Já discutimos até a exaustão sem chegarmos a conclusão nenhuma. Já brigamos só por que um queria ajudar o outro, mas não soube como. Já ficamos, à noite, olhando pro céu da Avenida Paulista e berrando músicas sem nenhum sentido. Já vimos casamentos, divórcios, brigas, novas e velhas namoradas.

Choramos e sorrimos quase sem motivo. Ficamos desejando boa noite entre nós por muitos minutos, até que cada um fosse pegando no sono. E já fizemos concurso pra ver quem falava "retardado" em menos tempo. Já choramos a morte de um de nós. Já comemoramos a chegada de outros. Já simulamos brigas, já roubamos, já batemos o carro e já viajamos juntos, mesmo sem pegar estrada ou sair de casa. Já quisemos que certos domingos nunca tivessem terminado. Quem vive tem dessas coisas. Enfrenta esses problemas e vive essas façanhas.

A vida me deu a chance de escolher pessoas muito especiais para se tornarem minha verdadeira família. Família por escolha. Pessoas pelas quais eu daria minha vida, mesmo que eu tivesse certeza que não seria recíproco. Pessoas de quem o choro, quando o tempo vier, quero ser o aparador. Pessoas de quem os filhos quero ser o tio maluco e bobo, que talvez nada possa ensinar além de dar valor a uma boa conversa olhando o céu e dando risada. Pessoas que levam consigo meu pensamento, e para quem eu nunca tive vergonha de dizer: eu te amo, e você é parte da melhor coisa que já aconteceu na minha vida.

E hoje, prostrado frente a este blog, com lágrimas nos olhos, pedem que eu entenda. Que talvez seja uma fase, que talvez seja só falta de interesse pelo RPG. Ou que talvez estejamos mesmo crescendo, tendo de aprender a encaixar namoradas, esposas e outros amigos num mesmo convívio. Hoje pedem que eu aceite um afastamento, que nem é grande, mas que eu, talvez num acesso de medo, não esteja enxergando. Grande merda! Eu não quero enxergar porra nenhuma. Hoje quero me alienar, se isso for necessário pra tentar evitar essa fuga, consciente ou não, dessas pessoas especiais.

No último enterro em que eu estive, eu ouvi um conhecido meu dizer pra um amigo: "Poxa, não podemos nos manter afastados. O tempo passa e a gente nem vê!". Depois do enterro ele sumiu de novo. No próximo enterro, talvez, nos falemos. Vai se foder!!! Eu não quero isso pra mim. Não tenho que aceitar essa baboseira e ficar esperando festas e mortes pra ver essas caras. Não quero perceber, aos 70 anos, que fiquei longe demais, embora eu nunca vá saber medir o quanto é bom estar perto.

Se isso tem a ver com crecer, eu acho que as pessoas esqueceram que crescer tem a ver com evoluir. E que evolução é essa onde você se afasta de fiéis escudeiros e pessoas que te fazem bem quando estão por perto?

Essa mensagem era sobre distância. Então que ela vá distante e chegue a todos que precisem dar um chacoalhão em seus relacionamentos. Mas que, principalmente chegue aos olhos e mentes dos meus Estúpidos prediletos (porra, Rapha, custa você sair em UMA foto????).


See Ya

PS: se pra você tudo isso pareceu exagerado, foda-se!