11.12.03

Registros

Já faz um bom tempo e muitas coisas mudaram desde então (bem, nem tantas cosias assim), mas desde Lascaux, e até antes, registrar é algo tão intrínseco, visceral e fisiológico no homem quanto andar, comer ou dormir.

Em sua vertente mais nobre, o resgistro é uma forma memética de procriar, ou de alcançar a eternidade. De livros didáticos a peças teatrais. De cartas de suicídio a blogs. O outro lado da história, o registro mundano, é propagado em e-mails, horários, cronogramas, agendas. É o registro que nos mantêm atualizados e nos torna capazes de organizar a vida moderna.

Durante toda a vida de uma pessoa, ela não conseguiria ler, ver ou ouvir todo o resgistro criado pela humanidade em um único dia, principalmente agora que adentramos a "era da informação". E o mais bizarro, é que toda essa informação certamente se perderá, mas não o registro.

Por natureza, eu sempre registrei tudo. Ainda tenho meu primeiro conto, que escrevi aos 11 anos, e também tenho muitos cadernos onde, mesmo antes dos 11, eu anotava confidências, filmes que eu via apenas na minha cabeça, nomes para os meus brinquedos, etc...

E mesmo com tanta afinidade com o ato em si, sempre tive muita dificuldade em manter registrado fatos, tarefas e ordens que precisasse realizar. Lições de casa, pegar a chave de casa quando for para casa, botar o lixo para fora, ligar para alguém, são só alguns exemplos de tarefas e fatos que meu cérebro não guarda e que portanto eu deveria manter registrados em outro lugar.

Dono de uma hiperatividade ímpar, em breve deverei também usar registros para assegurar-me de que tranquei as portas de casa, ou para ter um lugar fixo para guardar a carteira ou os sapatos. E porque? Por que nego-me a tratar esta hiperatividade para resolver este problema.

Por que coisas assim me fazem pensar se o registro deixou de ser nosso passaporte para a imortalidade e tornou-se nosso carrasco, de quem apanhamos e somos dependentes. Por que me questiono se realmente preciso anotar tantas coisas e saber muitas outras. Será que estamos registrando demais? Será que ultrapassamos o limite de assimilar fatos e informações? Ou será que eu sou apenas mais um deficiente mental que vai viver preso a lembretes, relatórios, recados e posts?

Quando isso virar um blog talvez eu deixe de registrar e passe a entender. Deixe de assimilar e comece a absorver. Mas até lá, isso fica registrado para a posteridade.

See Ya