21.10.03

Insônia - Parte Cinco
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O som da chuva. Despertei ouvindo o som da chuva. Despertei em pânico. Seria aquilo o início de mais uma sequência de sensações agoniantes e visões aterradoras? Tive medo de abrir os olhos. Eu sabia que iria ver pedaços de cérebro e vísceras. Cabeças pútridas e prisões escuras e macias.

Macias... Eu estava deitado sobre algo macio. Talvez sobre uma cama. Talvez sobre uma pilha de de bebês agonizantes, com suas peles macias e seus berros agudos como chuva caindo sobre um telhado de metal.

Metal... Senti meu braço enregelado. Algo de metal estava preso ao meu braço. Eu não tinha coragem de olhar. Sabia que veria uma lâmina enferrujada e suja de terra rasgando minha já fétida pele.

Lentamente voltei a ouvir o som da chuva lá fora. Eu estava dentro. Dentro do que? Abri os olhos de uma vez. E lá estava eu. Deitado num divã, uma cama, um sofá, ou uma pilha de crianças mortas. Eu jamais me lembrarei. A penumbra do ambiente me trouxe conforto e eu começava a recobrar a consciência. Ao meu redor estavam paredes antigas, com uma decoração antiga. Móveis antigos. Mas havia algo novo: uma pessoa.

Ela observava a chuva, caindo do lado de fora. Sua sombra se estendia pelo chão e encontrava uma cortina, vermelha como sangue novo, como sangue vivo e pulsante. Ela permanecia imóvel diante da janela, esperando, aguardando. E observando. Em suas mãos dançava um telefone. A luz esverdeada no visor parecia um olho me espreitando, como se pudesse me ver e avisá-la sobre o meu despertar.

O silêncio tomava conta de tudo e apenas o distante som da chuva chegava aos meus ouvidos. E aquele barulho estridente surgiu, inesperado. Eu me assustei. Não reconheci o som do telefone tocando. Tudo o que eu pude imaginar e sentir era uma faca penetrando em meu cérebro e esmigalhando o que alcançava e fazendo aquele barulho. Emiti algum som. E a pessoa que olhava para a chuva percebeu meu despertar, enquanto atendia o telefone.

See Ya