30.1.04

Pornô Grafia

Escrever é como fazer sexo. Eu escrevo como faço sexo, embora eu tenha o vocabulário maior em um, e a gramática maior em outro, mesmo que falar em maior, na literatura ou no sexo, seja um campo arriscado.

Eu cortejo as palavras, as levo pra jantar, talvez um cineminha. Peço para que me levem de volta, pois na literatura, como no sexo, eu ando a pé, eu gosto de olhar, de apreciar, de sentir o ar e de imaginar o caminho. Eu ando a pé. E como elas me levam de volta, eu convido pra entrar. Pra conhecer a casa, pra ver de perto de onde sai aquele fogo que eu tenho, tanto na tela como na cama. Depois disso são preliminares, parágrafos, gemidos, onomatopéias, vaivem, argumentos, clímax, clímax, carinhos, pontos finais.

Eu faço sexo como quem escreve, mas não sei de rimas. Não sei versos ou redondilhas, pois não sou poeta. E poetas não fazem sexo como literatura. Fazem amor como poesias. Não levam pra jantar, mas oferecem uma flor e um beijo doce como uma carícia na pele trêmula e quente. Não convidam pra entrar, pois fazem ali mesmo, mostrando que amor, como literatura, não tem lugar certo, nem jeito certo. E depois disso são carícias, versos brancos, sussurros, interjeições, cadência, ritmo, deleite, versos heróicos, paz e rimas.

E há quem escreva como quem trepa, mas não eu, pois pouco entendo de termos e vulgaridades. Jornalistas escrevem como trepam. Chegam e logo querem o texto batido, o pinto metido e logo passam a outros textos e pintos. Não há jantar, como no sexo, mas reuniões, como em bacanais. E depois são só camisinhas, frieza editorial, gritos fingidos, gramática fajuta, penetração, texto seco e reto, gozada, sensacionalismo imbecil, pagamento, clichês.

Eu escrevo como faço sexo. E meu chefe nem desconfia que agora estou dando uma rapidinha.

See Ya