11.1.04

Despedida

Não dá mais. Estou num ponto onde não há mais opções. O abismo está por todos os lados, e eu só tenho que escolher em qual precipício quero me jogar. Eu sinceramente não sei como alguns de vocês simplesmente conseguem. Vocês gostam mesmo de viver assim, ou têm tanto medo de mudar que ninguém se mexe, na esperança de que o fim não virá?

Eu tentei continuar no ritmo, o frenético passar dos momentos, vivendo assim, tentando aceitar algumas coisas e compreender outras. Tentando me importar e mostrar aos outros que eu me importava. Mas sempre faltou alguma coisa. Sempre falta o motivo. Há algum motivo real pra se querer ter um carro, ou um telefone celular? Há algum motivo real pra cultuar o corpo, ter um emprego de verdade, ver televisão? Há razão pra orar?

Se eu nunca mais limpar ou arrumar minha casa as pessoas ainda viriam me visitar? Se eu queimar minha bicicleta e engordar 250kg as pessoas ainda vão querer minha companhia, ou só vão sentir pena quando passar por elas? As pessoas gostam das pessoas ou das situações? Ou das coisas? Se eu escrevesse aqui que adoro fotos de crianças trepando alguns de vocês ainda voltariam aqui?

Quando eu reclamar do meu emprego e dizer que não é isso que eu quero, mesmo ganhando bem e tendo estabilidade, quantos de vocês vão me chamar de esnobe? Ou vão pensar que eu reclamo de barriga cheia? Minha barriga está mais cheia que meu cérebro. E isso me preocupa.

Por isso vim me despedir. Acenar por uma última vez, ao longe, para os que ficam. E não pensem que há razão pra se despedir, ou acenar. Pois não há. Não esperem encontrar conforto, esperança ou um motivo quando estiverem velando sobre minha carcaça gelada e feliz. E se mesmo assim vocês quiserem inventar um motivo, por não suportarem viver nessa realidade suspensa, digam que foi por diversão que eu fui embora. Eu não poderia ter ido pra mudar alguma coisa, pois ninguém pode mudar nada, a não ser em casos muito restritos e ilusórios. Eu não poderia ter ido por fé, ou justiça, pois já há gente demais pendurada nessas cordas podres que sustentam a humanidade. Tampouco sairia por aí na esperança de descobrir que o mundo não é real, pois essa dureza e essa frieza e essa falta de linearidade são as únicas coisas, além das idiossincrasias, que me fazem ser apaixonado por essa droga de vida e não colocar logo um fim nessa eterna falta de razão.

Só pode ser, então, por diversão. Eu vou me divertir, mas pra que eu possa mesmo fazer isso tenho de me despedir. E se você encontrar comigo na rua e eu disser: "Prazer em conhecê-lo!", mesmo que eu já te conheça há 15 anos, ignore. Provavelmente você está imaginando coisas. Corra pra casa, agarre sua bíblia e seu controle remoto e logo você estará sentindo-se melhor! E se você não conseguir dormir ou sentir-se bem de novo, me ligue. Ou melhor. Eu ligo pra você. E aí posso tirar você da cama no meio da madrugada e te ensinar um pouco mais sobre como se divertir de verdade. Mesmo porque você não sairia de madrugada se não fosse pra se divertir, certo? Haveria alguma razão pra ser diferente?

See Ya