25.5.04

Últimas vezes

- Oi.
- Oi!?
- Oi. Você é o Guilherme?
- Sou. E você?
- Eu sou Amanda. Não lembra de mim?
- Amanda? Putz, desculpa. Não me lembro. Você tava na festa, semana passada?
- Não. Tudo bem você não lembrar de mim. Eu fiquei um tempo, há uns anos, saindo com o Paulo, seu amigo.
- Sei. Hmm. Olha, desculpa mesmo. Não me lembro. Mas e aí, tudo bem?
- Sim. Indo. E o Paulo, tem falado com ele?
- O que? A música tá muito alta!! E eu já to meio bêbado. Não te escutei direito.
- O Paulo!! Você ainda tem contato com ele?
- Ahhh, o Paulo. Não, não tenho mais contato. O Paulo morreu!
- O que?!? Morreu? Quando? Como?
- Acidente de trânsito. Já faz uns seis anos. Pensei que você soubesse.
- Não.
- É, morreu. Calma aí, não precisa chorar. Ei, calma aí. Desculpa. Quer tomar alguma coisa?
- Não. Tá tudo bem. Eu acho. Só não esperava ouvir isso. Eu gostei muito dele na época. Ele tinha uma namorada. Verônica, eu acho. Eu era a outra.
- Orra! Olha o Paulo. Nem pra dividir com os amigos.
- ...
- Então.
- A gente acabou brigando, ele saiu fulo da minha casa na última vez que nos vimos. Nunca mais falei com ele. Queria que ele tivesse sido feliz.
- Porra, vocês brigaram? Vai ver que foi por isso que o cara me ligou na última noite, dizendo que tava indo pro Clube, que tinha brigado com ela. Pensei que fosse a mina dele, mas não. Era você.
- Ele morreu nesse dia?!
- Opa! Mal aí. Olha, senta aqui um pouco. Sei lá, vou pegar uma água pra você. Não, não chora assim não.
- Não... não precisa. Sabe o que é? É que de repente algo muito forte foi morto aqui dentro. Sabe quando você tá saindo da adolescência e acha que o mundo vai se abrir pra você? Ele era muito próximo nessa época, e eu sempre fantasiei que o mundo se abriria diante de nós dois juntos. Mas um dia nós brigamos e ele se foi. Sempre achei que no futuro a gente ia se ver de novo. Até podíamos ser amigos. Sei lá, talvez rolasse algo outra vez. Sabe? E isso morreu. De repente a frieza de saber que tudo só acontece uma vez me deu um soco na boca do estômago.
- É. Só. Aí, mina. Fica mais um tempo aí. Dança um pouco. Eu posso ficar com você se isso for ajudar.
- ...
- Ei, também não precisa ir embora assim. Calma aí. Foi na boa que eu falei. Ahh, que mina doida!
- Que foi, cara?
- Sei lá, Juninho, puta mina estranha aparece aqui, sabe que meu nome é Guilherme, pergunta do Paulo. Aquele que morreu, sabe?
- cara, seu nome não é Guilherme. É Rodrigo! Porra, acorda!
- Putz.. aí, até falei que eu tava meio bêbado. Ahhh, putz. Bom, mal aí. Agora já era.
- Só.
- É.

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