19.5.04

A força do épico

Não posso dizer que tenha gostado de muitos filmes do diretor alemão Wolfgang Petersen. Com distância de dez anos entre cada filme dele que apreciei (Inimigo Meu, de 1985, e Epidemia, de 1995), Tróia acabou se adiantando um pouco, e de forma nenhuma me surpreendeu: eu já esperava um épico de tirar o fôlego, uma produção forte e cativante, como nas velhos histórias de heróis.

Apesar de um pouco cansativo em seus primeiros minutos, logo que o filme é embalado pelas dúvidas e tensões entre seus protagonistas é impossível se desligar da sequência de batalhas, sejam físicas, ou psicológicas, que a trama proporciona.

Especialmente arrebatadora está a atuação de Brad Pitt, como o legendário Aquiles, tanto em seus momentos de sabedoria, dignos de um filósofo grego. Ou de suas habilidades belicosas, dignas de um soldado espartano. Ou ainda de seus renovados dotes físicos, dignos de um deus do Olimpo. De longa data já sou fã notório do sr. Pitt, e devo admitir, ainda que suspeito, que Aquiles é um dos melhores papéis já encarnados pelo ator. Em todos os momentos em que cenas fortes foram necessárias, Pitt soube dosar como ninguém toda sua habilidade de atuação. Os diálogos (ou combates) com Príamo (Peter O'Toole), Breseida (Siri Svegler) e Heitor (Eric Bana) foram os pontos altos do filme, e em todos Brad Pitt estava formidável.

Eric Bana foi uma grande surpresa, pois confesso que não esperava muito do ator que havia encarnado a versão humana do gigante verde babão Hulk anteriormente. Em certos momentos ele foi brilhante e grandioso, fazendo-me lembrar até da atuação de Vigo Mortensen como Aragorn, em Senhor dos Anéis.

E por falar em Senhor dos Anéis, enquanto Sean Bean ficou realmente bom como Ulisses (ou Odisseu), Orlando Bloom foi um fiasco como Páris. Ouvi pessoas dizendo que o papel não era lá essas coisas, mas para o papel do "culpado" pela guerra entre gregos e troianos, Bloom hesitou demais em usar sua capacidade de fazer sentirem pena do garoto inocente e assustado que acredita no amor e no sacrifício. E não soube disfarçar sua extrema intimidade com o arco, adquirida na pele do Príncipe Élfico da Floresta Negra. Ainda posso elogiar muito os papéis de Breseida, Príamo e Agamenon, e dizer que Helena de Tróia estava deplorável, por não ser metade do que deveria ser bonita e por ter o dobro de inexpressividade do que se gostaria.

A produção do filme é impecável e muito bem dirigida, de forma que fatores puramente técnicos não tomaram a frente dos bons atores. O figurino está perfeito, assim como a fotografia está bem dosada e sóbria, algo raro neste momento em Hollywood.


Tróia, trocando em miúdos, realmente possui aquele ar de épico, onde atuações fortes nos levam a navegar por um mundo de histórias grandiosas, cheias de heroísmo e sacrifícios. Acredito que a produção tenha conseguido escapar de muitas falhas comuns no cinema americano atual, especialmente daquela em que os filmes se tornam super produções devido ao dinheiro gasto e ao peso do marketing, ao invés de fazer isso pelo que é mostrado na tela, quando as luzes se apagam.

See Ya