27.8.03

História de mau gosto

ATENÇÃO: não leiam essa história. Ou leiam por sua conta e risco.

Clarice saiu saltitando de dentro do Instituto de Química da USP. Havia passado na disciplina de DNA Recombinante. E ainda mais. Seu orientador havia aceito sua idéia para desenvolver sua tese num assunto que ela adorava: sequenciamento de genes do agente causador da Malária. Ela estava radiante.

Desceu até o ponto de ônibus e ali esperou que sua condução chegasse. O ônibus demorou, mas nada importava, pois Clarice estava muito contente. Quando o ônibus finalmente parou no ponto, ele subiu, passou pela catraca e ajeitou-se em seu acento. O ônibus estava quase vazio.

Então ela reparou que um rapaz a observava atentamente (pra não dizer que babava nela!!). Obviamente isso a deixou um tanto confortada, com o ego inflado momentaneamente. E não só porque o rapaz era bem apessoado e a olhava com uma discrição incrível. Mas também por que isso significava que ela estava mais bonita. Mais satisfeita com o próprio corpo, por assim dizer. Já havia 8 meses que ela terminara sua dieta e desde então repousara confortavelmente em seu peso ideal e mantinha seu corpo da forma como gostaria, tirando uma coisinha ou outra, claro (mulheres NUNCA estão satisfeitas nesse quesito).

Por um instante ela deixou sua mente divagar sobre sua própria beleza, sua capacidade de atrair e então ela lembrou-se de Rogério. Ele era seu noivo. Um rapaz muito determinado, que aos tenros 26 anos já possuia sua própria empresa, pequena é claro, mas com oportunidades bastante promissoras. E ela o amava muito além disso: Rogério era muito carinhoso, atencioso e muito bom de cama. Claro que existiam problemas também: por vezes trabalhava demais e parecia amar mais a empresa do que sua noiva; e Clarice nunca colocaria a mão no fogo pela fidelidade de seu noivo. Mas eram felizes. E iriam se casar no início de janeiro, dali a 2 meses.

Finalmente o ônibus chegou ao bairro da Liberdade, onde Clarice sempre descia. Ela lembrou-se que seu pai adorava alguns docinhos orientais que se podia encontrar por ali e como a relação entre eles tinha melhorado muito desde que ela saíra da adolescência (chegando a felicidade de os dois, só os dois, irem passar um final de semana se curtindo na casa de um tio), ela decidiu comprar um pouco para fazer uma surpresa, e toda feliz foi descendo do ônibus e já procurando a lojinha com os olhos.

Não viu que o ônibus parara longe do meio fio, e que outro ônibus se aproximava. A pancada foi fatal. E em dois segundos, um corpo de 60 Kg, inteligente e feliz estava espalhado por mais de 6 metros de asfalto. Clarice morreu. E deixou de existir como se nunca tivesse pisado sobre a superfície do planeta.

See Ya

PS: agora levanta a bunda daí, reinicia o cérebro e vai dar um beijo (ou um oi, ou um telefonema) em algumas pessoas que são importantes pra vc, vai!