31.7.03

Ser mais feliz

Tive uma conversa rápida, e muito sincera, com um amigo. Na verdade, um conhecido, que considero muito, mas com quem não tenho intimidades, não compartilho segredos, não conheço a fundo. Enfim, posso, e vou, chamá-lo de amigo.

A conversa foi rápida, num fim de tarde, em um escritório. Ele me disse, que, assim como eu, sempre teve a facilidade de manter um ar muito positivo, alegre, "alto astral", como dizem por aí. Mas que com o passar dos anos, manter esse status tem se tornado difícil, cada vez mais difícil.

Ele é um pouco mais velho do que eu, mas eu tive que concordar que também tenho sentido esta dificuldade, como se a vida estivesse, aos poucos, minando, ou ainda melhor, roendo o forte apoio que me mantém feliz na maior parte do tempo.

Às vezes a vida faz isso usando pessoas, pois hoje me sinto cansado e entediado de conviver com a maioria das pessoas com quem convivo, diariamente ou não. E às vezes faz parecer que são as coisas, pois venho, a cada dia, me "desapegando" de ter mais coisas, pois estas não causam mais aquele frisson de antes, ou trazem novidades, desafios, etc, etc...

Disse a este amigo que nossa ânsia (minha e dele) de ajudarmos a todos, de querermos bem todo mundo, de tentarmos ter um milhão de amigos (terá o Rei conseguido?) talvez tenha cansado um pouco nosso espírito livre. Tenha nos mostrado o quanto estamos cercados de pessoas que querem ajuda e mais nada, e que não estão dispostas a fazerem nada por si mesmas e que sempre preferem se apegar a uma falsa esperança do que ao trabalho que é se cuidarem. Talvez eu tenha, já há algum tempo, percebido como vivo rodeado de medíocres e idiotas, e como eu mesmo tenho sido medíocre e idiota a ponto de achar que eu poderia (ou deveria) tentar ajudar (e ser ajudado) e ser amigo de todos.

Nossa conversa parou mais ou menos nesse ponto, onde sugerimos que uma troca de amizades, troca de ambientes, troca de vida, poderia ajudar. Mas eu acho que vai além. E isso já entra no campo do "ser" e do "ter" que já discuti amplamente, em especial com um outro amigo meu.

Acho que hoje as pessoas são ligadas demais ao TER, ao invés do SER, e a amizade, a ligação, a relação, acaba sendo valorizadas por fatores que não permitem a evolução de tal relacionamento.

Muitas das pessoas do meu convívio se aproximam (umas das outras e/ou de mim) por puro interesse. Por perceber (ou não) que o outro tem algo vantajoso a oferecer. E certamente boa parte dos que eu conheço acabam perdendo a noção do valor de, por exemplo, uma tarde de bate-papo. Sem confidências, sem novidades, sem fofocas. Sem um precisar TER algo pra oferecer, que não seja seu próprio SER. Uma simples troca de palavras, discussões, conversas com o único intuito de se distrair e passar alguns momentos agradáveis, no meio dessa vida dantesca que levamos.

E então eu proponho que todos vocês, fiés (ou novos, ou infiéis) leitores do Quando Isso parem um minuto pra pensarem nas suas amizades, nos seus namoros, nos seus empregos, e tentem perceber quais dessas relações TEM vocês, possuem e consomem vocês e quais delas SÃO vocês, com harmonia e sinceridade. E então proponho que, se tiverem forças pra deixarem de ser medíocres nas relações que TEM vocês, procurem algo melhor, que talvez não traga tantas vantagens (amparo, proteção, sexo, dinheiro, status, auto-estima), mas que proporcionem a vocês uma vida mais completa e mais útil (pra vocês mesmos). Resolvam relações, joguem limpo, rompam com quem tiverem de romper e declarem-se a quem tiverem de se declarar.

E se vocês, como eu, estiverem achando mais difícil a cada dia se manter "pra cima" e alegres, verão que deixar relações e pessoas medíocres para trás pode ajudar um bocado.

See Ya