28.6.03

Happy Fucking Birthday

788.400.000 segundos. Vinte e cinco anos. Houve um tempo em que essa era toda a vida que se tinha. Muitos jovens poetas retrataram isso, enquanto morriam cedo, devido a tuberculose, ou à cirrose avançada, graças a uma vida de boemia presos a um mundo que não podiam suportar e de onde a única, e breve, saída era a bebida.

Todo ano, quando meu aniversário se aproxima eu penso especialmente na minha morte. "Nossa, que assunto mórbido para se utilizar num post de aniversário, uma data tão feliz". Talvez alguns de vocês tenham pensado isso. Se pensaram, melhor continuarem a ler para ver que este post versa sobre um assunto muito mais importante que a morte. Este post trafega em outros campos, menos mórbidos e mais urgentes. Menos fatalistas e mais desconcertantes. Hoje eu vim aqui pra falar que não basta atravessar esta porra de vida como um espectro que finge se enamorar pelas atividades dos vivos. É preciso realmente viver.

E você acha que o que você tem é vida? Você acha que sentado aí, atrás de uma mesa de escritório no Yázigi você está vivo? Acha que enchendo o rabo de dinheiro você está vivo? Acha que casando e tendo filhos você está vivo? Acha que tendo um emprego que você gosta você está vivendo? Tendo móveis de luxo? Morando sozinho? Publicando um blog? Trepando 15 vezes por semana? Espero que vocês não achem isso.

Estar vivo é saber, mas saber mesmo, que a cada minuto você tem pelo menos 60 chances de deixar de existir. De acabar. E não usar isso pra se tornar um ser mórbido que acha que viver é se esfregar em paredes no Madame Satã. Ou se voltar para um pastor ou padre que tem as mesmas dúvidas que você, mas que finge ter as respostas, e depositar nele ou numa figura estúpida pendurada numa cruz, a esperança de que tudo vai ficar bem. Para viver você precisa acreditar em você, acima de tudo. E não adianta correr para os braços do Lair Ribeiro, pois auto-ajuda não é um bote salva-vidas. Não se entupa de ler livros de admistração do tempo, da felicidade, do ócio, da puta que o pariu.

Entupa-se de você mesmo. Aprenda a perceber cada limite do seu corpo, da sua mente, da sua alma. Entenda que o grande milagre aqui é você mesmo. Que ninguém vai te conhecer melhor do que você mesmo, se você assim o desejar. Pare de se esconder atrás do seu cargo, do seu marido, do seu dinheiro, da Bíblia, do seu chefe. Faça por você e faça você mesmo. Eu já joguei muito tempo fora, e de uns anos pra cá eu tenho percebido o quanto isso já faz falta. Tente imaginar o quanto vai fazer quando você tiver 50, 70 anos.

Uma vez o Jan me perguntou como eu conseguia levantar todos os dias sem acreditar que a vida tem um sentido, que a morte era o fim e ponto final. Vou dizer o que respondi pra ele nesse dia: "Jan, vai se foder. Me deixa dormir em paz!" Hehehehehe. Não foi muito profundo, eu concordo. Mas pensei uns minutos e depois disse que na verdade o fato de que tudo vai acabar pra mim, cedo ou tarde, é que fazia eu me mover. Eu, diferente de vocês que acreditam em reencarnação, só tenho uma chance, uma vez. Não vou poder voltar para aprender mais e evoluir meu espírito. O que tenho que fazer, tenho que fazer agora. Tenho que viver agora.

E foi assim que 25 anos se passaram diante dos meus olhos. Eu que já achei quase tudo aquilo ali acima, que já me esfreguei em muita parede, que já perdi pessoas muito queridas pra sempre. Foram bons, na verdade ótimos, 25 anos, nos quais eu já fiz muita besteira, já errei muito, já fiz muitas amizades que sei que são pra sempre, já conheci a pessoa ao lado de quem quero me deitar em meu sono eterno, mas acima de tudo, já acreditei completamente em mim, já me entreguei completamente a esta insanidade coletiva que chamamos de vida. Não me arrependo nenhum pouco. E só espero que os anos, ou dias, ou minutos que estão a minha frente sejam propícios para que eu me entregua ainda mais. Feliz aniversário, Fabricio.

See Ya

PS: este post eu dedico a todas as pessoas que se importaram em me parabenizar, fossem atrasados, adiantados, por telefone, fax, e-mail, ICQ ou até pessoalmente. Fico realmente lisonjeado por todas as palavras de carinho que recebi e quero dizer que considero demais todos vocês. Com alguns eu já briguei muito, com outros eu causei muita decepção e mágoa, e com outros ainda eu nem tive tempo de conviver, pois são amizades tão novas e já tão apuradas. Em especial quero agradecer à Elaine (por ser a pessoa especial, de um modo todo especial que ela é, me aceitando totalmente maluco como eu sou), ao Jan (que é o mais sábio entre os Estúpidos), aos meus mais do que amados amigos do Yázigi (que tanto se preocupam comigo e me apoiam), ao meu pai (pelo bonito post sobre meu aniversário no blog dele), a minha mãe (que tem um carinho todo diferente, e me apoia em absolutamente tudo que eu decida fazer de bom pra mim) e ao JP (um cara muito esquisito, mas que eu soube que era meu irmão logo de início).