22.6.03

Quando isso virar um blog

"Vou fechar as portas do Quando Isso, encerrar atividades, parar de escrever um blog".

Foi exatamente este o pensamento que me ocorreu quando sentei para escrever este post. Exatamente este. E fiquei por minutos matutando esta idéia. Como matar meu post, sem causar impacto na minha vida e sem chatear meus poucos, mas ainda fiéis leitores?

"Eram três da tarde. Minha respiração ofegante criava pequenas nuvens de vapor, que se dissipavam diante da minha própria boca. Eu estava dentro do carro, ainda imaginando como faria para atravessar a rua e entrar naquela casa e executar meu alvo. O trabalho era sujo, mas alguém tinh de fazê-lo, e infelizmente a pessoa mais indicada era eu mesmo."

Bom, eu simplesmente poderia escrever um post avisando a todos os leitores que não escreveria mais. Mas certamente eu ficaria por horas pensando num post bom pra encerrar as atividades. Falaria sobre as angústias de deixar um trabalho inacabado, ou não enfrentar este desafio. E isso eu não queria.

"Entrar na casa foi fácil, e mais simples ainda foi encontrar o quarto, onde estava meu alvo, sentado diante do computador. Segurei firme o cabo da faca que estava em meu bolso. Tinha que acabar logo com isso, antes que eu começasse a pensar em todos os momentos que ele não havia vivído. Tudo que não tinha escrito e todas as opiniões que não tinha ouvido sobre seu trabalho. Enfim, começasse a pensar em tudo que minha vítima não tinha terminado em sua vida. E isso eu não queria."

Eu poderia fazer uma figura, bem bonitinha, com um plaquinha pendurada e balançando, com os dizeres: blog desativado. Ou melhor, fodam-se todos. Simplesmente não vou mais escrever. Desapareço, não respondo aos e-mails e aos comentários reclamando ou apoiando o fim disso.

"Eu poderia amarrá-lo primeiro, e ir decepando cada membro. Bem devagar, vendo o sangue escorrer e encher e pintar e manchar todas as paredes desse quarto. Ou então... que se dane, vou enfiar logo essa faca até o cabo no peito desse paspalho e deixar ele aí. Jogado. Quando a polícia chegar só vai ter um bloco frio e desengonçado de carne para recolher. Avancei sobre ele. Tirei a faca do bolso. Mas alguém entrava no quarto e eu precisei pular e me esconder atrás de uma porta. Droga."

Porra, eu gosto dessa merda de blog. É um lixo muito grande perto de blogs maravilhosos que eu leio. Mas eu adoro esse lugar. E enfim, foi o trabalho e todas as tarefas malucas da vida que me impediram de escrever mais. Eu tenho estado sem tempo pra porra nenhuma. Nem pra mim. E já vi isso acontecer antes e sei a merda que deu. Eu não quero, e não vou, deixar a falta de tempo pra mim mesmo estragar tudo de novo.

"Fiquei espreitando. Parado, sem emitir um som ou sequer respirar. Um senhor entrou no quarto. Bem vestido: terno marrom, cabelos coloridos de uma série de cores, livro de RPG embaixo do braço. No rosto, a expressão e as feições de muitos amigos de minha vítima. Amigos que não via há tempos. No coração as mágoas de relacionamentos deixados à margem da vida por ondas de trabalho e estresse. O homem parou às costas da MINHA vítima e puxou um relógio. O tempo ali corria freneticamente e preso a ele estava uma bomba. E eu ali, deixaria que outra pessoa matasse minha vítima? Nem fodendo."

Quando isso virar um blog eu acabo com essa porra, destruo o blog, mato, enterro e rezo missa de sétimo dia. Mas quando eu quiser, e com propriedade. E não deixando que o tempo simplesmente o tome de mim assim como já tomou outras tantas coisas. Obviamente eu vou demorar pra escrever às vezes. Isso pode deixar meus leitores chateados. Eu posso perder público. E não digo foda-se. Eu também estou aqui pelo público. Quando isso virar um blog, acaba. Mas ainda não virou.

"Atraquei-me com o misterioso invasor. Ele era muito forte, e começou a usar contra mim tudo que tinha roubado de minha vítima. O tempo do relógio se apressava cada vez mais, mas eu não deixaria outro terminar meu trabalho. De jeito nenhum. Puxei a faca e não descansei enquanto não vi a lâmina desaparecer dentro do invasor. Enfim, ele cedeu, e o relógio finalmente voltou ao seu passo normal. Levantei-me do chão e decidi sair do quarto. Minha vítima ainda veria muitas coisas. Mas eu estava no comando a não a matara por vontade própria. Não tive piedade. Tive uma crise de consciência. E sei como elas acabam."

De fato é difícil manter um blog, mas... ahhhh, quem foi que disse que as coisas por aqui são fáceis. Então ele fica. Pra felicidade de poucos e continuando indiferente para a maioria. E agora que ele passou e continua vivo eu quero falar um pouco sobre a morte. Não a dele, mas a minha. Eu volto logo.

See Ya