6.6.03

Prospectiva e realidade

Na época das eleições para presidente da república, no ano passado, um e-mail andou circulando por todo canto, contendo o que seria uma "engraçada" prospectiva dos fatos que ocorreriam caso Lula fosse eleito presidente do Brasil. Correta ou não, esta prospectiva levou um amigo meu a guardar esta mensagem, e de acordo com a passagem do primeiro semestre de 2003 ele foi, em uma lista de discussão, publicando os fatos reais e os comparando aos da prospectiva. Publico agora a versão completa, incluindo todas as datas citadas no tal e-mail.

Marcelo Barros (o supracitado amigo) é uma pessoa que considero bastante culta e politizada. Ele trabalha com educação há vários anos, especialmente voltado para a língua inglesa e é especializado em desenho instrucional. Enfim, eu não ia colocar aqui o texto e a opinião de qualquer Zé Mané. Portanto podem ler, que o texto é bom.

Só para orientar: os textos da prospectiva começam com "P:". Os textos em negrito e iniciados por "R:" (de Realidade) são os trechos comparativos do Marcelo. Datas são datas!!

10 de janeiro
P: Lula assume com o dólar a R$ 4,20. Nomeia um bom economista ortodoxo para o BC, mas coloca o "brilhante" Mercadante na Fazenda.

R: Lula assume no dia 1º com o dólar a R$ 3,52. Nomeia Henrique Meirelles, ex-presidente mundial do BankBoston, para o BC, e coloca o médico Antonio Palocci na Fazenda. A "prima donna" que é o mercado reage bem.


15 de janeiro
P: Diante da política fiscal equivocada implementada por Mercadante, o presidente do BC renuncia. O dólar vai a R$ 5,5 e a inflação dispara.

R: Palocci mantém as bases da política fiscal do governo anterior e convoca a sociedade para discutir uma reforma tributária, que viria junto às reformas política e da Previdência. O dólar cai a R$ 3,29 e a FIPE observa tendência de queda da inflação.


30 de janeiro
P: Os radicais do partido juntam-se ao PSTU e o MST e rompem com o partido. A base de apoio no congresso se esfarela. A família Sarney, o PTB e o PL começam a cobrar cada vez mais caro pelo apoio.

R: Os radicais do PT têm sua voz nas decisões do governo, apesar das eventuais e esperadas dissonâncias (notadamente a posição da senadora Heloisa Helena quanto à nomeação de Meirelles para a presidência do BC). A base de apoio no congresso começa a se consolidar, especialmente devido à indicação do deputado petista João Paulo para a presidência da câmara e do senador e ex-presidente José Sarney para a presidência do Senado -- abrindo caminho para uma possível composição com o PMDB.


15 de fevereiro
P: O dólar bate em R$ 6. Os sindicatos começam a pressionar por indexação salarial, já que a inflação atingiu 30% em termos anuais.

R: O dólar fecha a sexta-feira, dia 14, valendo R$ 3,66. Este é o valor mais alto do ano -- pressionado, sobretudo, pela ameça de guerra do oligofrênico que preside os Estados Unidos. A Central Sindical aventa a possibilidade de um "gatilho salarial", imediatamente rechaçada pelo governo, pela oposição (?) e pelas demais organizações sindicais. Os bancos prevêem uma inflação anual de 9,6% a 12% em 2003. A de janeiro foi 2,35% (IPCA), refletindo parte dos reajustes de combustíveis, telefonia móvel, energia elétrica e mensalidades escolares. A FIPE prevê queda nos índices para os próximos meses.


01 de março
P: Mercadante renuncia após Lula ceder aos radicais e decretar uma indexação semestral dos salários. Como conseqüência o dólar atinge R$ 6,5. O risco Brasil a esta altura está em 4000 pontos. A moratória é só uma questão de tempo.O FMI se nega a manter o acordo.

R: O ministro da fazenda continua sendo Antonio Palocci -- que foi passar o carnaval em Salvador no camarote do ministro da cultura, Gilberto Gil. Não há sequer cogitação sobre indexação de salários. O dólar fechou a última sexta-feira, dia 28/02/2003, cotado a R$ 3,55 (baixa na semana de 1,24%). O risco-Brasil está em 1.182 pontos, que é o nível de junho do ano passado. Não há risco de moratória e os acordos com o FMI permanecem como acertados.


15 de março
P: O governo centraliza o câmbio. O fluxo de capitais externos para o país seca totalmente. O Brasil não tem mais um centavo de crédito no exterior. O dólar é fixado em R$ 7 no oficial, mas no black já alcança R$ 10.

R: O governo mantém a política de câmbio que herdou da administração anterior. O fluxo de capitais externos para o país aumenta, com a valorização dos C-bonds (principais títulos brasileiros no exterior) e a captação de US$ 250 milhões pelo Banco Safra na sexta-feira. O dólar cai 1.86% na semana e fecha cotado a R$ 3,43 -- mesmo apesar da iminente guerra ilegítima de Mr. Bush, Jr.


01 de abril
P: Os detentores da dívida interna já não aceitam rolar um título sequer. Diante disso, o governo decide promover uma reestruturação da dívida. A
poupança de todos nos é trocada por títulos de 20 anos que são negociados no mercado por 15% do valor de face.

R: A dívida interna está, na realidade, um pouco menor do que no governo FHC (NN% vs NN%) e não há nenhuma intenção de promover uma reestruturação. As regras da poupança permanecem as mesmas, inclusive com a garantia do governo de até R$ 20.000,00 por CPF em cada instituição financeira.

Só para acrescentar, o dólar comercial fechou em queda hoje, atingindo pelo terceiro dia seguido o valor mais baixo desde 16 de janeiro, e encerrou o dia vendido por R$ 3,315 (compra a R$ 3,312) pela taxa do Banco Central, uma queda de 1,16% em relação ao fechamento do dia anterior.

Além disso, o risco-Brasil caiu 5,24%, cotado a 993 pontos. É a primeira vez que o risco do Brasil cai abaixo dos 1.000 pontos desde o dia 31 de maio do ano passado. Nas vésperas do segundo turno das eleições presidenciais brasileiras, o risco chegou a beirar os 2.500 pontos, passando a cair após as ações econômicas do governo Lula. Medido pelo banco J.P. Morgan com base nos títulos das dívidas dos países emergentes, a taxa de risco é o principal termômetro para medir a desconfiança dos investidores em relação a um país.



15 de abril
P: Começam os panelaços.

R: Panelaços???!!! Dólar: R$ 3,15. Risco-país: 884 pontos.


30 de abril
P: Filas quilométricas nas embaixadas para conseguir um visto. Lula põe a culpa de tudo em FHC e nos especuladores. O povo não quer saber.

R: Pelo jeito quem escreveu esse texto original era argentino -- eles têm um certo pendor para o êxodo. Não há nenhum movimento sensível de emigração (a não ser, talvez, em Governador Valadares). Dólar: R$ 2,91. Risco-país: 818 pontos.


15 de maio:
P: A situação é insustentável. o país está à beira do caos. Os poucos líderes da esquerda que permanecem fiéis a Lula culpam as "elites".
No Congresso começa a transitar uma emenda constitucional propondo o parlamentarismo.

R: A situação permanece tranqüila. Na política, a única oposição relevante que o governo enfrenta é dentro do próprio PT, dos chamados "radicais" do partido (especificamente a senadora Heloísa Helena e os deputados Babá e Luciana Genro). Na economia, o dólar fechou o dia a R$ 2,97 -- e isso porque subiu 2,66% sobre a última quarta-feira. O risco-país está em 813 pontos, após ter caído abaixo de 800 pontos.


01 de junho
P: Lula se mata. Em carta de despedida diz que o sonho dele era virar um mártir do Brasil e deseja que seja feita uma estátua igual ao do ROCK BALBOA na principal praça de São Bernardo do Campo. Dólar despenca para R$ 5.

R: O cara que escreveu isso devia estar viajando em ácido... Enfim, vamos lá: Afora uma bursite e o excesso de peso (que levou a uma dieta que já o fez perder 8 quilos) Lula está bem de saúde. O dólar não chegou sequer perto de R$ 5,00, fechando a sexta-feira em R$ 2,97.


02 de junho
P: No velório do LULA, com todos os petistas vermelhos chorando e exigindo que o último desejo do barbudo fosse realizado, um homem-bomba da Al-Qaeda detona uma bomba. Todos os petistas morrem. Dólar derrete para R$ 2,5.

R: O cara que escreveu isso deve ter algum problema com vermelho... Aliás, uma pergunta: "um homem-bomba detona uma bomba" não é uma redundância? Enfim, os petistas estão todos aí: os tradicionais; os de ocasião; os recém-convertidos; e os mais famosos hoje em dia: os radicais (estilo Heloísa Helena). O dólar fechou hoje a R$ 2,98.


E então? Gostaram? Aposto que os adeptos do Apocalipse Pós Eleição, que apostaram que Lula ia afundar o Brasil de uma vez, que achavam que os militares tomariam o poder não gostaram. Preferiam a versão prevista, e não a real. Obviamente os partidários do Maluf também não gostaram, mas esses eu não conto. Não incluo gente burra em minhas estatísticas.

See Ya