5.6.03

Doze dias

Doze dias sem postar. Doze intermináveis dias sem sequer expressar minhas idéias, dentro do blog ou fora dele.

Durante muito tempo tudo que eu escrevia e falava e pensava chegava a pouquíssimas pessoas. Eram poucas, normalmente as mesmas, e suspeitíssimas as pessoas que ouviam meu discurso. Pai, mãe, namorada, amigos próximos, professores (queridos ou não) eram os meus pacientes e atentos ouvintes. Não quero aqui desdenhar da atenção deles, que na verdade me incitaram a querer mais. Mais público, mais assunto, mais argumentos. Mais crítica ácida. Mas obviamente havia, e ainda há, certa suspeita nos comentários e opiniões deles, já que sempre fica aquela sensação de que querem me agradar.

De qualquer forma, eu terminei por seguir em frente. Fui fazer teatro. Fui jogar RPG. Fui escrever livros (que invariavelmente não ficavam prontos). Eu me acostumei a me expressar, a ter essa liberdade. A falar o que eu queria, quando e para quem eu quisesse.

Definitivamente isso me tornou um comunicador. Certamente minhas opiniões, meus argumentos, conhecimentos e habilidades de expressão foram, e ainda são, parcas, mas isso nunca me impediu de me comunicar, de me expressar, dizer o que sentia, vivia e entendia do mundo ao meu redor. Recentemente até iniciei uma discussão muito agradável com a Bárbara sobre a incomunicabilidade dos seres humanos, e acabei por aceitar que estamos todos representando monólogos. E por ter me tornado o comunicador que hoje, aqui, se mostra num blog qualquer, eu percebi que tenho como objetivo transformar monólogos em diálogos, quiça "trialogos", ou "multiálogos".

Dado este objetivo quase que natural e visceral que em mim se desenvolveu, vocês devem ser capazes de imaginar como me senti mal por estar impedido sequer de pensar ou escrever enquanto estive preso a um certo trabalho que tive de terminar com urgência e concentração e que me manteve afastado daqui e de outras tantas coisas durante estes doze dias.

Doze dias. Muito podia ter acontecido nesse tempo. Muito aconteceu. Outra guerra podia ter começado. O mundo poderia ter acabado (se é que já não acabou). A educação no Brasil podia ter melhorado. Um atentado terrorista poderia ter acontecido. Eu poderia ter morrido. Mas não morri. E agora eu voltei. Dessa vez pra ficar.

See Ya