5.9.06


Em Brasília, dezenove horas

Muita coisa aconteceu nesse tempo em que eu estive longe daqui. E uma delas foi uma viagem a Brasília, a trabalho, no começo de julho.

Tenho sentimentos diferentes sobre aquele lugar. Quando olho o conjunto arquitetônico, os ideais que a inspiraram, a tradução em concreto das idéias e ideologias... isso tudo emoldurado pela paisagem e o pôr-do-sol do Planalto Central, minha sensação é de uma beleza que não cabe nos olhos.

Mas quando me lembro do que se passa no interior daqueles prédios, das negociatas que infestam os corredores, da mediocridade e desonestidade que parecem formar um pântano onde quase todos (com raras exceções) chafurdam, a sensação de beleza escorre pelos dedos e é substituída pelo mais puro e legítimo asco.

Pois dessa vez tive a infeliz oportunidade de não só pensar e me lembrar da sacanagem generalizada, como também de presenciá-la in loco e em pleno funcionamento. É que eu nunca havia entrado no Congresso Nacional. Já tinha visto por fora e tirado fotos, mas essa foi a primeira vez que eu realmente entrei no prédio. Junto com alguns amigos, visitei os plenários da Câmara e do Senado. Desânimo total.

Na Câmara tive o desprazer de ouvir um discurso daquela aberração política chamada Jair Bolsonaro (PP-RJ), o tal que, dentre outras sandices, falou que se vir dois homens juntos na rua vai partir para a violência contra eles; o que não é de se espantar, visto que ele é policial militar -- e provavelmente uma bichona enrustida. Enquanto ele vociferava em seu português indigente DE NOVO sobre a redução da maioridade penal, ninguém (dos pouquíssimos presentes) prestava atenção; pois estavam falando ao celular, ou uns com os outros, ou aéreos... enfim, agindo com o mesmo descaso que eles têm por nós, eleitores.

No Senado quem discursava era o Eduardo Azeredo (PSDB-MG), aquele da turma do valerioduto. Mesmo absenteísmo, mesma desatenção (inclusive da inflamada Heloísa Helena em sua indefectível blusinha branca de primeira comunhão), mesmo abandono. E, ao sair para a praça ensolarada e olhar esse céu azul maravilhoso aí da foto, eu não conseguia deixar de sentir a dor de saber que fomos nós que os escolhemos e que é o meu, o nosso, dinheiro que sustenta toda essa pantomima...

Agora temos novas eleições chegando. O desfile de candidatos parece um circo de horrores. As falas são risíveis (ou "choráveis", no geral). As propostas, inexistentes. Princípios, então, sem chance. E a gente fica entre anular o voto ou escolher os "menos piores". Tudo bem que a escolha é nossa. E talvez a falta de escolha também seja. E que seja inerente à democracia a mais variada gama de postulantes. Mas que tá difícil, tá. E muito... Boa sorte em outubro. Para todos nós.

PS: Ainda volto à questão das eleições. Mas primeiro tem que passar a indigestão.