27.4.06

O real e o rótulo

Não há nada sob a máscara, de fato. Talvez uma idéia, ou uma outra máscara. Talvez menos que isso. E exatamente por nada haver, é que não há como tirar a máscara, realmente. Eu já me perguntei centenas de vezes se valeria a pena toda essa força e essa dor para arrancar a (mais uma) máscara. Não, não vale. Pois não há nada sob ela.

Vejam, o real e o rótulo são o mesmo, pois não existe realidade sem rótulo. Vã inocência é a daqueles que acreditam numa existência irrotulável. Repito: não façam força para arrancar a máscara. Vocês não serão covardes, serão sensatos e coerentes. A minha busca é a dos rostos invisíveis, das bocas imóveis e das órbitas vazias. Força, tanta força e dor não para retirar algo que nos é intrínseco, mas para desapegar-se de tantas camadas sobrepostas.

O real e o rótulo são o mesmo. Perceber que escapar de um rótulo nada mais é do que vestir outro já não pode mais me incomodar, pois o rótulo em si não faz a diferença (se você não deixar), mas sim os questionamentos que te levaram a este caminho e o que este caminho te deu em retorno. Desapegue-se do rótulo, até ter força para se desapegar do real e ser obrigado a escolher outro, e outro, e outro. Você pode até escolher por escolher (o que tornaria isso tudo muito ridículo) mas você não pode questionar por questionar. E não questionar (ou ter medo de) é, isso sim, covardia. É mediocre demais. É felicidade da qual não compartilharei.

Que eu não seja nada depois de tanto questionar. Que eu não consiga acompanhar tantas mudanças depois de tanto questionar. Que eu não entenda nada depois de tanto questionar. A aceitação, a tolerância e o reconhecimento (e porque não o conformismo?) virão, pois também sou fraco e covarde. Mas terão de bater muito mais forte do quem têm feito até agora. Por hora, segurem-se firmes em seus medos de não acharem nada sob a máscara final (ou encarem a briga de frente), já que a minha artilharia pesada ainda nem começou.

See Ya

PS: não quero fazer deste texto mais um tributo à beleza que é nossas mentes funcionarem de forma tão diferente, ou em direção tão oposta, por vezes. Mas que estes posts-debate são um marco na história do QI, isso são.