7.5.06

Ainda sobre máscaras

Este debate está bem interessante. Mas algo me diz que enquanto estamos aqui nessas reflexões, uma parte acachapante do mundo que nos cerca está a cada minuto tornando-se mais expert em máscaras, véus, (des)crenças e (des)valores...

Para ilustrar e ampliar nossa conversa, trago alguns textos que venho colecionando desde o início deste ano. O primeiro fala sobre o aumento progressivo de cirurgias plásticas entre jovens cada vez mais novos. Dentre outras "pérolas", este trecho: O cirurgião plástico Leonard Bannet, da clínica Santé, concorda com ela: "Uma garota que concorre no mercado amoroso quer ter um corpo compatível". Ele não vê problemas em contar, por exemplo, que já "lipou" jovens na faixa dos 14 anos. A coluna toda está aqui.

Na mesma época li outro texto, este sobre o trabalho de meninas de 13, 14 anos como modelos em desfiles de moda. Se estiver a fim, leia- o aqui (só a título de mais uma ilustração).

Mas eu já tinha até desistido de "chover no molhado" desse assunto. Aí pintou o debate aqui no QI e, ao mesmo tempo, uma reportagem sobre uma megabalada em um resort cinco estrelas para jovens "bem-nascidos" (!) ou, pelo menos, "bem-endinheirados". Um trecho dela: Bem, mas os "chatôs" pagaram de R$ 840 a R$ 2.490 por um fim de semana prolongado de festas à tarde e à noite -um total de dez horas em cada um dos três dias-, com pensão completa e direito a pular, gritar e arremessar objetos do quarto uns nos outros (um funcionário do hotel informa que foi preciso retirar os extintores de incêndio do corredor para evitar desenlaces tenebrosos). Se estiver a fim, leia o resto aqui. Vale a pena -- mas aviso que pode ser meio indigesto.

Depois de reler tudo isso, e considerando que já estou nesta vida há tempo suficiente para saber que são os filhos da elite que são sempre os "donos do poder", vocês hão de convir que dá para ter uma visão meio desanimadora do futuro... Coisas de quem está ficando velho, provavelmente. Só (mais) um adendo: havia uma música-símbolo da ditadura militar, da dupla Don e Ravel, chamada "Eu te amo meu Brasil" e cujo refrão terminava com "ninguém segura a juventude do Brasil". Socorro!

E o que isso tem a ver com o resto da conversa, afinal? Bom, na minha cabeça estranha, tem a ver com o fato de que as tais máscaras, tão bem exemplificadas nesses textos, estão tomando o lugar do que deveria haver sob elas em velocidade e intensidade estonteantes -- a ponto de eu ter a sensação que daqui a algum tempo elas serão a única e hegemônica referência. Fabricio fala do câncer da geração dele; do não-questionar; da felicidade à custa de antidepressivos e comerciais de TV. A pergunta que fica é: será que estamos condenados à convivência com essa referência dominante? Não me parece a melhor perspectiva do mundo... Alguém me arruma uma grana para uma lipo? ;-)

PS 1: De tanta coisa interessante que meu blogmate escreveu aí embaixo, o que achei mais curioso foi a opção pelo termo "artilharia". É, realmente é uma guerra. Surda, suja e violenta. Guerra, afinal.

PS 2: Só para deixar registrado, é claro que sei que nem todo mundo é como os nefastos personagens desses textos. Eu mesmo tenho a sorte de conhecer duas ou três pessoas bem jovens que têm outros valores -- e que infelizmente pagam um preço alto por isso.

PS 3: E para aproveitar a questão das máscaras sorridentes, recomendo o filme "V de Vingança" -- uma reflexão legal sobre valores, corrupção, ideais... e sobre o que pode significar uma máscara. Fica a dica.