24.4.06

A conspiração dos rostos invisíveis

É estranho sentir falta da própria tristeza. Perceber-se imerso no fastio de tudo que nos cerca e sentir-se ingrato com seus próprios sentimentos e ações. Vivemos para sermos felizes, e nada mais. Mas quando a felicidade incomoda um pouco (e quem se atreveria a dizer que incomoda demais?) é que entendo coisas que aconteceram antes e coisas que acontecem agora. Nesses momentos entendo que não fomos feitos para a felicidade, mas para a frustração e o lamento, a solidão e o sofrimento.

Veja, não é que eu queira ser triste ou amargurado. Não é que eu decida expurgar de mim todas as boas coisas ou me livrar de pessoas e momentos que me enchem de alegria e me deiaxm repleto de felicidade e plenitude. Essas escolhas eu não faço, não fazemos. Mesmo quando pensamos que fazemos. Certos sentimentos e atitudes simplesmente não estão dentro de nós.

Talvez seja apenas o câncer de minha geração, mas a verdade e que fui e sou feliz. A verdade é que já detestei toda essa felicidade e já desejei ser mais triste. A verdade é que já invejei Byron e Coubain. A verdade, amigos, é que tenho a mim presa esta maldita máscara sorridente, ditando coisas horríveis para minha mente. Não consigo me desapegar da felicidade, mas preciso aprender a ver além dela. Pois que maldito ópio é este que cega meus olhos reais, minha boca real, minha mão real? Terrível filtro é esse que nos torna capaz de esquecer ou ignorar a única verdade que jaz sobre nossas cabeças: inventamos a felicidade como inventamos Deus e o amor. Inventamos a felicidade como se pudéssemos nos entupir de serotonina para nos satisfazermos.

Que seja então a conspiração dos rostos invisíveis, todos cobertos de sorrisos de fazer doer a bochecha. Que assumamos a máscara para que ela nos deixe em paz com nossos pensamentos realmente humanos e sãos. Conclamo aos que também querem derrubar essa farsa, aos que, como eu, cansaram de vestir felicidades de borracha, de ferro, de fibra de vidro, de papel. Está criada a Sociedade Secreta da Tristeza, onde os bravos não tem de se esconder, onde os felizes hipócritas serão humilhados, onde não somos obrigados a engolir essa felicidade fabricada e esculpida em ansiolíticos e anti-depressivos e comerciais de TV e sentimentos piegas.

O que te faz feliz? Você pode ver através disso? Pode ver através do que te prende e do que pinta o branco da máscara sobre sua face real? Ainda lembra-se de sua face real, ou ainda tem medo de um dia acender a luz e vê-la refletida no espelho? Pois vamos sorrateiramente tirar esta careta de seu rosto e esperar você acordar e ir por conta própria ao encontro de seu verdadeiro e triste semblante. E por seus olhos verás a bile e o venoso de seu corpo e entenderá do que você é feito.

E isso será só o começo.

See Ya