28.1.09

Veja o sol dessa manhã tão cinza

Hoje acordei sentindo inveja do Renato Russo. Inveja das idéias que teve, da vida que levou, da vida que acabou. Sou grande fã de suas letras, mas nunca conheci muito bem a figura em si. Sei que era um gênio, sei que não se encaixava em lugar nenhum nesse mundo. Sei que morreu aos 36 tendo vivido muito mais que muitos velhos de 90 anos.

Hoje acordei com essa inveja, e não por vontade de ter sido Renato Russo, não por ter tido suas idéias. Em muitas coisas fomos e somos parecidos, ou pelo menos eu gosto de pensar que assim é. Eu também sei que não me encaixo, muitas vezes, no mundo que me cerca. Eu sei que tenho tentado mais do que normalemente consideraria prudente me encaixar em certos padrões. E sei o quanto isso dói.

Talvez eu não vá morrer aos 36 anos de idade e talvez minhas idéias nunca cheguem a se espalhar tanto quanto às de Renato Russo. Eu sei, é tudo tão sem sentido, que chego até a rir da minha própria inteligência, tão cuidada e lustrada por mim e tão inútil, tão insipiente. Gosto de pensar que dividia essa mesma inteligência com Renato Russo.

E por que inveja, então? Acho que é porque ele foi corajoso. Teve coragem de viver o que viveu, de sentir o que sentiu, de morrer ainda jovem e fazer a falta que faz e sempre fará. Ainda lembro julgá-lo corajoso quando o DJ parou a música na pista do Madame Satã, em 96, e deu a notícia de sua morte, tocando Tempo Perdido logo a seguir.

Teve a coragem que eu não tive e nunca terei. Teve coragem de ser ele mesmo acima de todas as coisas. E eu também faço questão de ser eu mesmo, mas nunca poderei dizer "acima de todas as coisas", porque isso é mais difícil do que parece e mais caro do que eu um dia pude imaginar.

Obrigado, Renato Russo, por já ter me ajudado tantas vezes me sentir tão extraordinariamente sujo e distante. Por ter me ajudado a conduzir meus pensamentos e iras e raivas e medos e lutas de forma resoluta e acreditando que não posso fazer nada melhor pra mim mesmo do que cultivar minha inteligência crítica, chata e ranzinza, e me fazer consciente e firme dos meus próprios defeitos e erros. Sem isso, eu seria apenas mais um. Nada de mais.

See ya

PS: acima de todas as coisas, somente uma coisa eu posso dizer.