22.12.05

Essa noite derramei minhas lágrimas em seu nome

Em meio a muitos graus de febre eu acordei chorando. Um choro socado, aos trancos, agudo, agoniante. Por trás de meus olhos fechados e molhados eu pensava nela. Sentia saudades dela. Minha mãe. Minha mãe por muitos anos. A mulher mais forte que já conheci, a mais desperta, a mais lúcida. Alguém de quem guardo as melhores recordações, alguém que me deu colo e abrigo quando nem parte da minha família concordava com os meu caminhos. Muita gente não concordava. Essa noite derramei minhas lágrimas em seu nome.

Eu caminhei. Devagar, do meu jeito. Mesmo quando não concordava ela fechou os olhos e me apoiou. Amou-me como a um filho de verdade. Foi minha mãe de verdade. Eu venci, Valquíria. Não tudo, não cheguei onde eu queria, mas eu cresci. Eu estou aqui, de pé, diante do mundo. Orgulhoso por mim e orgulhoso por você, e muitos outros, claro. Mas essa noite derramei minhas lágrimas em seu nome.

Parte dessa vitória foi consumida pela amargura. Por querer acreditar num mundo onde eu sou mais forte, onde uma doença não pode destruir meus nervos, minha saúde. Onde talvez essa doença nem existisse. Eu sei que no fundo não é culpa minha, nem sua, nem de ninguém. Não escolhemos certas coisas. Mas eu queria que tudo tivesse sido diferente. Todos queriam que fosse diferente. Mas essa noite derramei minhas lágrimas em seu nome.

Quando eu fui embora, naquele dia maluco, eu te disse que não queria que fosse assim, que não queria me sentir daquele jeito. Que gostaria de mudar meus sentimentos. Você, claro, me entendeu. E me abraçou, como você sempre abraça. Daquele jeito de mãe, muito forte, como querendo me esmagar. Irônico ver que antes de eu morar com você não haviam tantos abraços e beijos na sua casa. Abraços passaram a nunca faltar em sua família. Mas essa noite derramei minhas lágrimas em seu nome.

Eu sei que ainda posso passar na sua casa e te abraçar no Natal, no Ano Novo, quando eu quiser. Mas ainda é muito difícil. Às vezes eu evito seus olhos de ternura, pois sinto que falhei com você. Falhei com um monte de pessoas. Mas essa noite derramei minhas lágrimas em seu nome.

Na noite de Natal, como em todas as outras, a dor vai passar mais um pouco, e vai levar com ela mais um pouco da minha vida. Queria depositar essa vida em você. Forte, mãe, heroína. Muita força pra você dona Val. Toda força que seu filho não teve, e nunca vai ter. Na noite de Natal estarei com você, no pensamento mais feliz e sincero que você tiver. Pensarei em muitas pessoas. Mas essa noite derramei minhas lágrimas em seu nome.

Eu te amo. Feliz Natal, feliz 2006.

See Ya