21.6.05

Hermanos, pero no mucho

E isso é um elogio. Aliás, confesso que fico até com medo de fazer um post elogiando argentinos, mas vamos nessa -- e aproveito para já adiantar que estas são as percepções de um turista, em períodos de poucos dias, absolutamente pessoais e sem intenção de análise sociológica, "pelamordedeus"!

É que no feriado de Corpus Christi fui novamente passar alguns dias em Buenos Aires e curtir um outono típico, daqueles com folhas douradas caindo das árvores, sol gostoso e brisa idem. A viagem, como de costume, foi ótima. E Bs As definitivamente se incluiu para mim na categoria de cidade do coração, como Parati, daquelas a que você vai não para fazer turismo, mas para sentir-se bem e em casa, só que fora de casa.

Desta vez, talvez em função das idéias que compartilhei no post anterior, acabei vendo outras questões do lugar além da sua beleza. Realmente é a cidade mais européia que conheço aqui pelo nosso lado do mundo, mas isso não é só devido à arquitetura ou ao clima. É, sobretudo, pela postura das pessoas.

O maior insight sobre isso veio em uma noite de sábado. Havíamos saído para jantar e estávamos procurando algum restaurante freqüentado pelos portenhos, e não "para turista ver". Caminhando pela cidade -- minha atividade favorita lá --, chegamos à Avenida Corrientes, coalhada de teatros, cafés e livrarias, que estavam todos fervilhando de gente dos mais diversos estilos. E estou falando de teatros. Muitos. Livrarias. Também muitas. Cheios. Em um sábado à noite!

Dá para perceber a diferença? E não é só. Motoristas em geral, inclusive taxistas, param antes da faixa de pedestre. Até de madrugada. E sabe por que? Porque existem pedestres. A qualquer hora e de qualquer idade.

Aliás, outro dado interessante: Buenos Aires é cheia de velhos. Muitos velhos e muito velhos. Andando pelas ruas, freqüentando os cafés, tomando seu vinho e, como a imensa maioria, fumando seu cigarro. Quase todos sem aquele olhar de medo que vemos aqui ou de resignação que encontramos em cidades menores.

As pichações nos muros e portas de banheiros falam sobretudo de questões políticas (inclusive porque a ditadura deles foi ainda mais cruel que a nossa) e não "É Nóis Zona Sul". Os carros são, na maioria, mais velhos. E ninguém parece estar nem aí para isso. Já as praças são muitas. E sem grades. No lugar da epidemia de celulares, "locutorios" para todo lado. E várias outras coisinhas que nos mostram, ali no país ao lado, um jeito bem diferente de enxergar o mundo.

Não vou negar que vários argentinos claramente não gostam de nós, brasileiros. Nem que outros tantos se achem superiores a tudo e a todos. E que os motoristas buzinem demais e os taxistas dirijam como se estivessem no Paris-Dakar. Mas o mais legal é testemunhar que existem outras formas possíveis de se viver a urbanidade do lado de baixo do equador...

PS: Apesar disso tudo, longe de mim abandonar a rivalidade: amanhã estarei no Morumbi torcendo contra o River Plate :-)