12.10.05

O Velho Chico e eu

Outro assunto que está em voga é o rio São Francisco. Mais especificamente o projeto de transposição, que ganhou espaço na imprensa com a já terminada greve de fome do bispo Luiz Flávio Cappio. Só que cansei do "samba de uma nota só" da política, então vou falar de uma experiência bem pessoal.

Há coisa de um mês, depois de um período particularmente cansativo, fui com minha namorada passar algum tempo em Maceió e arredores. Desde que saí de São Paulo, meu único compromisso (ou idéia fixa, diria ela heheh) era ir até a foz do São Francisco, recomendação de um amigo que conhece bem minhas preferências.

Depois de alguns passeios bem legais, decidimos ir até lá. Só que naquele dia foram tantas as paradas em lugares maravilhosos ao longo do caminho que acabamos chegando tarde demais -- o que não nos impediu de ver e registrar um belo pôr-do-sol na bela cidade histórica de Penedo e ficar com vontade de voltar.

Voltamos dois dias depois, em uma quinta-feira de manhã. O dia estava lindo e logo pegamos o barco na cidadezinha de Piaçabuçu (uma das locações do filme "Deus é Brasileiro") com destino à foz. Definitivamente algo mágico: sem dúvida um dos lugares mais incríveis em que eu já estive! O sol, o céu, as dunas, o farol dentro d'água, o mar de um lado, o rio do outro... Simplesmente indescritível.

Devo acrescentar que para boa parte de nós, mineiros, o Velho Chico tem um significado todo especial, meio místico. É lá, mais especificamente na Serra da Canastra, que ele nasce e vai "subindo" até a divisa de Alagoas com Sergipe. Além disso, antes de eu nascer meus avós moraram em Pirapora, no norte do estado, com o São Francisco praticamente "no quintal", e contavam histórias muito pitorescas sobre o lugar.

(Aproveitando para uma daquelas pausas: sabe a expressão "boi de piranha"? Pois é, era prática na região de Pirapora naquela época. Basicamente o boi de piranha era o exemplar menos saudável ou mais velho do rebanho, que era levemente ferido e colocado na água para seu sangue atrair os peixes, enquanto os demais eram levados para o outro lado do rio. Tá vendo? Blog também é cultura!)

Bem, o fato é que foi um momento absolutamente único, daqueles que ficam tatuados na alma. Não era nenhuma data especial e poderia ter sido qualquer outra. Mas não foi. Foi quando eu experimentei uma das mais significativas conexões que já tive com a natureza (Alberto Caeiro se orgulharia). Naquela quinta-feira eu nadei no rio São Francisco. E o Velho Chico me recebeu, me aceitou e me purificou.

PS: Para contribuir com a magia da coisa, eu estava acompanhado de alguém que não só participa e participou de uma grande e importante etapa da minha história, como também compartilha comigo boa parte da "mineiridade". Obrigado, Bia!