15.11.05

Ininterrupto

Montes de coisas amontoadas nos decrépitos cantos escuros da minha mente. Projetos pra tocar, coisas para aprender, disciplinas pra estudar. Na boca, o gosto insistente do aspartame, de alguma bebida light que comprei por engano, na correria.

Você já se sentiu como se todos os seus neurônios estivessem trabalhando simultaneamente? Uma espécie de Rua 25 de março mental, com direito a pancadaria entre camelôs e policiais? Tem dias em que eu rezo pra encontrar minhas teclas Ctrl+Alt_Del. Sim, há dias em que eu rezo.

Idéias ininterruptas fluem da minha cabeça, como numa ejaculação neural. E a maior parte das idéias acabam como meus espermatozóides inocentes: mortos. Bom no caso das células sexuais. Péssimo no caso das idéias. Eu povoaria universos inteiros com meu esperma cortical, mas eles acabam mortos e enterrados nessa capa emborrachada que permeia nossa realidade e a que damos o nome de sobrevivência.

Não preciso de quase tudo que tenho. Não tenho quase nada de que preciso. Um pouco exagerado isso, mas foda-se. Ninguém sabe ao certo o que está numa lista e o que está em outra. Eu também não haveria de saber.

Não sou livre, ainda. Talvez nunca seja, e morra pobre e incompreendido. Mas isso daria um bom fim pra história de um gênio extemporâneo, e isso não combina comigo. Não sou gênio, e muito menos extemporâneo. Minhas idéias poderiam me tornar um, mas as estou matando num "cídio" qualquer. Terminar a faculdade, comprar um carro, ser mais responsável, ganhar mais dinheiro. Se me virem na rua carregando um celular e usando um iPod da moda, por favor, me ignorem. Mas saibam que perdi e que vendi minhas idéias por ninharia e penhorei minha carcaça pra parecer bem sucedido.

Mas ainda não! Por hora sento-me na minha cela, juntos dos outros internos. Eles também não entendem, mas pelo menos não fazem perguntas imbecis.

See Ya