15.8.05

Lições tácitas

Não liguei, dei presente ou sequer vi minha mãe no dia das mães, ou meu pai ontem, no dia dos pais. Houve, sim, um tempo em que eu diria que não fiz nada disso porque não mereciam. Certas vezes isso foi verdade para um, para outro, ou para ambos. Eu não consigo dissociar a condição de eles serem humanos do fato de serem meus progenitores. Contudo, nem de longe este seria o motivo dessa vez. Tampouco seria minha forte opinião anti-natalista que me faria odiar pessoas que tiveram filhos, mesmo que o ingrato e desnaturado seja eu mesmo.

Meus pais me deram, quando casados ou depois de separados, algo que nem mil telefonemas de seus respectivos dias poderiam pagar: eles me ensinaram que carinho, presente, amor, cuidado, não tem dia, não tem que ter motivo e não tem de ser obrigatório. E nunca me ensinaram isso com palavras direcionadas a isso, o que é ainda mais interessante.

Eu aprendi isso ganhando presentes sem aniversário, natal, ou qualquer motivo. Eu aprendi isso quando as demonstrações de afeto não vieram na forma de presentes, ou comida, mas quando vieram de forma direta, com conversas, afagos e carinhos. Eu aprendi isso com pequenas coisas que eles me ensinaram, e que me mostraram que um beijo, um sorriso, um telefonema podem fazer alguma diferença. Eu aprendi isso quando eles me ensinaram que nenhuma dessas lições acima seriam válidas se eu fizesse algo por obrigação. Todas as vezes em que eu quis demonstrar afeto para com eles ou com qualquer outra pessoa, eu demonstrei. Eles me ensinaram a não parametrizar o que eu sentia por datas ou qualquer outro motivo. E sem dizer uma única palavra sobre o assunto me ensinaram como pedir e dar colo sem forçar a barra, sem me anular, sendo sempre, e apenas, eu mesmo.

Eu fui um bom aluno, e vocês, grandes professores. Hoje eu não preciso de dias especiais para ligar pra vocês e perguntar como estão as coisas, pra dizer que amo vocês dois demais. Hoje eu sei que vocês mandariam prender o impostor se passando por mim que ligasse no seu dia e combinasse um almoço especial.

Que carinho nunca seja um artigo raro na vida de vocês dois. Que os tapas e socos e chutes que a vida dá em vocês nunca os deixem esquecer que vocês acertaram em cheio ao me ensinar algo tão importante, que seria algo tão difícil de achar hoje em dia: gostar e expressar esse sentimento com espontaneidade.

Obrigado, dois, mais uma vez.

See Ya