1.4.05

Mesmas palavras

Um (bom) escritor ou poeta deve admitir quando perdeu. Quando sonhou a vida inteira com uma idéia que na mente de outro foi nascer e em telas alheias foi surgir. Não é vergonha admitir, vez por outra, que as palavras tão desejadas por mim foram imortalizadas na escrita de outro. Enfim, tem vezes que nada do que você poderia dizer é tão bem dito (e bendito) quanto na boca alheia. Com vocês, Nana Caymmi.

[UPDATE] Na verdade esta música é de Aldir Blanc e Cristóvão Bastos.

Resposta ao tempo

Batidas na porta da frente - é o Tempo.
Eu bebo um pouquinho pra ter argumento.
Mas fico sem jeito, calado e Ele ri.
Ele zomba do quanto eu chorei
porque sabe passar e eu não sei.

Num dia azul de verão, eu sinto o vento.
Há folhas no meu coração, é o Tempo.
Recordo um amor que perdi e Ele ri.
Diz que somos iguais, se eu notei
pois não sabe ficar e eu também não sei.

Ele gira em volta de mim,
sussurra que afasta os caminhos,
que amores terminam no escuro, sozinhos.

Eu respondo que Ele aprisiona e eu liberto.
Que Ele adormece as paixões e eu desperto.

E o Tempo se rói com inveja de mim,
me vigia querendo aprender
como eu morro de amor pra tentar reviver.

No fundo é uma eterna criança,
que não soube amadurecer.
Eu posso e Ele não vai poder me esquecer.


Eu perdi. Todos ganhamos.

See Ya