28.3.05

Eu sou estúpido. Mesmo.

E o que é pior, sei disso. Já até tentei ser diferente e fazer diferente, mas não consegui. Fiquei me sentindo meio estranho, sujo, sei lá. Coisa de gente estúpida.

Sou um daqueles idiotas, anacrônicos, ridículos, bobões, ingênuos, babacas, paspalhos, otários ou o nome que você queira chamar que fazem aquelas coisas igualmente estúpidas, do tipo:
* dar seta ao fazer curva
* diminuir a velocidade no farol amarelo (correndo o risco de uma colisão traseira)
* parar antes da faixa de pedestre
* não parar em fila dupla
* respeitar a ordem das filas em geral (até a do show do Linkin Park, né, Fá?)
* pagar todos os impostos -- e em dia!
* respeitar a vaga de deficientes no supermercado (sendo que, por ironia, várias dessas vezes estou com uma amiga no carro que teria direito a ela)
* cumprir prazos
* acreditar na palavra alheia
* tentar cumprir com a própria palavra
* e por aí vai

Acontece que eu estou acompanhando uma troca de mensagens sobre a tal carteirinha de estudante que dá desconto em cinema, teatro, shows e baladas do gênero. E as mensagens versam detalhadamente sobre como conseguir a carteirinha com documentos falsificados. Inclusive mostrando como é fácil -- quase institucionalizado, eu diria -- fazer isso.

Aí quem perpetra atitudes desse calibre normalmente vem com aquelas justificativas rasas dizendo que é uma maneira de "lutar contra o abuso do preço desses lugares"; ou de "punir o governo pelos serviços que não oferece"; ou de "não ser passado para trás pelos espertões"; ou de seguir a famosa/infame Lei de Gérson e coisas que tais.

Seguindo este raciocínio, no limite eu poderia entrar em alguma dessas lojas sofisticadas aqui de Moema e levar algumas mercadorias que me interessassem -- afinal, é o modo que eu teria de "lutar contra a má distribuição de renda deste país". É o princípio que era tão caro a Getulio Vargas: "Aos amigos, tudo. Aos inimigos, a Lei". Ou, trocando em miúdos, pimenta no dos outros...

Ah, e a cerejinha desse bolo: uma das pessoas envolvidas nessa história é a mesma que, há algumas semanas, escreveu mensagens conclamando os participantes da lista a combater a roubalheira da Câmara dos Deputados, protagonizada por aquela aberração política chamada Severino Cavalcanti e tendo por coadjuvantes vários colegas dele.

Deixa eu entender: conceitualmente, qual é a diferença? Os dois são, na essência, estelionato. Um é estelionato eleitoral; o outro, estelionato puro e simples. "Art. 171 - Obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo alguém em erro, mediante artifício, ardil, ou qualquer outro meio fraudulento."

É claro que não faço tudo certinho o tempo todo (que é o velho argumento usado por quem não olha para as próprias vísceras). Mesmo porque isso já seria estupidez patológica. Ou mentira. Mas pelo menos procuro manter um mínimo de coerência.

E sabe o que é mais ferrado nisso tudo? É saber que você faz parte de uma espécie em franca extinção. A estupidez grassa cada vez mais nesse mundo, mas essa espécie específica parece fadada ao desaparecimento. Burrice de quem não consegue ou não quer mudar. Só o que fazem é confirmar sua estupidez... Esses que se f***!

PS: Só para constar, o lugar em que trabalho faz a carteirinha. E não falsifica.