Nada
Talvez o nada te descreva, ou seja só uma forma de ficar bêbado sem sentir o gosto do álcool na boca. É difícil brincar de polícia e ladrão com armas de verdade.
Você não sente mais, mas não se importa. Porque se importar seria sentir demais, e você não sente mais nada. Lembra da sensação, lembra do ritmo e de como era fácil apontar para o culpado e atirar. Mas agora o culpado é você e não há balas na agulha.
Culpe o sistema e culpe seu chefe. Culpe sua mãe e culpe seus filhos. Culpe sua esposa e culpe aquela vagabunda do escritório que você gostaria de comer. Culpe o dinheiro e culpe o governo Lula. Culpe Deus e culpe a sua idade. Mas você alimenta o inimigo quando almoça. Olha-o nos olhos quando se encontra no espelho.
Ser você mesmo ficou caro demais, e se vender ficou muito mais barato. É um mercado em ascensão e você tem budgets otimistas. Você valoriza sua alma vendida porque esqueceu o que sua mente pensaria sobre você. A opinião do outro é mais importante agora. Você se anulou e diz que nada mais rende como antes. É matemática: zero vezes qualquer número ainda é zero.
Reaja, seu bosta! Vai acabar, se já não está, com aquela arma sem balas apontada para a própria cabeça. Um gesto tão significativo quanto acenar para um astronauta boiando no espaço. E quando apertar o gatilho e nada acontecer, mais uma vez o nada te definirá. Volte ao topo e recomece a leitura, só pare quando tiver algo no cano e um alvo melhor que sua cabeça vazia para apontar.
See Ya