26.5.04

Ivan Assunção ou A solução

Nunca me dei muito bem com política. Não é questão de ser politizado ou não. Eu leio sobre os meandros políticos do país do futuro e do resto do mundo. Às vezes eu até entendo algumas coisas. Mas a questão é que eu não gosto mesmo de política. Me sinto ludibriado sempre que ouço falar em política. Se eu já não tenho muita fé nessa espécie lazarenta que é a nossa, menos ainda tenho em nossos representantes governamentais.

Entretanto, mesmo não sendo apreciador desta duvidosa e carcamana arte, sei muito bem reconhecer um momento político marcante. Sei perceber quando as estrelas de nossa bandeira assistem a uma verdadeira demonstração da democracia. Sei antever a chegada de um arauto das massas ao poder.

Hoje, eu conheci Ivan.

Eu estava numa praça, em frente ao meu local de trabalho, protegendo-me da chuva sob algumas árvores, quando uma figura desceu fazendo barulho e balbúrdia de dentro do ônibus. O ônibus nem mesmo estava no ponto, havia apenas parado num semáforo que tem ali na esquina, mas o rapaz vestindo roupas surradas, uma jaqueta marrom e uma calça "dins", desceu. Ele carregava algumas sacolas e algumas caixas mantidas presas sob seu braço, além de um chapéu de caubói, daquele feitos de plástico branco duro (distribuidos durante a copa de 2002). Fora toda esta parafernália ele segurava com a outra mão, acima de sua cabeça, mas não para protegê-lo da chuva, uma placa feita de papelão, que ele usava para mostrar alguma coisa que eu não podia ver para os carros que vinham logo atrás do ônibus em que estivera.

Ele gritava palavras incompreensíveis, devido ao barulho, e vagava por entre os carros em movimento, passando de uma faixa a outra entre intervalos de buzinadas e xingamentos. Mas permanecia íntegro. Começou a subir a rua de costas, ainda exibindo sua placa improvisada para os carros. Subiu o suficiente para que eu pudesse ler a inscrição "Ivan Vereador" escrita no papelão com giz comum, desses escolares, colorido.

Logo eu também passei a ouvir o que ele gritava. "Esse sou eu". "Ivaaaaaaaaan!!!". A certo ponto não soube dizer se ele gritava "Ivan Assunção" ou "Ivan, a solução", ou alguma outra expressão. Mas o fato é que havia verdade política ali. cansado de sofre sob o mesmo céu todos os dias, o bravo Ivan se mexeu e agora, em plena execução de seu direito civil de se tornar candidato a um cargo público, não mais parecia que um louco sob a chuva, segurando um cartaz de papelão.

Corajoso, eu diria. Enfrentaria este Policarpo Quaresma da nova era todos as dificuldades para se tornar um representante do povo? E se enfrentasse, sucumbiria ele a uma loucura maior do que andar sob a chuva pra fazer campanha, que é tentar mudar alguma coisa em solo tupiniquim? Ivan está lá fora agora, acreditando, talvez, que possa um dia resolver alguma coisa. Ou talvez esteja apenas bêbado e sonolento depois de ter chorado a incompetência e indeferença de nossos representantes até agora.

Boa sorte, Ivan. E te desejo muito mais sorte caso um dia você realmente vença. Espero que você goste mais de soluções do que de política. Que você aprecie mais governar do que fazer campanha. Precisamos de muitos Ivans assim nos representando, pois vivemos numa democracia. E aqui, o governo é do povo, mas a política, não.

See Ya