20.11.05

Quando dois elefantes brigam, quem sofre é a grama

No sábado assisti a Vlado - 30 anos depois, filme com roteiro e direção de João Batista de Andrade, cineasta brasileiro "das antigas" que foi amigo próximo de Vladimir Herzog, jornalista sobre cuja morte nas mãos de oficiais do 2º Exército fala o filme.

O filme começa muito bem, provando o que há muito eu já sabia: ninguém sabe ao certo quem foi Vladimir Herzog. Parando pessoas em frente a Catedral da Sé e perguntando quem era Vlado, muitas foram as respostas como: "Não faço nem idéia", e umas poucas vozes disseram, tímidas: "Foi um jornalista morto pela ditadura".

Estranhamente, depois de ver o filme eu percebi que eu tampouco sabia que fora o jornalista.

Herzog nasceu na Iugoslávia mas veio para o Brasil com apenas 5 anos de idade. Sempre tece uma vida de classe média alta e sempre foi apaixonado por TV e cinema. Quando a ditadura se instaurou no Brasil ele ficou um ano em Londres fazendo um curso de produção para a TV na BBC. Enquanto isso, muitos outros brasileiros usavam parcas economias e dinheiro dos comunistas para visitarem Cuba e outros lugares, onde recebiam treinamento de guerilha, para combater o regime militar.

O filme felizmente não tenta fazer de Herzog mais do que ele realmente foi: um riquinho pseudo-engajado que nunca quis mudar as coisas realmente no país, mas que gostaria de uma imprensa mais aberta e informativa, capaz de mostrar com mais clareza a real situação brasileira nessa época (se você é mesmo capaz de comemorar o tricampeonato de futebol do Brasil, clique aqui e faça sua matrícula). Acabou morrendo como um bode expiatório no meio de uma briga entre duas facções governamentais.

Pouco antes de passar pela tortura que o levaria a morte, declarou a dois amigos que aquilo tudo era um grande engano, que ele não sabia de nada do que estava acontecendo e que não era sequer comunista, mesmo sendo filiado ao PCB.

Eu nunca fui preso ou torturado e certamente nunca passei pelo medo com que essas pessoas se depararam. Mas uma gíria bem atual definiria magnanimamente Herzog e muitos dos seus amigos da TV Cultura: paga-pau. Exatamente isso. Herzog foi um covarde que era completamente alienado da situação e acreditava, como seus amigos de classe média, que fazer documentários sobre pescadores da Guanabara ou levar ao ar matérias comedidas que eram censuradas pelo regime iria resolver alguma coisa.

Foi só mais um tonto que só virou notícia por conta de sua morte. Não tivesse sido torturado pelos filhos da puta do regime militar, ele teria ficado confortavelmente em sua cadeira na TV Cultura, ou se acomodado completamente na realidade neoliberal de hoje, escrevendo colunas infantis em revistas e jornais sem visão e escopo, como muitos de seus colegas da época.

Como praticamente todos que morreram naquela época nas mãos do regime, Herzog morreu em vão. Contudo, seria pelo menos mais coerente com o mundo em que ele vivia se tivesse realmente subvertido o sistema e dado motivo pra cada choque, soco e paulada que tivesse levado em seus últimos momentos. Viveu uma vida pequeno-burguesa, se escondendo atrás de temas que hoje fazem gozar os intelectualóides das salas de cinema alternativo de São Paulo. Trabalhou dentro do governo e submeteu-se a dança do bate-assopra que Brasília utilizava.

De certa forma, Herzog realmente se matou. Viveu como um covarde. Por isso valeu mais morto do que vivo.

See Ya

PS: um fulano qualquer, dentre os entrevistados no centro de São Paulo, disse que seria bom se a ditadura voltasse. Nihil novi sub sole.

17.11.05

Tá ridículo, mas funciona!!

Há muito desisti de brincar de designer. Especialmente depois de começar a trampar ao lado de designers de verdade. Estou dizendo isso porque a lista ali no topo da página está ótima, em conteúdo. Mas se alguém se oferecer pra fazer um layout legal pra essa tabela sem graça, eu agradeço.

Mas é isso mesmo: ali estão diversos blogs que eu recomendo. Certamente esqueci muitos, mas depois eu vou adicionando. E logo devem surgir os links do meu companheiro de cafofo digital.

Bom passeio!

See Ya

15.11.05

Ininterrupto

Montes de coisas amontoadas nos decrépitos cantos escuros da minha mente. Projetos pra tocar, coisas para aprender, disciplinas pra estudar. Na boca, o gosto insistente do aspartame, de alguma bebida light que comprei por engano, na correria.

Você já se sentiu como se todos os seus neurônios estivessem trabalhando simultaneamente? Uma espécie de Rua 25 de março mental, com direito a pancadaria entre camelôs e policiais? Tem dias em que eu rezo pra encontrar minhas teclas Ctrl+Alt_Del. Sim, há dias em que eu rezo.

Idéias ininterruptas fluem da minha cabeça, como numa ejaculação neural. E a maior parte das idéias acabam como meus espermatozóides inocentes: mortos. Bom no caso das células sexuais. Péssimo no caso das idéias. Eu povoaria universos inteiros com meu esperma cortical, mas eles acabam mortos e enterrados nessa capa emborrachada que permeia nossa realidade e a que damos o nome de sobrevivência.

Não preciso de quase tudo que tenho. Não tenho quase nada de que preciso. Um pouco exagerado isso, mas foda-se. Ninguém sabe ao certo o que está numa lista e o que está em outra. Eu também não haveria de saber.

Não sou livre, ainda. Talvez nunca seja, e morra pobre e incompreendido. Mas isso daria um bom fim pra história de um gênio extemporâneo, e isso não combina comigo. Não sou gênio, e muito menos extemporâneo. Minhas idéias poderiam me tornar um, mas as estou matando num "cídio" qualquer. Terminar a faculdade, comprar um carro, ser mais responsável, ganhar mais dinheiro. Se me virem na rua carregando um celular e usando um iPod da moda, por favor, me ignorem. Mas saibam que perdi e que vendi minhas idéias por ninharia e penhorei minha carcaça pra parecer bem sucedido.

Mas ainda não! Por hora sento-me na minha cela, juntos dos outros internos. Eles também não entendem, mas pelo menos não fazem perguntas imbecis.

See Ya