7.9.09

O que ressuscita o poeta?

O que ressuscita o poeta, doutor?
De um acaso, de uma morte, um estupor.
E não seria só assim, um terror.
Mas sentir o corpo gelar, sem vida, sem calor.

Depois sentir como brisa, um vapor,
A invadir as carnes, trazer rubor,
O levantar de um botão, uma flor,
Que socorrida por um simples regador.

Levantar e escrever, com furor,
A luxúria, a raiva, o sabor,
Como de um leão ser o matador,
Digo a ti o que sinto, meu senhor.

Que poderia ser o ódio, o rancor,
O estremecer da alma pela dor,
Mas de tudo, seja como for,
O que ressuscita o poeta, é o amor.

See ya

3.9.09

O inverso de dois

O inverso de dois é meio.
Meio estranho, como cutucar a ferida antes da casquinha se formar.
Meio como calar na hora de dizer, e dizer, na hora de calar.
Meio maluco, como uma lista de coisas para se fazer antes de morrer.
Meio que acreditar em alienígenas voando sobre nossas cabeças.
Meio-dia e essa dor não passa.
Meio do caminho entre te odiar e te querer.
Meio desacreditado, infeliz.
Meio do caminho, e a pedra.
Meio de chegar a uma solução de um problema np-completo.
Meio da rua, sem ter onde ficar, nem lá, nem cá.
Meio com medo e eu sempre tenho medo.
Meio da chuva, dizendo seu nome.
Meio amarelo.
Meio litro de lágrimas num balde.
O inverso de dois é meio.
E sendo meio, eu nunca sou um, inteiro.

See ya

1.9.09

Aos anos

Aos anos, gentis, eu saúdo,
Pelo presente que trouxeram pra mim,
Um amor que de pequeno, miúdo,
Tornou-se grande, delicioso, sem fim.

Aos anos, que mudaram nosso amor,
Que frente ao tempo parecia não passar,
E contudo quando ao seu lado, ó calor,
Paradoxo - passava a correr, a voar.

Não há paixão assim, que me recorde,
E lutar por ela é querido clamor,
Pois desse sonho não haverá o que me acorde.

Se houve e ainda haverá algum sofrimento,
Por ti tenho e darei todo o meu amor,
Aos anos brindo e serei o teu alento.