23.5.05

O que herdamos de Guarapari?

Eu não tenho muito o que dizer sobre o assunto. O que dizer de alguém que realmente acredita que o RPG é capaz de transformar jovens em assassinos? É mais fácil encontrar culpados do que resolver problemas. Apontar o dedo pro RPG, pros filmes, pro futebol, pro fanatismo religioso, pro heavy metal, pro Marylin Manson e dizer que estes são os culpados por termos um mundo mais violento é fácil demais. Descobrir os reais motivos e tentar evitar as reais causas da violência é muito complicado: uma espécie de Navalha de Occam distorcida.

Navalha distorcida que políticos como este insistem em perpretar.

Felizmente também encontrei esta e esta referências, trazendo um mínimo de luz ao que significa e representa o RPG e sua falsa relação com os crimes em Guarapari.

Acabei deixando também um pequeno texto no mural de recados do deputado Reginaldo Almeida, do PSC de Espírito Santo, que é o autor da cega lei que vai tentar proibir a comercialização de jogos eletrônicos e RPGs de mesa. Segue abaixo o meu recadinho pra ele, que até o momento da publicação deste post, estava aguardando aprovação para ir ao ar no site dele. Duvido que vá, pois ao que parece eles só liberam comentário favoráveis ao deputado. Clique aqui para ver o mural.

Acredito que seu projeto contra os jogos eletrônicos e RPGs seja completamente cego no que concerne aos benefícios que os mesmos podem trazer. Eu jogo RPG há 12 anos e apenas através do RPG aprendi a ler, escrever e falar inglês fluentemente, mantenho um grupo de amigos unidos há 12 anos e desenvolvi habilidades muito consistentes para trabalhar em grupo, liderar e tomar decisões.

É típico de políticos preguiçosos essa lei, que ao invés de tentar detectar qual o real problema por trás das ditas "influências", resolve "nivelar por baixo" e tentar evitar o acesso a todos benefícios que jogos eletrônicos e RPGs de mesa podem trazer.

Você deve saber que existem projetos de alfabetização de adultos e ensino de 2º grau em história e física usando sessões de RPG. Você deve saber que existem cursos de aperfeiçoamento técnico utilizando jogos eletrônicos. Você deve saber que em áreas metropolitanas onde jogos cooperativos foram inseridos na educação regular, houve queda de até 70% na criminalidade infanto-juvenil. Se você sabe de tudo isso e ainda tenta barrar a utilização destes jogos, desconfio de suas reais intenções para com o ensino e desenvolvimento dos nossos jovens.

Até mais.


Espero, sinceramente, que o projeto de lei caia por terra e seja descartado. Espero que os culpados pelos crimes sejam condenados. Espero que o advogado que decidiu incluir o RPG nessa história nunca mais consiga dormir, e sua consciência (?) pese mais do que todos os livros de RPG juntos.

See Ya

13.5.05

Ao vento

Hoje acordei com um gosto amargo na boca e fiquei imaginando se o amargo também ficou bravo por ter acordado com minha boca sobre ele. Versações nonsense a 340 bpm. Divago enquanto procuro abrigo nas sombras do meu cérebro e a racionalidade espreita, armando uma tocaia da qual nunca consigo escapar.

Comunicação instantânea, corpos esteticamente perfeitos, vida orientada a resultados, robôs que se multiplicam e eu só queria encontrar o dia de hoje no calendário. Só queria encontrar esse dia pra saber se na minha agenda está anotado, como compromisso: "não pensar". E aí serei feliz e obediente como uma ovelha irlandesa.

Ratoeiras dispostas sobre a mesa. Não há isca preparada. Eu escolho de bom grado qual delas vai estalar e esmagar os meus pensamentos. Sem recompensa. Sem consequência. Sem ou com sequência? Sensequência? Aquiescência. Aqui é a essência. E o vazio se estende por intermináveis planícies brancas, onde a razão continua esperando, sabendo que, mesmo sem querer, vou atravessar as distâncias e cair em sua armadilha.

Voltar a pensar é como tomar fôlego depois de muitas horas debaixo d'água. É uma gana. É um alívio e é também o desespero, pois você lembra que uma vez que voltou a respirar, terá de respirar pra sempre. Pode até afundar de novo no macio, azul e confortável oceano do irracional, mas sabe que não aguentará muito tempo. Nessa hora invejo os boçais felizes e os autistas.

Porque eu questionei pela primeira vez? Porque aceitei a fagulha da inquietação? É ópio. É vício e de repente tudo que restou foi o desespero por outro teco. Há quem escolha cocaína. Eu escolhi o pensamento. Podia ter sido um casamento. Ou ter me internado num convento. A fissura pelo embelezamento. Mas minha escolha foi ser como areia atirada ao vento.

See Ya

12.5.05

Folheando

Fiquei com saudade do meu outro blog, já falecido há algum tempo.

Casa Branca e Capitólio são evacuados nos EUA

Delicioso ver os descerebrados da StupidLand evacuarem prédios, soarem alarmes, esconderem políticos em bunkers anti-atômicos, anti armas biológicas, anti-islâmicos, secretos e subterrâneos. É engraçado ver que eles tem medo de uma bomba estourar e no invólucro da ogiva estar escrito Made in USA. É hilário ver que eles se levam a sério e realmente acham que são um povo abençoados por Deus.

Sugiro a todos os leitores do Quando Isso Virar um Blog que consigam um endereço qualquer em New York ou Washington, depois coloquem uma mistura de açucar e talco num envelope e mandem para a América. Sugiro também que vocês encontrem telefones de prédios americanos (especialmente em Wall Street) e liguem faznedo sotaque árabe e denunciando a presença de uma bomba nas instalações. E quando estiverem desembarcando naquele país de gente idiota, comentem com o rapaz da alfândega: "olha, eu não sei porque, mas vi um dos passageiros entregando uma arma par aa aeromoça".

Isso é o terror. Os terroristas (islâmicos, curdos ou os próprios americanos) são completamente fanáticos, o que os faz tão ou mais idiotas que o país que odeiam. Por outro lado, suas ações abriram portas que a consciência americana não consegue fechar e com as quais o medo deles não consegue conviver. E digo: isso tudo é por justo merecimento. Não desejo a morte de qualquer civil americano (contanto que este não ocupe o Capitólio ou a Casa Branca), mas desejo que eles sejam os maiores consumidores de fraldas geriátricas do mundo, se cagando toda vez que um pneu estourar na Quinta Avenida.

See Ya

PS: eu não odeio os americanos e nem acho todos eles idiotas. Muitos são inteligentíssimos e grandes contribuintes na causa Anti-Bush e do panorama cultural diversificado que temos hoje em dia. O que é difícil de aturar é o americano médio.

11.5.05

Jack Undercall

Estranho como ultimamente só tenho tido inspiração de escrever quando estou triste ou chateado com algo. E não pensem vocês que o fato de eu estar longe daqui há quase um mês e meio significa que não tenho me encontrado muito neste estado. O problema todo é que invariavelmente neste estado eu sempre me encontro totalmente sem vontade de escrever.

E de forma nenhuma isso significa sem idéias.

Isso já havia acontecido antes em minha vida. No meio da minha adolescência criei um personagem chamado Jack Undercall, ou Jackal (inglês para Chacal), como preferia ser chamado. Independente de cenário, pois eu escrevi sobre ele na América do fim do século XIX e também em histórias futurísticas de ficção científica, Jack era um cara inescrupuloso, frio, determinado e definitivamente sarcástico. E eu ficava surpreso ao perceber que somente quando estava muito puto, com muita raiva ou muito triste é que Jack se libertava das minhas entranhas cerebrais e ganhava as páginas de meus tantos cadernos de rascunho.

Jack morreu. Pelo menos naquelas páginas. Nunca mais escrevi sobre ele. Nunca mais deixei que ele matasse alguém friamente ou enganasse ou humilhasse alguém. Alguns psicólogos viriam babando pra dizer que aquilo era parte da minha personalidade se formando e que Jack era a liberação de impulsos reprimidos por sensações e sentimentos ruins. Continuem babando, eu tenho outra teoria.

Jack Undercall era, na verdade, o futuro. Ele se apresentou pra mim antes do tempo e certamente adivinhou muito do que vemos por aí. Hoje ser sarcástico é cool, é engraçado. Humor negro é quase somente o que sobrou depois que todas as piadas ficaram velhas. Talvez seja o nada sutil surrealismo que nos envolve nos dias de hoje. Talvez seja o vazio e o descaso que tomou conta da maioria dos medíocres que pisam nestas terras de ninguém. Talvez seja só a percepção confirmada de que o ser humano pode ser, e é, seu pior inimigo. Talvez eu só esteja num dia ruim e nada disso seja verdade.

Verdade ou não, acredito que Jack sabia o que estava fazendo. Ele era o inconsciente coletivo se apresentando diante dos meus olhos. Tivesse prestado mais atenção a ele, talvez hoje eu tivesse uns milhões a mais no bolso e pudesse não enxergar nada disso.

Tenho a nítida impressão de que este texto ainda não acabou. Por outro lado, tenho certeza de que minha vontade de escrevê-lo já se foi há tempos. Jack venceu. Ele sempre vence.

See Ya