28.6.03

Happy Fucking Birthday

788.400.000 segundos. Vinte e cinco anos. Houve um tempo em que essa era toda a vida que se tinha. Muitos jovens poetas retrataram isso, enquanto morriam cedo, devido a tuberculose, ou à cirrose avançada, graças a uma vida de boemia presos a um mundo que não podiam suportar e de onde a única, e breve, saída era a bebida.

Todo ano, quando meu aniversário se aproxima eu penso especialmente na minha morte. "Nossa, que assunto mórbido para se utilizar num post de aniversário, uma data tão feliz". Talvez alguns de vocês tenham pensado isso. Se pensaram, melhor continuarem a ler para ver que este post versa sobre um assunto muito mais importante que a morte. Este post trafega em outros campos, menos mórbidos e mais urgentes. Menos fatalistas e mais desconcertantes. Hoje eu vim aqui pra falar que não basta atravessar esta porra de vida como um espectro que finge se enamorar pelas atividades dos vivos. É preciso realmente viver.

E você acha que o que você tem é vida? Você acha que sentado aí, atrás de uma mesa de escritório no Yázigi você está vivo? Acha que enchendo o rabo de dinheiro você está vivo? Acha que casando e tendo filhos você está vivo? Acha que tendo um emprego que você gosta você está vivendo? Tendo móveis de luxo? Morando sozinho? Publicando um blog? Trepando 15 vezes por semana? Espero que vocês não achem isso.

Estar vivo é saber, mas saber mesmo, que a cada minuto você tem pelo menos 60 chances de deixar de existir. De acabar. E não usar isso pra se tornar um ser mórbido que acha que viver é se esfregar em paredes no Madame Satã. Ou se voltar para um pastor ou padre que tem as mesmas dúvidas que você, mas que finge ter as respostas, e depositar nele ou numa figura estúpida pendurada numa cruz, a esperança de que tudo vai ficar bem. Para viver você precisa acreditar em você, acima de tudo. E não adianta correr para os braços do Lair Ribeiro, pois auto-ajuda não é um bote salva-vidas. Não se entupa de ler livros de admistração do tempo, da felicidade, do ócio, da puta que o pariu.

Entupa-se de você mesmo. Aprenda a perceber cada limite do seu corpo, da sua mente, da sua alma. Entenda que o grande milagre aqui é você mesmo. Que ninguém vai te conhecer melhor do que você mesmo, se você assim o desejar. Pare de se esconder atrás do seu cargo, do seu marido, do seu dinheiro, da Bíblia, do seu chefe. Faça por você e faça você mesmo. Eu já joguei muito tempo fora, e de uns anos pra cá eu tenho percebido o quanto isso já faz falta. Tente imaginar o quanto vai fazer quando você tiver 50, 70 anos.

Uma vez o Jan me perguntou como eu conseguia levantar todos os dias sem acreditar que a vida tem um sentido, que a morte era o fim e ponto final. Vou dizer o que respondi pra ele nesse dia: "Jan, vai se foder. Me deixa dormir em paz!" Hehehehehe. Não foi muito profundo, eu concordo. Mas pensei uns minutos e depois disse que na verdade o fato de que tudo vai acabar pra mim, cedo ou tarde, é que fazia eu me mover. Eu, diferente de vocês que acreditam em reencarnação, só tenho uma chance, uma vez. Não vou poder voltar para aprender mais e evoluir meu espírito. O que tenho que fazer, tenho que fazer agora. Tenho que viver agora.

E foi assim que 25 anos se passaram diante dos meus olhos. Eu que já achei quase tudo aquilo ali acima, que já me esfreguei em muita parede, que já perdi pessoas muito queridas pra sempre. Foram bons, na verdade ótimos, 25 anos, nos quais eu já fiz muita besteira, já errei muito, já fiz muitas amizades que sei que são pra sempre, já conheci a pessoa ao lado de quem quero me deitar em meu sono eterno, mas acima de tudo, já acreditei completamente em mim, já me entreguei completamente a esta insanidade coletiva que chamamos de vida. Não me arrependo nenhum pouco. E só espero que os anos, ou dias, ou minutos que estão a minha frente sejam propícios para que eu me entregua ainda mais. Feliz aniversário, Fabricio.

See Ya

PS: este post eu dedico a todas as pessoas que se importaram em me parabenizar, fossem atrasados, adiantados, por telefone, fax, e-mail, ICQ ou até pessoalmente. Fico realmente lisonjeado por todas as palavras de carinho que recebi e quero dizer que considero demais todos vocês. Com alguns eu já briguei muito, com outros eu causei muita decepção e mágoa, e com outros ainda eu nem tive tempo de conviver, pois são amizades tão novas e já tão apuradas. Em especial quero agradecer à Elaine (por ser a pessoa especial, de um modo todo especial que ela é, me aceitando totalmente maluco como eu sou), ao Jan (que é o mais sábio entre os Estúpidos), aos meus mais do que amados amigos do Yázigi (que tanto se preocupam comigo e me apoiam), ao meu pai (pelo bonito post sobre meu aniversário no blog dele), a minha mãe (que tem um carinho todo diferente, e me apoia em absolutamente tudo que eu decida fazer de bom pra mim) e ao JP (um cara muito esquisito, mas que eu soube que era meu irmão logo de início).

27.6.03

Pretensas, pretensoes sem acento


Oi pessoal,
Aqui nao é o Fabricio! Esse post esta sendo feito pela Elaine (a namorada dele).
Hoje, quero dizer, ontem foi aniversario de 25 anos do Fa. Ele pretendia postar aqui sobre isso, sobre como ficou feliz ao constatar que muitas das pessoas que ele considera muito lembraram dessa data e além disso confirmaram a presença na comemoraçao que ocorrera sabado.
O fato é que sao mais de 03:30 da manha e o Fabricio esta dormindo. O sono e o cansaço dessa vez foram mais forte que a pretensao de postar dele, alias, pretensoes de realizar algo nao faltam nas nossas vidas, minha e do Fa, mas é como eu sempre digo: "A gente faz o possivel e o impossivel, mas milagre so de vez em quando."
Bem, os leitores mais assiduos podem perceber que o Fabricio vem praticando alguns milagres ja que ele posta so de vez em quando. No entanto, vim aqui deixar registrado algumas das pretensoes do Fabricio para esse blog:

*terminar a historia dos grilos. Por favor não riam é serio!

*Fazer um post sobre seu aniversario, amigos, festa, etc.

*Escrever sobre a sua morte. (Coisas de Fabricio)

*Falar sobre os varios filmes que tem visto e atualizar o menu ao lado.

* Falar também sobre os livros que tem lido e novamente atualizar o menu ao lado.

*Mudar o template do quando isso...

Quando tudo isso vai ser feito?
Em se tratando de milagre...so Deus sabe. Mas a vontade existe meus caros, a vontade existe.
Bom, desculpem-me pela talvez decepçao ao constatar que apesar de haver um post novo aqui ele nao foi feito pelo dono desse blog, nao tinha nem de longe a intençao de escrevê-lo tao bem como o Fabricio o faz. Ah! Desculpe-me também Fa, se eu escrevi aqui algo que nao era para os seus leitores ja saberem.
Abaixo (na assinatura) vocês irao ler que esse post foi feito pelo Fa, mas nao foi, é que ele alterou o nao sei la o quê do html do template, peerl, java, script, php do xml...iiiiii...eu sei la nao entendo "bustrega" nenhuma dessas coisas...
Quanto a acentuaçao do texto? Eu tive que escreve-lo sem ela pois o blogger ta com problemas e esse texto iria ficar impossivel de ser lido apos a ediçao; provavelmente se fosse o Fabricio ele ja teria dado um jeito nisso tambem.
Enfim, fiz o que pude espero ter pelo menos tampado alguns buracos e tirado algumas teias desse blog.
Prazer em conhece-los, podem me chamar pelo nick de Elacoelha.
Bjs.
Elacoelha

22.6.03

Quando isso virar um blog

"Vou fechar as portas do Quando Isso, encerrar atividades, parar de escrever um blog".

Foi exatamente este o pensamento que me ocorreu quando sentei para escrever este post. Exatamente este. E fiquei por minutos matutando esta idéia. Como matar meu post, sem causar impacto na minha vida e sem chatear meus poucos, mas ainda fiéis leitores?

"Eram três da tarde. Minha respiração ofegante criava pequenas nuvens de vapor, que se dissipavam diante da minha própria boca. Eu estava dentro do carro, ainda imaginando como faria para atravessar a rua e entrar naquela casa e executar meu alvo. O trabalho era sujo, mas alguém tinh de fazê-lo, e infelizmente a pessoa mais indicada era eu mesmo."

Bom, eu simplesmente poderia escrever um post avisando a todos os leitores que não escreveria mais. Mas certamente eu ficaria por horas pensando num post bom pra encerrar as atividades. Falaria sobre as angústias de deixar um trabalho inacabado, ou não enfrentar este desafio. E isso eu não queria.

"Entrar na casa foi fácil, e mais simples ainda foi encontrar o quarto, onde estava meu alvo, sentado diante do computador. Segurei firme o cabo da faca que estava em meu bolso. Tinha que acabar logo com isso, antes que eu começasse a pensar em todos os momentos que ele não havia vivído. Tudo que não tinha escrito e todas as opiniões que não tinha ouvido sobre seu trabalho. Enfim, começasse a pensar em tudo que minha vítima não tinha terminado em sua vida. E isso eu não queria."

Eu poderia fazer uma figura, bem bonitinha, com um plaquinha pendurada e balançando, com os dizeres: blog desativado. Ou melhor, fodam-se todos. Simplesmente não vou mais escrever. Desapareço, não respondo aos e-mails e aos comentários reclamando ou apoiando o fim disso.

"Eu poderia amarrá-lo primeiro, e ir decepando cada membro. Bem devagar, vendo o sangue escorrer e encher e pintar e manchar todas as paredes desse quarto. Ou então... que se dane, vou enfiar logo essa faca até o cabo no peito desse paspalho e deixar ele aí. Jogado. Quando a polícia chegar só vai ter um bloco frio e desengonçado de carne para recolher. Avancei sobre ele. Tirei a faca do bolso. Mas alguém entrava no quarto e eu precisei pular e me esconder atrás de uma porta. Droga."

Porra, eu gosto dessa merda de blog. É um lixo muito grande perto de blogs maravilhosos que eu leio. Mas eu adoro esse lugar. E enfim, foi o trabalho e todas as tarefas malucas da vida que me impediram de escrever mais. Eu tenho estado sem tempo pra porra nenhuma. Nem pra mim. E já vi isso acontecer antes e sei a merda que deu. Eu não quero, e não vou, deixar a falta de tempo pra mim mesmo estragar tudo de novo.

"Fiquei espreitando. Parado, sem emitir um som ou sequer respirar. Um senhor entrou no quarto. Bem vestido: terno marrom, cabelos coloridos de uma série de cores, livro de RPG embaixo do braço. No rosto, a expressão e as feições de muitos amigos de minha vítima. Amigos que não via há tempos. No coração as mágoas de relacionamentos deixados à margem da vida por ondas de trabalho e estresse. O homem parou às costas da MINHA vítima e puxou um relógio. O tempo ali corria freneticamente e preso a ele estava uma bomba. E eu ali, deixaria que outra pessoa matasse minha vítima? Nem fodendo."

Quando isso virar um blog eu acabo com essa porra, destruo o blog, mato, enterro e rezo missa de sétimo dia. Mas quando eu quiser, e com propriedade. E não deixando que o tempo simplesmente o tome de mim assim como já tomou outras tantas coisas. Obviamente eu vou demorar pra escrever às vezes. Isso pode deixar meus leitores chateados. Eu posso perder público. E não digo foda-se. Eu também estou aqui pelo público. Quando isso virar um blog, acaba. Mas ainda não virou.

"Atraquei-me com o misterioso invasor. Ele era muito forte, e começou a usar contra mim tudo que tinha roubado de minha vítima. O tempo do relógio se apressava cada vez mais, mas eu não deixaria outro terminar meu trabalho. De jeito nenhum. Puxei a faca e não descansei enquanto não vi a lâmina desaparecer dentro do invasor. Enfim, ele cedeu, e o relógio finalmente voltou ao seu passo normal. Levantei-me do chão e decidi sair do quarto. Minha vítima ainda veria muitas coisas. Mas eu estava no comando a não a matara por vontade própria. Não tive piedade. Tive uma crise de consciência. E sei como elas acabam."

De fato é difícil manter um blog, mas... ahhhh, quem foi que disse que as coisas por aqui são fáceis. Então ele fica. Pra felicidade de poucos e continuando indiferente para a maioria. E agora que ele passou e continua vivo eu quero falar um pouco sobre a morte. Não a dele, mas a minha. Eu volto logo.

See Ya

12.6.03

Uma rapidinha

Primeiro uma afirmação que eu li hoje, no Ócio Criativo, do Domenico de Masi (não... não é o Blog do Domenico de Masi.. é um livro!!!), e gostei muito:

Todos os homens, de todos os tempos, e ainda os de hoje, dividem-se entre escravos e livres, porque quem não dispõe de dois terços do próprio dia é um escravo, não importa o que seja de resto: homem de Estado, comerciante, funcionário público ou estudioso. - Friedrich Niestzsche

Eu NÃO disponho de dois terços do meu dia. É foda.. somos todos escravos!!!!

E, segundo: esqueci de avisar que eu fui convidado pra escrever num outro blog!!!! É isso mesmo.. Fabricio em nova embalagem!!! Vão lá ler! AGORA!!!! O blog é do Luiz Mizukami, um cara super gente boa que criou o Wear Sunscreen para dar dicas de diversão cultural em Sampa e também para iniciar discussões e debates. Por sinal, ele já começou uma discussão muito boa, sobre fama. Ser famoso, querer ser famoso, etc...

Várias pessoas vão escrever por lá, como eu, e vamos levantar vários temas. Vale a pena conferir.

Bom, sobre o nome do blog dele, Wear Sunscreen, eu só vou dizer uma coisa: se você tem o Kazaa, procure vídeos pelas palavras-chave wear sunscreen. E assistam. Uma obra de arte. Muito bom. Aí mais pra frente eu coloco um post sobre isso aqui. E claro, quem não tiver saco de procurar no Kazaa, e tiver o SoulSeek, me adicione na sua lista de usuário (username: guyinthedarkness) e mande uma mensagem que eu libero pra baixar. Contudo, se você não entendeu patavinas deste parágrafo, escreva um e-mail pra mim e eu explico melhor, ou desenho um esquema no Photoshop e te mando. Se você não sabe NEM o que é Photoshop, desencana. Melhor nem ver o vídeo!! =)

Taí a rapidinha. Pode voltar pro tronco agora, escravo!!

See Ya

7.6.03

Baseado em fatos reais

Ainda hoje, lendo o Rendam-se Terráqueos! do Doutor Gori, descobri que o Doutor foi assaltado mais uma vez. Infelizmente isso não representa mais nada nos dias atuais. Nenhum alarde. Talvez um pouco mais de frisson e uma pequena nota no jornal do bairro se ele tivesse sido friamente assassinado, o que felizmente não aconteceu. As vítimas diretas do assalto foram apenas alguns documentos, um DiscMan e algum dinhero. Ahh, e a sociedade, claro.

Digo isso pois o próprio Doutor levantou a hipótese de os assaltantes venderem o DiscMan para conseguir dinheiro para consumirem drogas. O péssimo e velho baseado, ou algumas graminhas (se tanto) de cocaína, ou ainda uma ínfima pedrinha de crack. Whatever.

Os filhos da puta que efetuaram o roubo, além do crime em si, estão contribuindo para que mais droga seja vendida e portanto que o mercado do tráfico aumente. O foda é ainda ter que aguentar um babaca contradizendo o assunto e dizendo que "isso é uma caricatura simplista que serve aos interesses dos que armaram essa sociedade violenta e dela se beneficiam. As coisas são mais complexas e assustadoras do que isso". Coisa que me tira do sério é burrice!!

É claro que as coisas são bem mais complexas do que isso!! Sempre são. Ninguém mais paranóico do que eu para acreditar nisso. Mas daí a dizer que não faz diferença e se dizer "pró-drogas" e ainda encobrir com rótulos feitos como "pró-liberdade individual" é um grande passo. Liberdade individual de cú é rola!!



Eu realmente acredito que pessoas que usam drogas estão fodendo bem mais do que seus próprios cérebros, pulmões e vidas. Estão fazendo peso em uma balança já completamente desequilibrada para o lado do tráfico. A grande maioria dos usuários são pessoas que tem dinheiro e cultura para enxergar um pouco mais adiante e perceber que o problema não acaba na fumaça ou na corrente sanguínea ou no pulmão do imbecil do usuário. Ele prossegue e atinge "os peixes pequenos", que fazem uso do tráfico por causa de uma situação social bem conhecida de todo mundo.

Se você está preocupado em acabar com os manipuladores do sistema, muito bem, tome atitudes que te ajude a acabar com este ciclo de controle. Mas pense que você pode evitar muito sofrimento e dar chance a muito mais gente "pequena" se estes não morrerem nas mãos do tráfico. Nossa sociedade tem o péssimo hábito de não acreditar no indivíduo.

Se você usa alguma droga, pense melhor no que está fazendo. Não com você (isso sim é Liberdade Individual: quer se matar, foda-se). Mas com o moleque de recados dos traficantes, com as mães e pais pobres espalhados pelos grandes centros, com os pobres coitados dos chefes do tráfico que têm no crime sua maneira de vida e são apoiados por pessoas ricas e muito mais culpadas do que eles. E tente não pensar tão linearmente. Não é um fio reto que liga o seu baseado à violência e ao tráfico. Esse fio dá muitas voltas. Mas o consumo é um dos nós mais importantes.

A porção dominada da nossa sociedade tende a pender pro lado do consumo, ainda utilizando máscaras prontas que os "inocenta" das consequências de seus atos, ou para o lado que compra toda a idéia pronta e não pára pra pensar no que está vendo ou ouvindo. Então façam um favor a si mesmos: reflitam sobre as campanhas do governo (em como são impactantes de propósito e quase ineficazes), sobre o problema real da violência e do tráfico e deixem de vestir branco e ir a passeatas pela paz. Comecem a tomar atitudes que façam a diferença. Óbvio que não vou ficar listando aqui atitudes rotuladas de certas e erradas. Quem tiver as próprias idéias me escreva para que possamos debater mais sobre isso.

See Ya

PS: sinto muito pelo texto confuso e mal escrito. Depois de 8 horas de trabalho seguidas fica difícil escrever bem!

6.6.03

Prospectiva e realidade

Na época das eleições para presidente da república, no ano passado, um e-mail andou circulando por todo canto, contendo o que seria uma "engraçada" prospectiva dos fatos que ocorreriam caso Lula fosse eleito presidente do Brasil. Correta ou não, esta prospectiva levou um amigo meu a guardar esta mensagem, e de acordo com a passagem do primeiro semestre de 2003 ele foi, em uma lista de discussão, publicando os fatos reais e os comparando aos da prospectiva. Publico agora a versão completa, incluindo todas as datas citadas no tal e-mail.

Marcelo Barros (o supracitado amigo) é uma pessoa que considero bastante culta e politizada. Ele trabalha com educação há vários anos, especialmente voltado para a língua inglesa e é especializado em desenho instrucional. Enfim, eu não ia colocar aqui o texto e a opinião de qualquer Zé Mané. Portanto podem ler, que o texto é bom.

Só para orientar: os textos da prospectiva começam com "P:". Os textos em negrito e iniciados por "R:" (de Realidade) são os trechos comparativos do Marcelo. Datas são datas!!

10 de janeiro
P: Lula assume com o dólar a R$ 4,20. Nomeia um bom economista ortodoxo para o BC, mas coloca o "brilhante" Mercadante na Fazenda.

R: Lula assume no dia 1º com o dólar a R$ 3,52. Nomeia Henrique Meirelles, ex-presidente mundial do BankBoston, para o BC, e coloca o médico Antonio Palocci na Fazenda. A "prima donna" que é o mercado reage bem.


15 de janeiro
P: Diante da política fiscal equivocada implementada por Mercadante, o presidente do BC renuncia. O dólar vai a R$ 5,5 e a inflação dispara.

R: Palocci mantém as bases da política fiscal do governo anterior e convoca a sociedade para discutir uma reforma tributária, que viria junto às reformas política e da Previdência. O dólar cai a R$ 3,29 e a FIPE observa tendência de queda da inflação.


30 de janeiro
P: Os radicais do partido juntam-se ao PSTU e o MST e rompem com o partido. A base de apoio no congresso se esfarela. A família Sarney, o PTB e o PL começam a cobrar cada vez mais caro pelo apoio.

R: Os radicais do PT têm sua voz nas decisões do governo, apesar das eventuais e esperadas dissonâncias (notadamente a posição da senadora Heloisa Helena quanto à nomeação de Meirelles para a presidência do BC). A base de apoio no congresso começa a se consolidar, especialmente devido à indicação do deputado petista João Paulo para a presidência da câmara e do senador e ex-presidente José Sarney para a presidência do Senado -- abrindo caminho para uma possível composição com o PMDB.


15 de fevereiro
P: O dólar bate em R$ 6. Os sindicatos começam a pressionar por indexação salarial, já que a inflação atingiu 30% em termos anuais.

R: O dólar fecha a sexta-feira, dia 14, valendo R$ 3,66. Este é o valor mais alto do ano -- pressionado, sobretudo, pela ameça de guerra do oligofrênico que preside os Estados Unidos. A Central Sindical aventa a possibilidade de um "gatilho salarial", imediatamente rechaçada pelo governo, pela oposição (?) e pelas demais organizações sindicais. Os bancos prevêem uma inflação anual de 9,6% a 12% em 2003. A de janeiro foi 2,35% (IPCA), refletindo parte dos reajustes de combustíveis, telefonia móvel, energia elétrica e mensalidades escolares. A FIPE prevê queda nos índices para os próximos meses.


01 de março
P: Mercadante renuncia após Lula ceder aos radicais e decretar uma indexação semestral dos salários. Como conseqüência o dólar atinge R$ 6,5. O risco Brasil a esta altura está em 4000 pontos. A moratória é só uma questão de tempo.O FMI se nega a manter o acordo.

R: O ministro da fazenda continua sendo Antonio Palocci -- que foi passar o carnaval em Salvador no camarote do ministro da cultura, Gilberto Gil. Não há sequer cogitação sobre indexação de salários. O dólar fechou a última sexta-feira, dia 28/02/2003, cotado a R$ 3,55 (baixa na semana de 1,24%). O risco-Brasil está em 1.182 pontos, que é o nível de junho do ano passado. Não há risco de moratória e os acordos com o FMI permanecem como acertados.


15 de março
P: O governo centraliza o câmbio. O fluxo de capitais externos para o país seca totalmente. O Brasil não tem mais um centavo de crédito no exterior. O dólar é fixado em R$ 7 no oficial, mas no black já alcança R$ 10.

R: O governo mantém a política de câmbio que herdou da administração anterior. O fluxo de capitais externos para o país aumenta, com a valorização dos C-bonds (principais títulos brasileiros no exterior) e a captação de US$ 250 milhões pelo Banco Safra na sexta-feira. O dólar cai 1.86% na semana e fecha cotado a R$ 3,43 -- mesmo apesar da iminente guerra ilegítima de Mr. Bush, Jr.


01 de abril
P: Os detentores da dívida interna já não aceitam rolar um título sequer. Diante disso, o governo decide promover uma reestruturação da dívida. A
poupança de todos nos é trocada por títulos de 20 anos que são negociados no mercado por 15% do valor de face.

R: A dívida interna está, na realidade, um pouco menor do que no governo FHC (NN% vs NN%) e não há nenhuma intenção de promover uma reestruturação. As regras da poupança permanecem as mesmas, inclusive com a garantia do governo de até R$ 20.000,00 por CPF em cada instituição financeira.

Só para acrescentar, o dólar comercial fechou em queda hoje, atingindo pelo terceiro dia seguido o valor mais baixo desde 16 de janeiro, e encerrou o dia vendido por R$ 3,315 (compra a R$ 3,312) pela taxa do Banco Central, uma queda de 1,16% em relação ao fechamento do dia anterior.

Além disso, o risco-Brasil caiu 5,24%, cotado a 993 pontos. É a primeira vez que o risco do Brasil cai abaixo dos 1.000 pontos desde o dia 31 de maio do ano passado. Nas vésperas do segundo turno das eleições presidenciais brasileiras, o risco chegou a beirar os 2.500 pontos, passando a cair após as ações econômicas do governo Lula. Medido pelo banco J.P. Morgan com base nos títulos das dívidas dos países emergentes, a taxa de risco é o principal termômetro para medir a desconfiança dos investidores em relação a um país.



15 de abril
P: Começam os panelaços.

R: Panelaços???!!! Dólar: R$ 3,15. Risco-país: 884 pontos.


30 de abril
P: Filas quilométricas nas embaixadas para conseguir um visto. Lula põe a culpa de tudo em FHC e nos especuladores. O povo não quer saber.

R: Pelo jeito quem escreveu esse texto original era argentino -- eles têm um certo pendor para o êxodo. Não há nenhum movimento sensível de emigração (a não ser, talvez, em Governador Valadares). Dólar: R$ 2,91. Risco-país: 818 pontos.


15 de maio:
P: A situação é insustentável. o país está à beira do caos. Os poucos líderes da esquerda que permanecem fiéis a Lula culpam as "elites".
No Congresso começa a transitar uma emenda constitucional propondo o parlamentarismo.

R: A situação permanece tranqüila. Na política, a única oposição relevante que o governo enfrenta é dentro do próprio PT, dos chamados "radicais" do partido (especificamente a senadora Heloísa Helena e os deputados Babá e Luciana Genro). Na economia, o dólar fechou o dia a R$ 2,97 -- e isso porque subiu 2,66% sobre a última quarta-feira. O risco-país está em 813 pontos, após ter caído abaixo de 800 pontos.


01 de junho
P: Lula se mata. Em carta de despedida diz que o sonho dele era virar um mártir do Brasil e deseja que seja feita uma estátua igual ao do ROCK BALBOA na principal praça de São Bernardo do Campo. Dólar despenca para R$ 5.

R: O cara que escreveu isso devia estar viajando em ácido... Enfim, vamos lá: Afora uma bursite e o excesso de peso (que levou a uma dieta que já o fez perder 8 quilos) Lula está bem de saúde. O dólar não chegou sequer perto de R$ 5,00, fechando a sexta-feira em R$ 2,97.


02 de junho
P: No velório do LULA, com todos os petistas vermelhos chorando e exigindo que o último desejo do barbudo fosse realizado, um homem-bomba da Al-Qaeda detona uma bomba. Todos os petistas morrem. Dólar derrete para R$ 2,5.

R: O cara que escreveu isso deve ter algum problema com vermelho... Aliás, uma pergunta: "um homem-bomba detona uma bomba" não é uma redundância? Enfim, os petistas estão todos aí: os tradicionais; os de ocasião; os recém-convertidos; e os mais famosos hoje em dia: os radicais (estilo Heloísa Helena). O dólar fechou hoje a R$ 2,98.


E então? Gostaram? Aposto que os adeptos do Apocalipse Pós Eleição, que apostaram que Lula ia afundar o Brasil de uma vez, que achavam que os militares tomariam o poder não gostaram. Preferiam a versão prevista, e não a real. Obviamente os partidários do Maluf também não gostaram, mas esses eu não conto. Não incluo gente burra em minhas estatísticas.

See Ya

5.6.03

Doze dias

Doze dias sem postar. Doze intermináveis dias sem sequer expressar minhas idéias, dentro do blog ou fora dele.

Durante muito tempo tudo que eu escrevia e falava e pensava chegava a pouquíssimas pessoas. Eram poucas, normalmente as mesmas, e suspeitíssimas as pessoas que ouviam meu discurso. Pai, mãe, namorada, amigos próximos, professores (queridos ou não) eram os meus pacientes e atentos ouvintes. Não quero aqui desdenhar da atenção deles, que na verdade me incitaram a querer mais. Mais público, mais assunto, mais argumentos. Mais crítica ácida. Mas obviamente havia, e ainda há, certa suspeita nos comentários e opiniões deles, já que sempre fica aquela sensação de que querem me agradar.

De qualquer forma, eu terminei por seguir em frente. Fui fazer teatro. Fui jogar RPG. Fui escrever livros (que invariavelmente não ficavam prontos). Eu me acostumei a me expressar, a ter essa liberdade. A falar o que eu queria, quando e para quem eu quisesse.

Definitivamente isso me tornou um comunicador. Certamente minhas opiniões, meus argumentos, conhecimentos e habilidades de expressão foram, e ainda são, parcas, mas isso nunca me impediu de me comunicar, de me expressar, dizer o que sentia, vivia e entendia do mundo ao meu redor. Recentemente até iniciei uma discussão muito agradável com a Bárbara sobre a incomunicabilidade dos seres humanos, e acabei por aceitar que estamos todos representando monólogos. E por ter me tornado o comunicador que hoje, aqui, se mostra num blog qualquer, eu percebi que tenho como objetivo transformar monólogos em diálogos, quiça "trialogos", ou "multiálogos".

Dado este objetivo quase que natural e visceral que em mim se desenvolveu, vocês devem ser capazes de imaginar como me senti mal por estar impedido sequer de pensar ou escrever enquanto estive preso a um certo trabalho que tive de terminar com urgência e concentração e que me manteve afastado daqui e de outras tantas coisas durante estes doze dias.

Doze dias. Muito podia ter acontecido nesse tempo. Muito aconteceu. Outra guerra podia ter começado. O mundo poderia ter acabado (se é que já não acabou). A educação no Brasil podia ter melhorado. Um atentado terrorista poderia ter acontecido. Eu poderia ter morrido. Mas não morri. E agora eu voltei. Dessa vez pra ficar.

See Ya